Importação de engenheiro cresce 670%

O engenheiro Leonardo Milan, argentino, queria deixar a vida de mudanças a que está obrigado pela profissão. E a ALL, companhia ferroviária com operações em dez Estados brasileiros e também na Argentina, precisava há tempos de um engenheiro com especialização em ferrovias. Os dois se encontraram e, há três meses, Milan trabalha em Bauru, no Interior de São Paulo, no comando da equipe de manutenção da via da ALL. O argentino, agora, prevê se estabelecer em definitivo na cidade.

A situação de empresas que apelam para a contratação de estrangeiros para vagas especializadas, e de estrangeiros que veem no Brasil a sua grande oportunidade profissional, tem sido cada vez mais frequente. No caso de engenheiros como Milan, em que a escassez é mais grave, o movimento cresceu de forma acentuada no Brasil.

Levantamento feito pelo Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea) a pedido do Estado mostra que o aumento desses profissionais estrangeiros trabalhando no Brasil nos últimos quatro anos é de 670%: em 2006, o Confea fez a validação e o registro, por meio dos Conselhos Regionais (Crea), de 79 diplomas. Este ano, até agosto, já foram feitas 422 validações, além de outras 109 que estão em andamento, totalizando 531 certificações.

Este é um número parcial do total de engenheiros importados, já que há processos em andamento nos Creas que ainda não chegaram ao Confea. E também existem casos de engenheiros que não fazem a validação, o que é comum quando não precisam assinar laudos técnicos. “Tenho recebido vários pedidos da embaixada da Espanha, que está em crise, de Portugal e dos países da Ásia”, diz o presidente do Confea, Marcos Tulio de Melo.

O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) também registra crescimento nas autorizações para trabalhadores estrangeiros, de 18,85% no primeiro semestre deste ano, ante o mesmo período de 2009.

Segundo o MTE, das 22.188 autorizações concedidas no período, apenas 1.428 são permanentes. Este número é pouco menor do registrado em todo o ano de 2006, quando foram concedidas 25.440 autorizações, 2.055 delas permanentes.

As vagas temporárias estão relacionadas a profissionais que vêm ao Brasil para montar máquinas e equipamentos importados, para instalação ou repasse da tecnologia e também a tripulação de embarcações e pessoal de plataformas para exploração de petróleo estrangeiras.

Chineses

As contratações temporárias podem acontecer em grande escala, como no caso dos 500 chineses que participaram da instalação de uma coqueria de carvão da CSA, a nova unidade siderúrgica da Tyssenkrupp, em Sepetiba, no estado do Rio de Janeiro.

“Compramos a coqueria da China e o contrato incluía a instalação”, explica o diretor de Recursos Humanos do grupo, Valdir Monteiro. Os chineses vieram em ondas, ao longo de três anos, montaram a coqueria e treinaram 2,4 mil brasileiros para operá-la. A média por período era de 150 desses estrangeiros.

Este tipo de empreendimento gera outras contratações, de especialistas que faltam no Brasil, em ritmo acelerado. “Houve estagnação nos investimentos em negócios, com exceção do setor de petróleo e gás, retomados há dois anos com velocidade muito grande”, diz o diretor de operações da Sampling Planejamento, Treinamento e Consultoria, Fernando Quintella. “A formação de mão de obra não acompanha esse ritmo. Como ninguém vai esperar que os brasileiros se formem, o número de estrangeiros vai continuar crescendo”, diz.

A Sampling trabalha no setor de petróleo e gás, siderurgia, mineração e energia atômica, áreas que recorrem com mais frequência a estrangeiros. “Todas as grandes empresas têm especialistas estrangeiros em seu quadro”, garante Quintella.

Autor: O Estado de S.Paulo