Engenheiro: Brasil se atrasou na construção de fibra óptica

O Brasil está aproveitando tardiamente as oportunidades em construção ou ampliação de rodovias e ferrovias para aumentar a sua rede de fibra óptica. A avaliação é do diretor de Engenharia e Operações da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), Eduardo Grizendi. Para ele, o Brasil tem poucas redes que possibilitem o tráfego de dados, voz e imagem em alta velocidade, e isso ocasionou a queda na conexão que afetou usuários de 11 operadoras da região sul do País na semana passada.

As rotas de longa distância de fibra óptica brasileiras – assim como no resto do mundo – são construídas seguindo infraestruturas físicas, como rodovias, ferrovias e linhas de transmissão de energia elétrica. Isso faz com que esses cabos sejam facilmente rompidos em obras, temporais ou acidentes. “Em quedas de barreira, por exemplo, a urgência é liberar o tráfego. E vem a retroescavadeira para liberar a pista e acaba levando quilômetros de cabos subterrâneos junto”, afirma. No caso das redes de energia elétrica, vendavais e temporais podem interromper o serviço.

Na quarta-feira (25), o rompimento de três pontos da rede de longa distância que faz a comunicação de dados para várias operadoras de telefonia e banda larga que operam na região causou lentidão na rede ou deixou usuários sem conexão. O principal problema foi o rompimento de fibras no quilômetro 66 da BR-116, no Paraná, entre Quatro Barras e Campina Grande do Sul, um dos principais que ligam o sul ao resto do País.

Segundo Grizendi, o problema é que todo o tráfego foi redirecionado a uma segunda rota de fibra óptica que faz a ligação da região, que não é alternativa, e sobrecarregou o sistema, causando a lentidão. Para ele, o Brasil perdeu a chance de construir dutos para a instalação dessas redes no momento em que essas infraestruturas físicas são construídas. “Nós estamos aproveitando tardiamente as rodovias. Na duplicação da Fernão Dias, em São Paulo, não se aproveitou para insatalar uma rota óptica, nem ao menos a instalação de dutos”, afirma.

Segundo ele, essa prática favoreceria um aumento da rede brasileira a um custo muito baixo. “Ganha-se muito em escala se construir infraestrura óptica no mesmo momento da infraestrutura física. Vira centavos no total daquela obra mãe”, avalia. Segundo ele, as operadoras vêm investindo na área urbana, mas na rede de longa distância, há muito tempo o Brasil não investe pesadamente. “Desde o fim da década de 1990 não há grandes investimentos. Apenas pequenos trechos”, diz.

Autor: Terra