Metro de moscovo – os segredos do palácio subterrâneo


Metro de Moscovo, Estação Kievskaya (Wikicommons, A. Savin).

Quilómetros de “metro” na capital do império

Com 188 estações, mais de 313 km de comprimento e com uma profundidade que chega aos 84 metros em algumas estações, o metropolitano de Moscovo encetou um desenvolvimento grande e progressivo desde a sua abertura, em 1935, ao modo da cultura soviética e com um rasto de imperialismo pelos extensos quilómetros a partir de Moscovo, a capital russa e antiga capital da U.R.S.S., para as diversas direcções. Faz parte do conjunto de metropolitanos mais antigos do mundo e permanece sendo o terceiro metropolitano mais usado pelos passageiros, logo a seguir ao metro de Tóquio e ao metro de Seul.

Os primeiros planos de construção de uma rede metropolitana remontam, na prática, ao período pós-I Guerra Mundial, pós-Revolução Russa e pós-Guerra Civil e os primeiros estudos datam dos anos 20 do século passado até ao início dos anos 30.

© Metro de Moscovo, Estação Slavyanskiy Bulvar (Wikicommons, Eugeny1988). 

© Metro de Moscovo, Estação Kievskaja (Wikicommons, George Dembowski). 

© Metro de Moscovo, Estação Novokuznetskaya (Wikicommons, Sergey Rodovnichenko).

© Metro de Moscovo, Estação Kurskaya (Wikicommons, Denghu).

© Metro de Moscovo, Estação Belyayevo (Wikicommons, Mikhail Shcherbakov).

No entanto, uma construção desta envergadura começou a ser pensada nos tempos do Império Russo e o sentido do grandioso e da ideologia nunca deixaram de estar patentes. A exposição e a promoção de temas socialistas por entre o espaço público, juntamente com demonstrações de grandeza, do culto do chefe e da força a partir da desejável, sempre desejável, unidade política e cultural do país, pretendia um discurso de um país a uma só voz: a de Joseph Estaline. Quanto mais tempo o mesmo regime político durasse, mais oportunidades poderia ter de criar e de manter, para a posteridade, novas correntes identitárias junto da sociedade civil, com as quais o regime se identificasse. É sabido que o metro de Moscovo serve para transportar, mas a sua grandiosidade interior não reflecte apenas um sinal da cultura de agora mas, sim, da cultura que se queria que viesse. 

© Metro de Moscovo, (Wikicommons, Deror Avi). 

© Metro de Moscovo, Estação Maryina Roshcha (Wikicommons, Mikhail Shcherbakov). 

© Metro de Moscovo, Estação Kievskaya (Wikicommons, Antares 610).

Uma cultura soviética com métodos britânicos

Este sentido da “glorificação” desencadeada e mantida pelo regime soviético teve a particularidade de ter sido pensado e feito, ao modo do regime, por engenheiros britânicos, descendentes do trabalho realizado no desenho e construção das infraestruturas do metropolitano mais antigo do mundo, apesar do esforço e do trabalho dos próprios russos. O metro de Londres serviu, por isso, de exemplo-base mas para ser adaptado à realidade local.

Apesar da decisão da construção deste transporte ter sido tomada pelo Comité Central do Partido Comunista da União Soviética, aspectos como o design de algumas estações, os trajectos e os planos de construção da obra tiveram a mão de especialistas relacionados com o metro londrino que, ainda assim, não escaparam a uma vigilância apertada, por parte do regime, sobre a sua intervenção. Inclusive, alguns destes britânicos foram detidos por supostas acções de espionagem, em Moscovo, num período de crescente instabilidade ao nível do relacionamento diplomático entre países (próximos de entrarem, na altura, numa guerra mundial). Ainda assim, ao construírem túneis em vez de “rasgarem” o espaço físico mediante a normal colocação de uma cobertura, ao optarem por escadas rolantes em vez de elevadores, entre outros detalhes, contribuíram para inovar a forma de olhar o transporte de pessoas, numa União Soviética em desenvolvimento económico progressivo.

O metro de Moscovo foi uma das obras arquitectónicas soviéticas de referência. O brilhantismo e a crença num futuro radiante constituíram duas preocupações do governo russ, que fez com que esta obra transparecesse isso. A imagem de um “sol subterrâneo”, de um “paraíso debaixo do chão”, significariam o resultado brotado do solo a partir dos sacrifícios do povo proletário, representado no chefe Estaline, com vista a uma nova organização social que mais satisfizesse as pessoas, enquanto grupo. Esta “legitimidade” permitiria que se mantivesse durante mais tempo o(s) poder(es) nas mesmas mãos.

Um metro de cães

Curioso, mas certo, é o facto de alguns cães vadios se contarem como um outro conjunto de utilizadores que o metro de Moscovo acaba por satisfazer. Sem perder o rumo, dizem as imagens e quem observa diariamente, que estes cães apanham o metro de manhã em direcção ao centro da cidade onde buscam comida e regressam, no final do dia, para os subúrbios da cidade. Alguns especialistas referem que o cálculo do tempo realizado por estes animais, durante a viagem, permite-lhes sair numa das estações situadas no centro da cidade e que preferem fazer a viagem de metro nas pontas das composições por, aparentemente, poderem-se encontrar menos pessoas e poderem estar mais relaxados. Para Andrei Poiarkov, do Instituto de Ecologia e Evolução de Moscovo, este fenómeno pode ter a ver com o facto de os cães vadios, normalmente, se abrigarem em zonas e complexos industriais. Contudo, ao deslocalizarem-se para os subúrbios, estes cães ter-lhes-ão seguido o rasto e sentido as diferenças de sobrevivência entre o centro e as zonas tangenciais. Aparentemente desprovidos de “poder” no mundo dos humanos, ainda assim, parecem fazer face ao dia-a-dia. Que “poder” cada um de nós terá?

© Metro de Moscovo, Estação Slavyansky Bulvar (Wikicommons, Jaime Silva).

Autor: Obvious