Naufrágio na Itália não pode ser comparado a grandes tragédias

O acidente com o navio Costa Concordia, que afundou na última sexta-feira na ilha de Giglio, na Toscana italiana, é uma tragédia que deixou 11 mortos e mais de 20 desaparecidos até o momento. Mesmo assim, especialistas são enfáticos ao afirmar que felizmente não se pode comparar o desastre do Costa Concordia aos grandes naufrágios da história.

“Ele sofreu só uma batidinha. O acidente foi especial não pelos danos, mas por acontecer em uma área conhecida em termos de navegação. É inexplicável”, afirmou Marcelo Neves, professor de engenharia naval e oceânica da Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ). Ele acrescentou que um navio de 290 m sofrer um dano de 50 m é muito pouco para impedir sua reutilização.

Por outro lado, o professor acredita que a operação de remoção deve ser feita “o mais rápido possível”. “O movimento das ondas tende a piorar o tamanho do buraco no casco e aumentar a quantidade de água dentro da estrutura”, explicou.

É preciso levar em conta que o barco está com os tanques de combustível cheios – são cerca de 2,4 mil toneladas de óleo em pelo menos 17 tanques -, e uma entrada maior de água agravaria as chances de remoção. “O primeiro procedimento é retirar combustível e água para ele ficar mais leve e deixar de se apoiar nas pedras. Primeiro, tem que descolar a embarcação da rocha para garantir a flutuabilidade”, disse.

Fontes da rede de televisão CNN informaram que o navio possui 13 conveses para passageiros (são 17 ao todo), e alguns dos andares para turistas foram atingidos pela água. Por causa disso, Richard Schachter, professor da área de projetos do Coppe/UFRJ, acredita que “se o cruzeiro estivesse em alto mar, teria afundado”.

As embarcações são construídas em compartimentos de forma que os alagamentos não avancem quando ocorre perfuração no casco. Neste caso, explicou o professor, a água passou pelos conveses de segurança. “Alguns navios afundam em minutos e outros demoram muito mais. Depende dos danos, tamanho, profundidade da água. São muitos fatores e é difícil determinar um tempo de naufrágio”, analisou.

Quem removerá o navio?
A operação será realizada pela empresa holandesa Smit Salvage, especializada na recuperação de restos e na extração de combustível, com previsão de duração entre seis meses e um ano, mas pode levar mais tempo. A missão tem duas etapas: a primeira, retirar todo o combustível e a água, utilizando bombas de sucção. A segunda, remover o barco de 114,5 mil toneladas. Tudo isso contando com as boas condições de tempo.

Como remover?
Segundo Richard Schachter, provavelmente, a operação tentará colocá-lo em posição vertical. Se houver condições, uma espécie de grua flutuante puxará o Costa Concordia para cima, enquanto rebocadores o movimentarão na horizontal até levá-lo a um estaleiro. Os mergulhadores investigarão se a estrutura não está comprometida.

O navio pode ser recuperado?
Se o navio não sofrer comprometimento estrutural, ele pode ser facilmente reconstruído. Os especialistas explicam que na maioria das vezes é possível recuperar embarcações danificadas, como no caso do acidente em Giglio. A não ser que o barco tivesse se partido ao meio. O Costa Concordia é novo, segundo Schachter, pois foi construído em 2006. Para o especialista, muito provavelmente será recolocado na ativa.

O que acontecem com restos de navios?
Os restos de embarcações que naufragam e são removidos do mar viram ferro-velho, assim como os navios aposentados. O material pode se utilizado na reconstrução alternativa de outros. No entanto, navios sofisticados como os cruzeiros não reaproveitam peças usadas. Até mesmo pelo alto valor do seguro para acidente nesse tipo de embarcação.

Naufrágio do Costa Concordia
O cruzeiro Costa Concordia naufragou na última sexta-feira, dia 13 de janeiro, após colidir em uma rocha nas proximidades da ilha de Giglio, na costa italiana da Toscana. Mais de 4,2 mil pessoas estavam a bordo. Até a tarde de terça-feira, dia 17, 11 mortes haviam sido confirmadas. Ainda há desaparecidos, e prosseguem os trabalhos de busca. O Itamaraty informou que 57 brasileiros estavam a bordo do navio, mas nenhum deles está entre as pessoas não encontradas.

O navio, que tem 290 metros de comprimento e 114,5 mil toneladas, margeava a ilha de Giglio quando houve a colisão, imediatamente começando a adernar. Houve pânico e reclamações de despreparo da tripulação. O comandante do Costa Concordia, Francesco Schettino, foi acusado de ter abandonado o navio. Ele disse que estava no comando, mas um áudio divulgado para a imprensa, em que há uma discussão entre ele e a Guarda Costeira, indica que o capitão já estava na costa no momento do resgate

Autor: Terra