Os caminhos da engenharia: a engenharia militar

Engenharia, segundo o Aurélio, é a arte de aplicar conhecimentos científicos e empíricos e certas habilitações específicas à criação de estruturas, dispositivos e processos que se utilizam para converter recursos naturais em formas adequadas ao atendimento das necessidades humanas.
Em outras palavras, a Engenharia consiste na aplicação de princípios científicos ou matemáticos com referência devida à economia, tecnologia, à sociedade e ao ambiente, obtidos através de observações, estudos, experiências e práticas, buscando identificar e compreender os obstáculos. Mediante a compreensão destes, são propostas as melhores soluções para confrontar as limitações encontradas. O resultado é o projeto, a produção, e a operação de objetos ou de processos úteis em beneficio da humanidade, atividades essas normalmente exercidas pelos Engenheiros.
A Engenharia Militar é o ramo da engenharia que dá apoio às atividades de combate dos exércitos dentro do sistema MCP (Mobilidade, Contra mobilidade e Proteção) construindo pontes, campos minados, estradas, etc. encarregando-se da destruição dessas mesmas facilidades do inimigo e aumentando o poder defensivo por meio de construção ou melhoramento de estruturas de defesa. Os engenheiros militares que têm por missão atuar em situações de combate são designados Sapadores ou Engenheiros de Combate. A Engenharia Militar se serve hoje praticamente de todos os ramos da ciência e engenharia no desenvolvimento tecnológico de novos materiais, equipamentos e logística que servem tanto a fins militares como a objetivos civis.

Primórdios da Engenharia Militar
A chamada Muralha da China, ou Grande Muralha, é uma impressionante estrutura de arquitetura militar construída durante a China Imperial.
A muralha começou a ser erguida por volta de 220 a.C. por determinação do primeiro imperador chinês, Qin Shihuang . Embora a Dinastia Qin (ou Ch'in) não tenha deixado relatos sobre as técnicas construtivas que empregou e nem sobre o número de trabalhadores envolvidos, sabe-se que a obra aproveitou uma série de fortificações construídas por reinos anteriores, sendo a estrutura dos muros constituída por grandes blocos de pedra, ligados por argamassa feita de barro. Com aproximadamente três mil quilômetros de extensão, a sua função era a de conter as constantes invasões dos povos ao Norte alcançando no seu final 8.850 km.
A primeira civilização a ter uma força especialmente dedicada à Engenharia Militar foi talvez a Romana, pois suas legiões possuíam um corpo de engenheiros conhecidos por “architecti” que possivelmente está na raiz das controvérsias sobre as funções de engenheiros e arquitetos que persistem até os dias atuais. As legiões romanas venceram gregos, cartagineses, gauleses, bretões, sírios, egípcios, lusitanos e hispânicos. Sua força ocupou dez mil quilômetros de fronteiras e saiu da Europa rumo à África e ao Oriente Médio. Suas maiores lições são copiadas, até hoje, pelos exércitos do mundo todo: disciplina, estratégia e treinamento continuado. A componente principal da legião romana era a infantaria pesada, formada por cerca de 4200 a 6000 soldados que lutavam a pé, armados com pilo e gládio (lança e espada), protegidos por uma “lorica segmentata” (armadura), um escudo retangular convexo e um capacete, sendo o mais utilizado no período, o modelo imperial gálico. Uma legião era dividida em centúrias (divisões com 80 a 100 legionários), comandadas pelos centuriões que eram identificados pelos elmos encimados por um penacho ou crista transversal e por um bastão de comando feito com um tronco de vide nodosa. Os decuriões formavam o segundo nível na hierarquia militar romana e cada decurião era responsável pelo controle de sua fileira em uma centúria romana. Duas centúrias formavam um manípulo. Cinco a oito centúrias formavam a coorte, geralmente comandada por um tribuno; seis a oito coortes formavam uma legião, comandada por um general. Faziam ainda parte da infantaria, as bandeiras coloridas que, no meio do caos, mostravam onde estava cada um dos grupos de soldados e seus centuriões.
A Engenharia Militar Romana tornou-se proeminente na expansão do Império Romano pela escala de certos dos seus feitos, tais como a construção de fortificações e muralhas com comprimentos superiores a 60 km em apenas algumas semanas, a construção de aquedutos, pontes e outras obras de engenharia. Este foi o caso da famosa Muralha de Adriano entre a Escócia e a Inglaterra, mandada construir pelo Imperador Adriano no ano de 122 d.c. dentro da sua política de consolidação e defesa das fronteiras da Bretanha (ocupada no século I d.C.), contra os ataques das aguerridas e belicosas tribos dos Pictos e Escotos que dominavam o Norte da ilha. Num filme sobre o rei Arthur e seus cavaleiros da Távola Redonda são narrados fatos referentes ao término da dominação romana na Bretanha por volta do século V d.C. e cenas passadas junto ao muro de Adriano cujas ruínas ainda hoje são visíveis nas vizinhanças de Edimburgo, na Escócia.
Com 120 km de comprimento, esta enorme obra foi concluída em 126 d.C. pelos próprios soldados, pois além de combater os invasores, cada “centúria” era encarregada de construir a sua parte do muro, forma utilizada pelo exército romano para manter suas tropas ocupadas e adestradas. As fundações eram ladeadas por um fosso (vallum) de 4 m de profundidade e os muros de pedra formavam um maciço de cerca de 5 m de altura e 2,5 m de largura sobre o qual havia 80 Castilhos munidos de torreões e fortins para o abrigo das sentinelas. Ladeando a mesma se estendia uma estrada militar para facilitar as comunicações e os transportes de víveres, armas e pessoal. Também ao longo do muro erguiam-se 17 fortalezas (a de Chesters em Northumberland, hoje em ruínas, era uma delas), o que completava o sistema de fortificação fronteiriça do Norte da Bretanha. A distância entre as rodas dos carros romanos identificada pelos sulcos existentes na entrada do forte em Housesteads, no muro de Adriano, serviu dois mil anos depois, de bitola-padrão, para as estradas de ferro britânicas. A bitola das ferrovias (distância entre os 2 trilhos) dos Estados Unidos é de 4 pés e 8,5 polegadas e ensejou um artigo jocoso que circula pela internet que reproduzimos a seguir:
Porque foi usado este número?
Porque era esta a bitola das estradas de ferro inglesas e, como as ferrovias americanas foram construídas pelos ingleses, essa foi a medida adotada.
Porque os ingleses usavam esta medida?
Porque as empresas inglesas que construíam os vagões eram as mesmas que construíam as carroças antes das estradas de ferro e utilizaram as mesmas bitolas das carroças.
Porque era usada a medida (4 pés e 8,5 polegadas) para as carroças?
Porque a distância entre as rodas das carroças deveria caber nas estradas antigas da Europa que tinham esta medida.
E porque tinham as estradas esta medida?
Porque estas estradas foram abertas pelo antigo império romano quando das suas conquistas, e estas medidas eram baseadas nos carros romanos puxados por 2 cavalos.
E porque as medidas dos carros romanos foram definidas assim?
Porque foram feitas para acomodar 2 traseiros de cavalo!
Finalmente…
O veículo espacial americano, o Space Shuttle, utilizava 2 tanques de combustível (SRB – Solid Rocket Booster) que eram fabricados pela Thiokol americana. Os engenheiros que projetaram estes tanques queriam fazê-los mais largos, porém, tinham a limitação dos túneis ferroviários por onde eles seriam transportados, que tinham as suas medidas baseadas na bitola da linha, que estava limitada ao tamanho das carroças inglesas que tinham a largura das estradas européias da época do Império Romano, que tinham a largura dos traseiros de 2 cavalos.
Conclusão: O exemplo mais avançado da engenharia mundial em design e tecnologia é baseado no tamanho do traseiro do cavalo romano!!!!

Arte, Arquitetura e Engenharia Romanas
(séc.V a.C. – séc.V d.C) 

A arte romana servia sobretudo a objetivos políticos e à autopromoção do Estado. Em sua essência permaneceu fiel às origens gregas e etruscas. A arquitetura e a engenharia romanas desenvolveram a basílica, as termas, o anfiteatro, o arco de triunfo, as vilas bem como, as pontes rodoviárias e os aquedutos, de formas típicas, com a utilização das abóbadas esféricas (etruscas) e do concreto ciclópico estruturado (só o paramento externo do muro era feito de alvenaria aparelhada ao passo que o seu espaço interior era preenchido com concreto ciclópico – uma mistura de argamassa de cimento (pozolana) e pedra de mão). 

Ponte de Gard – França , antigo aqueduto romano
Patrimônio da Humanidade – UNESCO 

Em épocas de paz os soldados do exército romano participavam juntamente com os civis da construção não só de estradas, mas também das muralhas das cidades, aquedutos, portos, canais de navegação, drenagem do terreno ou cultivo dos vinhedos. Em alguns casos raros os soldados eram utilizados em atividades do setor de mineração. 

Ponte de Trajano
A ponte de Trajano, foi construída entre os anos 103 a 105 d.C. , no baixo Danúbio, por ordem do imperador Trajano durante a campanha de conquista da Dácia. Era um posto avançado das tropas romanas e ligava as atuais cidades de Dobreta (Romênia) e Kladovo na Sérvia. Com 1.135 m de comprimento, altura livre sobre a água de 19 m e vão livre de passagem entre pilastras de 15 metros, estava localizada num sítio em o que o Danúbio apresenta uma largura de 800 metros e permaneceu durante mais de mil anos como a maior ponte existente no mundo. Seu engenheiro foi Apolodoro de Damasco que provavelmente utilizou arcos de madeira apoiados sobre vinte pilastras em alvenaria de tijolos, argamassa e pozolana com alturas de 45 metros, distanciadas entre si por 38 metros.

Renascimento

Leonardo
Leonardo Da Vinci, o gênio da Renascença, autor de obras primas da pintura entre as quais a Santa Ceia (Milão), a Virgem dos Rochedos (Louvre) e a famosíssima Gioconda (Louvre), foi também um notável estudioso das ciências e das artes, da anatomia, da física e da mecânica. Grande inventor de sua época, Leonardo da Vinci era um homem à frente de seu tempo. Seu interesse e criatividade em vários campos de estudo deram origem a invenções como: salva-vidas, paraquedas, bicicleta, máquina de calcular, a primeira máquina a vapor movida à energia solar, entre outras. Embora considerasse a guerra como a pior das atividades humanas dedicou-se também às artes militares e seus cadernos também contêm várias invenções e estudos: canhões com retroalimentação, um tanque blindado movimentado por humanos ou cavalos, bombas de agrupamento, um protótipo de metralhadora, pontes levadiças, fortalezas, máquinas de ataque e defesa, túneis e até um submarino. Em 1502, Leonardo recebeu do Duque Valentino – Cesare Borgia, filho do futuro papa Alexandre VI e supostamente modelo do livro “O Príncipe” de Maquiavel, o título de “Ingegnere Generale” das obras militares do ducado. Nesse mesmo ano fez o projeto de uma enorme ponte para o Sultão Beyazid II de Constantinopla que nunca foi executada, mas em 2001, uma versão menor, baseada no mesmo projeto de Da Vinci, foi construída na Noruega.
Fascinado pelo fenômeno de vôo, Da Vinci realizou detalhado estudo do vôo dos pássaros e planos para várias máquinas voadoras entre as quais um protótipo denominado Cisne Voador, que segundo especialistas é de 1510, um helicóptero movimentado por quatro homens e um planador cuja viabilidade técnica já foi comprovada. (O canal de TV NetGeo apresenta regularmente um programa em que são construídos e testados nos EUA alguns dos inventos bélicos e máquinas projetados por Leonardo). 

Séculos XVI a XVIII 

a) A Engenharia Militar Defensiva
As fortificações defensivas eram projetadas para prevenir a sua penetração por tropas inimigas. Fortificações de pequena escala podem consistir apenas em muros de terra e trincheiras. O princípio é o de atrasar a progressão dos assaltantes de modo a poderem ser neutralizados pelos defensores em posições abrigadas. A maioria das fortificações de grandes dimensões não consiste numa única estrutura, mas sim numa série de fortificações concêntricas de crescente resistência. Assim, uma cidade fortificada medieval, incluiria numa primeira linha de defesa a muralha que a circundava, numa segunda linha o castelo ou cidadela, e em terceira linha, a torre de menagem.
Desde o século XX a colocação de campos de minas e a sua manutenção é outra das tarefas defensivas da Engenharia Militar.
Em operações defensivas de retardamento, em caso de retirada de uma força, a Engenharia Militar poderia realizar ações como a destruição de pontes e a colocação de armadilhas.

Renascimento

Leonardo 

Leonardo Da Vinci, o gênio da Renascença, autor de obras primas da pintura entre as quais a Santa Ceia (Milão), a Virgem dos Rochedos (Louvre) e a famosíssima Gioconda (Louvre), foi também um notável estudioso das ciências e das artes, da anatomia, da física e da mecânica. Grande inventor de sua época, Leonardo da Vinci era um homem à frente de seu tempo. Seu interesse e criatividade em vários campos de estudo deram origem a invenções como: salva-vidas, paraquedas, bicicleta, máquina de calcular, a primeira máquina a vapor movida à energia solar, entre outras. Embora considerasse a guerra como a pior das atividades humanas dedicou-se também às artes militares e seus cadernos também contêm várias invenções e estudos: canhões com retroalimentação, um tanque blindado movimentado por humanos ou cavalos, bombas de agrupamento, um protótipo de metralhadora, pontes levadiças, fortalezas, máquinas de ataque e defesa, túneis e até um submarino. Em 1502, Leonardo recebeu do Duque Valentino – Cesare Borgia, filho do futuro papa Alexandre VI e supostamente modelo do livro “O Príncipe” de Maquiavel, o título de “Ingegnere Generale” das obras militares do ducado. Nesse mesmo ano fez o projeto de uma enorme ponte para o Sultão Beyazid II de Constantinopla que nunca foi executada, mas em 2001, uma versão menor, baseada no mesmo projeto de Da Vinci, foi construída na Noruega. 

Fascinado pelo fenômeno de vôo, Da Vinci realizou detalhado estudo do vôo dos pássaros e planos para várias máquinas voadoras entre as quais um protótipo denominado Cisne Voador, que segundo especialistas é de 1510, um helicóptero movimentado por quatro homens e um planador cuja viabilidade técnica já foi comprovada. (O canal de TV NetGeo apresenta regularmente um programa em que são construídos e testados nos EUA alguns dos inventos bélicos e máquinas projetados por Leonardo). 

Séculos XVI a XVIII 

a) A Engenharia Militar Defensiva
As fortificações defensivas eram projetadas para prevenir a sua penetração por tropas inimigas. Fortificações de pequena escala podem consistir apenas em muros de terra e trincheiras. O princípio é o de atrasar a progressão dos assaltantes de modo a poderem ser neutralizados pelos defensores em posições abrigadas. A maioria das fortificações de grandes dimensões não consiste numa única estrutura, mas sim numa série de fortificações concêntricas de crescente resistência. Assim, uma cidade fortificada medieval, incluiria numa primeira linha de defesa a muralha que a circundava, numa segunda linha o castelo ou cidadela, e em terceira linha, a torre de menagem. 

Desde o século XX a colocação de campos de minas e a sua manutenção é outra das tarefas 
defensivas da Engenharia Militar. 

Em operações defensivas de retardamento, em caso de retirada de uma força, a Engenharia Militar poderia realizar ações como a destruição de pontes e a colocação de armadilhas.

b) A Engenharia Militar Ofensiva

No passado, para o assalto a fortificações, eram usados engenhos de cerco, tais como catapultas, arietes ou torres de assalto. Estes engenhos destinavam-se ou a destruir as fortificações ou a permitir a sua penetração por forças de assalto. 

Com o início da utilização militar de explosivos, começou a utilização da “minagem” ou sapa. Esta consistia na abertura de túneis (minas) ou trincheiras sob as muralhas, nas quais eram colocados explosivos que provocavam o seu desmoronamento.
Desde o século XX uma importante missão ofensiva da Engenharia Militar é a limpeza de campos minados. 

A travessia de cursos de água, tarefa realizada pelos pontoneiros através da colocação de pontões, pontes ou utilização de embarcações é outra das missões da Engenharia Militar em ações ofensivas.

Vauban

Sébastien Le Prestre de Vauban (1633 – 1707) foi um engenheiro militar francês e o introdutor do chamado estilo Vauban de fortificação. Especialista em poliorcética (arte de fazer cercos militares), diz-se que deu à França uma impenetrável cintura de aço contra seus inimigos. 

Em 1651, aos 17 anos, incorporou-se como cadete às tropas de Condé, na época revoltadas contra o rei. Perdoado, aos 22 anos de idade torna-se engenheiro militar de fortificações. Nestas funções, aperfeiçoa as técnicas defensivas e obtêm importantes conhecimentos sobre a interação entre as estruturas defensivas, nomeadamente entre a sua forma, a estrutura arquitetônica e a eficácia dos cercos e sortidas. Com esses conhecimentos introduz importantes melhoramentos na arquitetura das cortinas de defesa das fortalezas. Dirigiu pessoalmente a defesa de várias cidadelas, entre as quais a de Lille em 1667, a de Maastricht em 1673 que lhe valeu a nomeação para Comissário das Fortificações em 1678. Durante meio século de trabalho ininterrupto, conduziu aproximadamente cinqüenta assédios e construiu ou ampliou mais de 160 fortalezas, criando, através das tecnologias defensivas que introduziu, um estilo de fortificação que é, muito justamente, conhecido por estilo Vauban. Foi nomeado Marechal de França por Luís XIV. 

Ele também se ocupou da demografia, dos estudos de econometria e concebeu formulários para o censo da população. 

Vauban interessou-se igualmente pela reforma dos impostos e publicou uma obra intitulada La dîme royale (1707), na qual propunha substituir os impostos existentes por um imposto único de 10% sobre todos os rendimentos (a dízima), de todos os cidadãos sem exceção para as classes privilegiadas. Esta publicação foi a causa principal de sua desgraça na corte e perante o seu real patrono. Faleceu em Paris a 30 de Março de 1707, vítima de uma infecção pulmonar. Seu corpo está sepultado na igreja de Bazoches-du-Morvan e o seu coração é conservado no Hôtel des Invalides de Paris. Já naquela época na França, como hoje no Brasil, a Reforma Fiscal e a Lei das Licitações era motivo de controvérsias e de pressões de interesses contrariados como o atesta a seguinte:

CARTA QUE VAUBAN, ARQUITETO MILITAR DE LUIZ XIV, ENCARREGADO DE CONSTRUIR PARA O REI DE FRANÇA AS FORTIFICAÇÕES QUE O IMORTALIZARAM, ESCREVEU, EM 17 DE JULHO DO ANO DA GRAÇA DE 1685 AO SENHOR DE LOUVOIS – Secretário de Estado (Ministro da Guerra)

Ao Excelentíssimo Senhor de Louvois
em sua Residência de Paris

Excelência,
Existem vários serviços pendentes nas obras realizadas nos últimos anos que nunca foram concluídos e que jamais o serão e tudo isso, Excelência, devido à confusão causada pelo constante aviltamento dos preços de suas obras, sendo certo que todas essas rupturas de contratos, descumprimento de acordos e repetição de licitações só lhe servem para atrair como empreiteiros a todos os “picaretas” que não sabem o que fazer, aos exploradores e aos incompetentes e a afastar a todos os que sabem das coisas e que tem capacidade para administrar uma empresa.
Eu digo mais, que atrasam e encarecem consideravelmente as obras que ainda resultam piores, dado que esses descontos e pechinchas que tanto se buscam, são ilusórios, pois provém de um empreiteiro que está tão perdido como alguém que está se afogando e que se agarra a qualquer coisa. Ora, agarrar-se a qualquer coisa, em termos de empresário, significa deixar de pagar aos seus fornecedores de materiais, pagar mal aos operários que emprega, explorar aos que pode, manter apenas os mais desqualificados que se sujeitam a ganhar menos que os demais, utilizar os piores materiais, criar caso por qualquer coisa e estar sempre pedindo socorro a todo o mundo.
Creio que isso baste Excelência, para mostrar-lhe a ineficiência desse sistema e por isso, abandone-o e pelo amor de Deus: restabeleça a boa fé, pague o justo preço das obras e não negue uma remuneração adequada ao empreiteiro que sabe cumprir com as suas obrigações, pois este será sempre o melhor negócio que poderá fazer.

Quanto a mim, Excelência, permaneço deveras e de todo o coração, seu mais humilde e obediente servidor.

VAUBAN

A carta conserva, passados três séculos, toda a sua atualidade ao fazer a crítica do assim chamado sistema de “menor preço” no âmbito dos contratos de obras públicas, hoje também representado entre outros pelos Pregões Eletrônicos utilizados por algumas Administrações tanto para compra de materiais de consumo como para contratação de Obras ou Serviços especializados de Engenharia.

Von Clausewitz

Carl von Clausewitz ou Carl Phillip Gottlieb von Clausewitz (1780 – 1831) foi um general e estrategista militar prussiano (hoje parte da Alemanha). Foi diretor da Escola Militar de Berlim nos últimos treze anos de sua vida, período em que escreveu a obra Von Kriege (Da Guerra), publicada postumamente. Ficou conhecida a frase em que ele define a associação entre guerra e política: “a guerra é a continuação da política por outros meios”. 

Von Clausewitz é considerado um grande mestre da arte da guerra. Suas lições de tática e estratégia vão porém, além dos exercícios militares propriamente ditos, para se constituírem, inclusive, numa profunda reflexão sobre a filosofia da guerra e da paz. Essa reflexão contém observações éticas que são válidas para a formação militar em todo tempo, mesmo na ocorrência do que, nos nossos dias, veio a chamar-se “guerra interna”. Para Clausewitz, a destruição física do inimigo deixa de ser ética, quando ele pode ser desarmado em vez de morto. Clausewitz tomou parte na batalha de Waterloo e morreu de cólera. 

Guerra moderna 

Considerada como a forma atual dos conflitos internacionais, refere-se a uma política de guerra cujos conceitos e métodos, embora derivados dos princípios da Guerra Total e das experiências acumuladas desde as guerras napoleônicas e da Secessão Americana até a Segunda Guerra mundial, hoje se caracterizam por técnicas de batalha e táticas operacionais e estratégicas baseadas na evolução tecnológica da Engenharia dos Materiais, na evolução dos vetores de lançamento e de mobilidade e principalmente em formas altamente complexas de Engenharia da Informação e das Telecomunicações. 

Com o advento das armas nucleares que marcaram o fim da Segunda Grande Guerra (Hiroshima e Nagasaki), o conceito de guerra total passou a implicar numa destruição completa da vida sobre a terra e desde então prevaleceu um “equilíbrio do terror”, inicialmente entre Rússia e EUA, com cerca de 5000 ogivas operacionais de cada lado, um clube hoje ampliado com: Inglaterra, França, China, Índia, Paquistão e possivelmente outros, que os vários tratados de não proliferação não conseguiram eliminar e cujo custo de manutenção e atualização se constitui hoje, numa das rubricas mais importantes dos orçamentos militares desses países e um desafio permanente para a paz mundial e para o futuro da humanidade. 

Dentre as conseqüências terríveis das guerras modernas, sejam elas: locais regionais ou totais, a 
mais funesta é a execrável inclusão dos alvos civis como objetivos militares, por motivos que extrapolam os meros conceitos de defesa, com o genocídio de populações e crianças indefesas. Segundo fontes da ONU as baixas civis subiram de 5% nas chamadas “guerras heroicas” (1900 a.C.) para mais de 90% nas guerras contemporâneas, iniciadas a partir dos anos 90, com a triste constatação de que “os conflitos armados atuais matam e ferem mais crianças que soldados” (Graça Machel). 

Os exércitos modernos se diferenciam dos antigos principalmente nos seguintes aspectos: 1) os efetivos militares dos exércitos americanos, russos e chineses p.ex. mesmo em tempos de paz superam 1,5 milhão de homens cada, podendo chegar a 8 ou 10 milhões de soldados em tempos de guerra; 2) A mecanização e a introdução de novas armas como a metralhadora e os 

1 A metralhadora Maxim, da qual existe um exemplar no museu do Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro, foi inventada pelo americano Hiram Maxim, mas desenvolvida na Inglaterra com o apoio financeiro do banco de Lord Rothschild (1888). Segundo o historiador inglês Niall Ferguson, a expansão do império britânico no fim da era Vitoriana foi na realidade, originada e consolidada por meio de uma combinação de “poder financeiro com poder de fogo” (da Maxim). Ver: Niall Ferguson – “Empire – How Britain Made the Modern World”. (2003).

diversos tipos de foguetes e mísseis aumentaram o poder letal dos exércitos;
 3) O poder de fogo também cresceu com o desenvolvimento de explosivos mais destrutivos; 4) A mobilidade ampliou o raio de ação dos exércitos com a introdução de tanques, helicópteros, aviões de transporte e combate, navios e submarinos; 5) A precisão dos projéteis combinada com o aumento do poder explosivo dos projéteis em lugar de diminuir, tem aumentado a letalidade da população civil como foi o caso recente do Iraque onde mais de 100.000 iraquianos morreram no primeiro mês do conflito, muitos dos quais civis. As guerras modernas assumem hoje diversas configurações e são travadas em distintos ambientes, entre os quais: 

a) guerra aérea, que busca a supremacia do espaço aéreo, iniciada na Primeira Grande guerra, fato que tanto afligiu Santos Dumont no fim de sua vida, pelo mau uso do avião, do qual ele foi um dos inventores. b) guerra assimétrica entre beligerantes de forças desiguais com a utilização de estratégias fora dos parâmetros da guerra convencional, como é o caso do terrorismo; c) guerra biológica ou química com uso de germes, toxinas e substâncias letais; c) guerra eletrônica e de comando centralizado (plataformas, ogivas, radares, comunicações, VANT’s, etc.); d) guerra terrestre envolvendo infantaria, artilharia e forças blindadas; e) guerrilha urbana e rural; f) guerra de inteligência (propaganda, psicológica, de informação); g) guerra naval (porta-aviões, fragatas, destroyers, submarinos, etc.); h) guerra nuclear e i) guerra espacial. Como se percebe, a tecnologia da guerra evoluiu de forma extraordinária, mas o relacionamento e a paz entre os povos não melhorou significativamente com o progresso da ciência: o sentimento de insegurança no mundo atual parece tender a piorar ao longo do tempo. 

Engenharia Militar no Brasil 

Seu marco inicial foi o envio por Portugal ao Brasil, em 1774, do tenente-coronel Antônio Joaquim de Oliveira, encarregado de ensinar arquitetura militar na aula do regimento de artilharia, disciplina esta necessária às obras de fortificação do território. 

Em 1810 é criada por Dom João VI, a Academia Real Militar do Rio de Janeiro, o primeiro núcleo de formação de engenheiros militares no Brasil, que funcionou ininterruptamente até 1918. Em 1928 foi criada a Escola de Engenharia Militar, cujo funcionamento iniciou-se três anos depois, transformando-se sucessivamente em Escola Técnica do Exército (1933) e Instituto Militar de Engenharia (IME) (1959).
A Engenharia Militar Brasileira dividia-se em duas vertentes: A Engenharia de Combate e a Engenharia de Construção. 

A Engenharia de Combate apóia as armas-base: Cavalaria e Infantaria, facilitando o deslocamento das tropas amigas através de construção de pontes, melhoramento de estradas, dificultando o deslocamento das tropas inimigas através do lançamento de campos minados, obstáculos de arame, etc. e promovendo a proteção da tropa através da construção de Postos de Comando e da Camuflagem. 

A Engenharia de Construção, em tempo de paz, promove através dos trabalhos de seus Batalhões o desenvolvimento econômico nacional, com a construção

de estradas, aeroportos, açudes, etc. principalmente em regiões inóspitas que não seriam de interesse da iniciativa privada. No Brasil, o estamento militar, além de suas missões clássicas de apoio ao combate em situação de guerra, atua em época de paz como pioneiro ou colaborador na execução de obras de infraestrutura que alavancam o desenvolvimento nacional, na vigilância das fronteiras terrestres e marítimas do país protegendo as suas riquezas e recursos naturais, no apoio à pacificação de áreas urbanas sob conflito ou domínio de facções criminosas, no socorro à população na ocorrência de acidentes e catástrofes naturais e na formação de novas gerações de jovens dentro dos princípios frequentemente esquecidos da ética, disciplina e amor à pátria.

Primeiras Escolas de Engenharia no Brasil 

Instituto Militar de Engenharia – IME. (1792)
A história do IME remonta ao ano de 1792 quando, por ordem de Dona Maria I, Rainha de Portugal, foi instalada, na cidade do Rio de Janeiro, a Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho. Essa foi a primeira Escola de Engenharia das Américas e a terceira do mundo.
Sucessivamente foram surgindo:
Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (1810)
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (1893)
Escola de Engenharia da Universidade Presbiteriana Mackenzie (1896)
e no mesmo ano, a
Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1896)
Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (1911)
Faculdade de Engenharia da Universidade Federal do Paraná (1912)
Faculdade de Engenharia da Universidade Federal de Itajubá (1913)
Escola de Engenharia de Juiz de Fora (1914)
Faculdade de Engenharia da Universidade Federal de Santa Catarina (1932)
Faculdade de Engenharia Industrial (1946)
Instituto Tecnológico de Aeronáutica – ITA (1950)
Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (1952)
Faculdade de Engenharia da Universidade Estadual de Campinas (1966)
Faculdade de Engenharia da Universidade Federal de Uberlândia – UFU (1970)
Faculdade de Engenharia da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar (1970)
Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira da Universidade Estadual Paulista (1976)
E sucessivamente as demais escolas hoje existentes no país.

No campo militar, a formação de engenheiros em diferentes especialidades, além do IME – Instituto Militar de Engenharia (Exército), é realizada no Brasil pelo ITA – Instituto Tecnológico de Aeronáutica (Aeronáutica) e EN – Escola Naval (Marinha) que conta ainda com o centro de pesquisa e desenvolvimento de energia nuclear no CEA – Centro Experimental de Aramar (ciclo do combustível e submarino nuclear).

A Engenharia e a Estratégia Nacional de Defesa

Em 17/12/2008 o Ministério da Defesa do Brasil publicou um documento em que delineou as premissas e prioridades da “Estratégia Nacional de Defesa” do país com ênfase no reequipamento, desenvolvimento e capacitação de suas forças armadas do qual são destacadas algumas das principais oportunidades de participação da sociedade civil e da Engenharia brasileiras na implementação da mesma.

a) Premissas

“(……………..)”

b) Setores estratégicos
“(……………..)” 


c) Desenvolvimento do Programa Nuclear

“(………………)” 

d) Capacitação tecnológica
“(……………….)

e) Serviço Civil – Educação e Participação
“(……………….) 

“.(………………………………..).”