NA MÍDIA – Especialistas veem atraso no Itaquerão como inevitável e criticam pressa

Será preciso ao menos um mês para levantar todos os danos provocados pela queda de um guindaste no Itaquerão, zona leste de São Paulo, nesta última quarta-feira. O acidente causou a morte de dois operários que trabalhavam no canteiro de obras. Segundo engenheiros ouvidos pelo UOL Esporte, o tempo é necessário para limpar a área do incidente, identificar suas causas e identificar o que pode ser consertado e o que precisa ser refeito.

Não há dúvidas de que a entrega do estádio acontecerá só no ano que vem, de acordo com os especialistas. Segundo eles, após um acidente deste tamanho não há motivos para ter pressa para terminar a obra. A pressão para cumprir um prazo apertado pode até ser um fator de risco para obras pesadas, como a construção de uma arena esportiva.

“A pressa não pode fazer o engenheiro pular etapas que devem ser seguidas, ainda mais para uma obra como essa”, afirma Alexandre Tomazeli, professor do curso de engenharia civil da Universidade Presbiteriana Mackenzie. “Não dá para ter pressa também no processo de verificação da estrutura depois do acidente. Uma boa verificação de projeto leva 30 dias no mínimo. E tem que ser feita por gente que conhece o assunto.”

Toda a área da arquibancada leste atingida pela queda do guindaste precisa passar por uma inspeção detalhada, segundo Tomazeli. “Tem que chamar uma empresa especializada em dano estrutural. É uma inspeção minuciosa que tem que ser feita. A estrutura que está ali na arquibancada não foi calculada para suportar um peso desses, de uma estrutura de tantas toneladas”, diz.

O presidente do Sinaenco (Sindicato da Arquitetura e Engenharia), José Roberto Bernasconi, lembra a demolição do Viaduto da Perimetral no Rio de Janeiro para exemplificar como o trabalho pode ser demorado. “O viaduto foi implodido e sumiu em cinco segundos, mas a limpeza dos escombros vai durar 90 dias.”

Embora ainda não saiba quantos meses a construtora Odebrecht levará para deixar o estádio nas mesmas condições em que estava antes do acidente, Bernasconi acredita que o atraso não comprometerá a abertura da Copa. “Ainda temos sete meses. Haverá tempo. Em abril de 2010, na África, alguns estádios ainda estavam em obras. Acho que isso não vai acontecer aqui.”

Investigação mostrará se houve imprudência
Especialistas acreditam que a apuração das causas do acidente pode concluir que, em algum momento, houve imprudência. “A engenharia é 8 ou 80. Não tem meio certo. Se o problema está na base do guindaste, com deslocamento do solo, significa que alguém errou na sondagem do terreno. Se o problema está no projeto, alguém calculou mal. Podem não ter usado os materiais corretos, é outro problema. Se houve comportamento anômalo, alguém deveria ter notado e determinado a paralisação da obra”, avalia o professor Tomazeli.

Presidente do Instituto de Engenharia, Camil Eid, pretende visitar o canteiro de obras nesta quinta-feira e colocar a estrutura da entidade à disposição dos engenheiros que trabalham na construção do estádio. “Agora é hora de apurar o que aconteceu”, diz Eid.

“O guindaste é um dos maiores do país, permite levantar cargas de até 1,5 mil toneladas e a carga que ele carregava era um terço disso. A colocação das outras 33 peças mostra que ele estava em ordem. Não dá para imaginar que equipamento não tivesse capacidade ou não houvesse equilíbrio para se trabalhar”, diz o engenheiro. 

Com um custo estimado de R$ 1 bilhão, o Itaquerão tinha previsão de entrega para dezembro e inauguração para janeiro. O estádio estava com 94% das obras concluídas. O Itaquerão será sede da partida de abertura da Copa do Mundo. O Brasil fará o jogo inicial do torneio, contra adversário não definido. Para ser a abertura do torneio, o Itaquerão teve que aumentar a sua capacidade para 69.160 lugares apenas para a Copa do Mundo.

Autor: UOL