Brasil lidera ranking mundial das maiores descobertas de petróleo

Que o Brasil vai bem em descobrir petróleo, todos sabem. Mas daí a ter se tornado o mais atraente do mundo na atividade – como esnobam alguns dos principais executivos do setor – parece exagero. Parecia. Levantamento realizado pela consultoria internacional IHS Cera a pedido do iG revela que o País lidera, sim, o ranking mundial das maiores descobertas de hidrocarbonetos na década, quando se considera volume e número de poços com mais de 1 bilhão de barris.

Com o maior banco de dados da indústria do petróleo, a IHS Cera registrou 35 descobertas de hidrocarbonetos com mais de 1 bilhão de barris entre 2001 e 2010. O Brasil apresenta 11 delas, com cerca de 34 bilhões de barris. A quantidade de petróleo e gás equivale a cerca de um terço de todo o volume listado no ranking. Em número e volume total de descobertas gigantes, o País supera nações do Oriente, tradicionamente conhecidas por abrigar as maiores jazidas do planeta.

O segundo maior volume da década cabe ao Turcomenistão, na Ásia Central, com a descoberta de Yoloten-Osman, de 24,6 bilhões de barris de gás natural, em 2004 – a maior de todas. O Irã ocupa o terceiro lugar da lista, com 22,4 bilhões de barris distribuídos em sete prospectos exploratórios, dos quais apenas um, batizado de Yadavaran, tem petróleo. Os outros blocos iranianos são de gás.

China, Austrália, Israel, Rússia, Kuwait, Venezuela, Papua Nova Guiné, Gana, Bolívia, Índia e Arábia Saudita também integram o grupo de países com descobertas que superam 1 bilhão de barris na década. Para projetar reservas de países onde os operadores não relatam estimativas, como Irã e Arábia Saudita, a consultoria usa estudos geológicos de bacias semelhantes. A empresa também calcula volumes médios de descobertas a partir de estimativas incompletas de petrolíferas.

Pré-sal

“O pré-sal possui uma das maiores estruturas geradoras de petróleo do mundo. Iraque, Irã, costa leste africana, Golfo do México e o Ártico também estão nesse clube, das grandes estruturas”, afirma o vice-presidente para a área exploração e produção da IHS Cera, Bob Fryklund.

Tudo começou em 2000, quando a Petrobras arrematou blocos ainda não explorados na Bacia de Santos, em leilão de áreas da Agência Nacional do Petróleo (ANP). Ainda não se conhecia o conteúdo dos blocos, mas alguns já desconfiavam do potencial da região. “Tínhamos algumas linhas sísmicas, tínhamos uma ideia e em cima disso formulamos um modelo geológico. E acreditamos”, lembra o gerente-executivo da área do Pré-sal da estatal, Mário Carminatti, em vídeo (abaixo) cedido pela Petrobras.

Bob Fryklund destaca que o Brasil está há três anos no ranking das dez maiores descobertas do mundo, graças à abertura da nova fronteira petrolífera abaixo da camada de sal. Pertencente à União, Libra foi a maior descoberta do mundo em 2010. Responsável pelas perfurações, a ANP estimou em outubro uma média de 7,9 bilhões de barris no reservatório, podendo chegar a 15 bilhões de barris. Mas a IHS Cera calcula um total de 9,3 bilhões na área, considerando também a segunda perfuração, concluída em dezembro.

O governo brasileiro já sinalizou que deve incluir Libra no primeiro leilão de blocos do pré-sal, previsto para ocorrer neste semestre sob o sistema de partilha. Pelo novo modelo, as empresas atuam como prestadoras de serviço e sócias da Petrobras e não como donas do petróleo como prevê o regime vigente de concessão.

Petrobras no topo

Não foi à toa que a Petrobras planejou investimentos de US$ 224 bilhões no período de 2010 a 2014. Não se conhece plano de negócios maior no setor. A estatal brasileira é responsável por oito das onze descobertas brasileiras relatadas entre as maiores do mundo pela IHS. Lula (ex-Tupi), Júpiter, Iara, Franco, Jubarte, Cernambi, Guará e Mexilhão são os maiores prospectos que a Petrobras descobriu nos últimos dez anos, segundo a IHS. Com exceção de Mexilhão, província de gás localizada na Bacia de Santos, esses grandes reservatórios sob concessão da estatal estão na região do pré-sal. Jubarte fica abaixo do sal no Espírito Santo e já está produzindo óleo em escala comercial. Os demais estão localizados na Bacia de Santos, ainda em fase de exploração e desenvolvimento de suas reservas.

“Em nenhum país do mundo houve maior número de descobertas de petróleo em grandes volumes como no Brasil nos últimos anos. Quer algo melhor que isso para atrair empresas e investimentos?”, indaga Almir Barbassa, diretor financeiro e de relações com investidores da Petrobras. Seu chefe, o presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, costuma declarar, por onde passa, que o Brasil é o número um da indústria do petróleo.

OGX e BG na lista do bilhão

A IHS Cera também aponta áreas da OGX e da British Gas (BG) entre as maiores do planeta. Corcovado, na Bacia de Santos, teria, segundo a consultoria, cerca de 1,06 bilhão de barris. O número não é confirmado pela BG. Segundo a petroleira, o bloco BM-S-52, do qual faz parte Corcovado, ainda está em fase exploratória e “não temos números por enquanto”.

Vesúvio, área da OGX na Bacia de Campos, teria reservas de 1,02 bilhão de barris, segundo a IHS. O número está dentro da margem estimada pela empresa de Eike Batista – de 500 milhões a 1,5 bilhão de barris.

Barbassa observa que o potencial já descoberto no pré-sal pela Petrobras e suas parceiras é apenas o começo do que pode representar a nova fronteira da Bacia de Santos. Segundo ele, foram licitados 40 quilômetros dos 150 quilômetros quadrados conhecidos como pré-sal da Bacia de Santos. Com exceção de Libra, toda a região pertencente à União ainda não foi explorada e pode revelar reservas ainda maiores das que já surgem no mapa das descobertas mundiais.

Potencial

O geólogo Márcio Mello, que antes de fundar sua própria companhia de petróleo com outros investidores passou anos realizando estudos sobre o pré-sal, aposta que a camada de sal de cerca de 2 quilômetros de espessura cobre imensos reservatórios com mais de 100 bilhões de barris de petróleo. Ele afirma que a tendência do País é continuar apresentando as maiores descobertas do mundo. “O potencial é tão grande que deslancha até na inércia. É só ninguém atrapalhar.”

Para especialistas, a conjuntura que o País vive atualmente não atrapalha a indústria do petróleo, pelo contrário. Alexandre Rangel, diretor da consultoria e auditoria Ernest & Young, avalia que uma grande vantagem do País é a estabilidade geopolítica – que não existe nos grandes países produtores arábes – nem na Venezuela. Na Rússia, comenta, o marco regulatório não está tão bem definido como no Brasil.

Na esteira do boom do petróleo verde-e-amarelo, tanto a Ernest & Young como a IHS abriram escritórios no Rio de Janeiro para tratar do assunto. Os investimentos previstos para toda a cadeia exploratória são da ordem de US$ 1 trilhão. A cifra, que já havia sido estimada por bancos de investimento, inclui recursos das petroleiras e fornecedores, como a indústria de máquinas e equipamentos para petróleo. “Existe potencial para crescer muito mais”, reitera Rangel.

Efeitos colaterais

Se encontrar petróleo abaixo da camada de sal do oceano foi uma conquista histórica, por outro lado requer mais preparo das petroleiras e fiscalização por parte do governo. A profundidade de até 7 mil metros assusta ambientalistas. O consultor ambiental Rogério Rocco, ex-coordenador do Ibama, avaliou recentemente que as descobertas do pré-sal exigem regulação específica para prevenir acidentes.

“Não há dúvidas de que os cuidados com a exploração do pré-sal requerem tratamento próprio”. Ele avalia que o acidente da BP no Golfo, em meados do ano passado, é mais do que um sinal para se pensar em aparelhar melhor os órgãos ambientais e reguladores porque “se a Petrobras tivesse uma solução, a teria dado no Golfo do México”.

Autor: IG