Urbanistas apostam em revolução paisagística e cultural após derrubada da Perimetral

Mais do que uma mudança na paisagem, a derrubada do Elevado da Perimetral, cujo primeiro trecho foi ao chão na manhã de domingo, poderá significar uma revolução paisagística e cultural no Rio. É o que apostam urbanistas. O fim da barreira de concreto, de quase cinco quilômetros de extensão, vai integrar museus e centros culturais, resgatar cenários históricos da cidade, como o da Praça Quinze quando da chegada da Família Real Portuguesa, além de devolver a vista para a Baía de Guanabara que estava encoberta. À medida que as obras avancem e os escombros sejam retirados, um Rio novo vai emergir como se saído, em parte, de uma antiga fotografia. A Zona Portuária é uma das áreas mais remotas da cidade. 

Na lista dos que mais ganham com a derrubada do Elevado, é quase unanimidade a percepção de que a degradada Avenida Rodrigues Alves será a maior beneficiária da mudança. Os prédios construídos ali e sufocados pela proximidade do viaduto poderão ter de volta sua vista para a Baía. 

Ganham os moradores locais, assim como quem passará a circular por ali, a fazer caminhadas impensáveis numa área até então cinza, de grande circulação viária e sem atrativos. As calçadas da Rodrigues Alves voltarão a receber luz solar, e a proximidade com o mar, sem os entraves do pilares de sustentação do elevado, dará um certo clima de orla ao Porto. 

— Todo aquele trecho em que ficava a Perimetral é de baixa qualidade: escuro, confinado, um dos lugares mais feios da cidade. Agora vamos corrigir esse erro. A Rodrigues Alves ganha, ficará ensolarada e livre. Antes da construção da Perimetral, era um lugar lindo, eu tenho essa memória. 

Agora, poderá ser frequentada pelas pessoas que moram ali. Poderão chegar aos armazéns sem nenhum entrave. É uma nova Avenida Atlântica — aposta o arquiteto Flávio Ferreira, doutor em urbanismo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Autor: O Globo