O show de engenharia dos veleiros Volvo Open 70

É meio como na Fórmula 1. Ou até melhor. A partir de um livro de regras, cada equipe constrói ou encomenda o melhor veleiro possível. Máquinas com mais de 21 metros de comprimento e 14 toneladas que, graças ao trabalho incessante da tripulação, disputam corridas que duram dias e noites sobre a mais instável das superfícies. É o esporte – e a tecnologia – em seu mais alto nível.

Além de avaliar o C30 Elétrico, nossa visita à Volvo Ocean Race nos levou a bordo de um dos veleiros Open 70 que disputam a corrida. Tim Hacket, o “manager” da equipe Puma nos explicou detalhes destes bólidos movidos a vento, o que nos ajudou a entender por que a corrida é considerada a Fórmula 1 dos mares.

A Ocean Race é realizada desde 1972, quando chamava-se Whitbread Round The World Race. A Volvo adquiriu os direitos de realização do evento, tornando-se proprietária e organizadora – e não apenas patrocinadora, como ocorre com a Copa “Kia” do Brasil, ou a “Rolex” Daytona 24. A comparação com a Fórmula 1 se deve, além da tecnologia empregada nos barcos, ao caráter mundial da competição, sua extensão ao longo de uma temporada e a disputa em etapas.

As duas últimas edições tiveram a largada em Alicante, no Sul da Espanha. São nove etapas chamadas de “legs” que acabam em “Stopovers”, a linha de chegada, seguida de uma parada de 18 dias para descanso e competições costeiras. A corrida entre Auckland e Itajaí, por exemplo, durou 40 dias, e os dois primeiros colocados chegaram com uma diferença de apenas 12 minutos. Em certo ponto da corrida, alguns barcos navegaram pelo polo oceânico de inacessibilidade, localizado no Pacífico Sul, a 2.600 km da costa mais próxima.

O barco

Os veleiros Volvo Open 70 são usados desde a corrida de 2005, quando substituiram os Open 60, usados desde 1993. Além do porte maior (70 pés – daí o nome), os novos veleiros têm mais tecnologia empregada em sua construção. Eles deslocam 14 toneladas, sendo e 7,4 destas apenas do bulbo da quilha móvel, que ajuda a estabilizar e direciona a embarcação. Da ponta da proa ao final da popa, são 21,5 metros, enquanto a parte mais larga tem apenas 5,7 metros.

Para suportar condições extremas de temperatura e a violência de águas revoltas ao mesmo tempo em que precisam navegar à maior velocidade possível, os veleiros Volvo Open 70 são construídos totalmente em fibra de carbono e sem nenhum tipo de conforto – como qualquer outro veículo de corrida 

Ao longo das etapas da corrida – chamadas “legs” – as equipes se dividem em turnos de quatro horas. Todo o barco é construído com simetria longitudinal para que ele possa ser conduzido sem interferências independente de sua posição, que muda constantemente para aproveitar ao máximo a força dos ventos, por isso todo o equipamento é duplicado no convés.

Para um gearhead, é inevitável a comparação com os carros. É tudo muito parecido e análogo ao automobilismo, que usa o arrasto aerodinâmico para obter estabilidade e ganhar velocidade. Os barcos precisam lidar com o arrasto hidrodinâmico e usar a mesma superfície para obter estabilidade.

Os elementos principais do projeto de um veleiro de competição como o Open 70 são a boca na linha de água e a área de superfície molhada. Boca é a medida da parte mais larga do casco de uma embarcação. Nesse caso, o que importa é quanto ela mede ao tocar na água. Tal como os pneus de um carro, mais contato gera mais arrasto, mas ganha-se em estabilidade. Os barcos precisam encontrar um equilíbrio entre essas duas variáveis fundamentais.

Por isso a forma do casco também é importante. Uma popa de fundo plano ajuda a estabilizar o barco, pois proporciona maior área de contato com a superfície, mas exatamente por este motivo ela permanece elevada em relação à linha de água, e tal como em um carro de arrancadas, a traseira alta abaixa a dianteira. Aqui os barcos se diferenciam: para obter mais velocidade é preciso manter a proa elevada para reduzir o arrasto hidrodinâmico 

Um barco de corridas como este é capaz de velejar em velocidades superiores à velocidade do vento. A velocidade média é de 25 nós (46,3 km/h), mas o atual recorde de velocidade de um VO70 foi de 39 nós (72 km/h), estabelecido em 2005 quando um dos competidores cobriu 853 km em apenas 24 horas, obtendo uma média de 35,5 nós (65,7 km/h) – usando apenas o vento como propulsor, é sempre bom lembrar.

Quer saber quanto custa cada um desses? É difícil estimar. Na última edição o valor total da frota chegou a um bilhão de dólares, porém o barco mais barato (ou menos caro) custava apenas um décimo do mais caro.

Vida a bordo

Logo atrás do mastro, abaixo da retranca, fica o acesso à área de convívio, também de composição simétrica como o convés. Nela há seis leitos de cada lado onde os tripulantes descansam ou dormem e mantém seus pertences pessoais. Não espere encontrar uma cama com um colchão. Os leitos são armações retangulares de fibra de carbono onde há uma rede amarrada – uma cama elástica superleggera.

Ali tudo é muito apertado, são apenas dois metros quadrados para cada tripulante (e as fotos são proibidas, infelizmente). No meio, onde passa a base do mastro, estão os dois motores Volvo Penta. Um deles serve como gerador de energia elétrica e para a desalinização da água, e o outro é um motor de emergência ligado a dois propulsores próximos à popa. Sobre o “túnel de transmissão” fica a central de navegação. São quatro computadores com tela touchscreen embutidas, onde os velejadores recebem informações sobre as condições climáticas e, a cada três horas, a posição dos concorrentes.

Os seis competidores largaram no domingo para a Leg 7, que termina em Miami. Neste momento a disputa está acirrada, e eles estão cruzando o mar do Nordeste, entre Alagoas e Pernambuco. Caso você tenha se interessado por essa corrida tão louca quanto impressionante, clique aqui e acompanhe a disputa pelo Tracker oficial da competição. Cada barco tem sete câmeras a bordo, que fazem as fotos e vídeos publicados no site oficial (em inglês). Se você quer torcer por um brasileiro, preste atenção no Team Telefónica, que tem em sua equipe Joca Signorini, que integrou a delegação brasileira na olimpíada de Atenas, em 2004 e venceu a última edição da Volvo Ocean Race a bordo do Ericsson 4, comandado por Torben Grael.

Autor: Jalopnik