Frio indica possível crise energética na Argentina

O aumento da demanda de energia provocado pela onda de frio polar que se abateu sobre a Argentina pôs novamente em evidência a fraqueza do sistema e a limitação da oferta devido à falta de investimentos, que já levou o país a cortar o fornecimento de gás ao Chile.

Na opinião de analistas, “faltam atrativos na Argentina para que as empresas invistam no setor da energia”, declarou o consultor Francisco Mezzadri, atribuindo este desinteresse à política de preços baixos no setor promovida pelo presidente Nestor Kirchner.

Segundo Mezzadri, as empresas que produzem energia pagam entre US$ 1,6 e US$ 2,4 por milhão de BTU (unidade térmica britânica) nos poços onde é extraído o combustível, o que representa menos da metade dos US$ 5 por milhão de BTU que o país paga pelo gás boliviano.

“Essas tarifas não representam o custo real”, declarou o analista, mencionando a diminuição da extração de gás nos grandes campos do sul e do norte da Argentina. As reservas de gás na Argentina totalizam 420 bilhões de metros cúbicos, segundo os últimos dados oficiais.

O frio intenso que surpreendeu os argentinos ontem, dia em que foi registrada a temperatura mais baixa dos últimos 36 anos para esta época do ano, provocou um aumento da demanda da energia, obrigando as companhias distribuidoras a cortar a luz em alguns bairros de Buenos Aires e o fornecimento de gás para indústrias na periferia da capital.

A Gas Natural, empresa privada que distribui o combustível a 1,3 milhão de consumidores nas periferias norte e oeste de Buenos Aires, avisou no fim de semana passado a 88 companhias de grande porte que elas deveriam suspender seu consumo de gás, situação que prosseguia nesta terça-feira (29), disse um porta-voz da empresa.

No entanto, trata-se de empresas que podem utilizar combustíveis alternativos, o que permitiu que não reduzissem a produção, segundo o funcionário da Gas Natural.

A necessidade de reservar o gás para o consumo interno determinou ontem a suspensão do fornecimento do combustível ao Chile, um país que depende da Argentina para garantir o abastecimento residencial em Santiago.

A presidente chilena, Michelle Bachelet, afirmou hoje que o governo argentino tinha se comprometido a resolver o problema o mais rápido possível.

Autor: Folha de S. Paulo