Pequeno reator vai difundir geração nuclear

A Bechtel, gigante americana dos setores de engenharia e construção civil, deve anunciar hoje parceria com a Babcock & Wilcox, fornecedora de equipamentos nucleares, para levar ao mercado um projeto de pequeno reator comercial nos próximos anos. 

A Bechtel, empresa de capital fechado, recusou-se a revelar seu investimento na joint venture, limitando-se a dizer que é “substancial”, e reafirmou seu otimismo quanto às perspectivas promissoras de novas concepções técnicas que podem baratear a energia nuclear para elétricas menores e colocar as usinas em funcionamento mais rapidamente.

No âmbito da parceria, a Bechtel ajudará a Babcock a concluir o projeto de um reator modular, denominado “mPower”, e buscar a aprovação necessária da Comissão de Regulamentação Nuclear dos EUA, conhecida pela sigla em inglês NRC, para iniciar as vendas.

A Bechtel terá a responsabilidade exclusiva pelos aspectos de engenharia, adquirindo os componentes principais e construindo as usinas modulares. As companhias ainda não informaram quais serão os custos prováveis dessas pequenas usinas nucleares.

Depois de algumas unidades terem sido construídas, esperam os parceiros, eles poderão oferecer versões padronizadas por um preço fixo, algo que os fornecedores de usinas nucleares até hoje não conseguiram. Custos imprevisíveis puniram o setor no ciclo de construção anterior e sufocaram o crescimento após a década de 1980.

Embora o tamanho médio dos reatores tenha crescido gradualmente, alguns observadores acreditam haver espaço para pequenos reatores. Esses esquemas modulares podem ser construídos em fábricas e enviados por via férrea, barcaças ou caminhões até os locais onde deverão funcionar, e depois montadas como “bloquinhos de Lego”. As pequenas dimensões permitem construção mais rápida, com menos dinheiro imobilizado em equipamentos antes de as vendas de energia começarem.

Atualmente, a Babcock produz pequenos reatores para a Marinha dos EUA, assim como combustível nuclear e componentes. No passado, a companhia projetou grandes reatores, mas queria algo que pudesse construir em suas fábricas nacionais existentes.

Sua parceira, a Bechtel, é uma das empresas com maior experiência em construção de reatores do mundo. Ela tem atualmente um contrato para construir um reator grande no Estado de Maryland e foi responsável por volume significativo de obras em 64 dos 104 reatores comerciais em operação no país.

“Nos consideramos a [empresa] principal do setor a ter 5.000 engenheiros com a palavra ” nuclear ” no currículo”, disse Jack Futcher, presidente da Bechtel Power Corp. Christofer Mowry, presidente da Babcock & Wilcox Nuclear Energy, disse que a participação da Bechtel ajudará o reator a ganhar terreno como sério concorrente para os reatores de grande porte. “A Bechtel não se envolve em projetos científicos”, disse Mowry. “Esse [acordo] vem consolidar a confiança de que a promessa desse pequeno reator irá se materializar.”

Atualmente, o reator da Babcock existe só no papel. Ainda assim, ele está atraindo interesse, especialmente de pequenas companhias de eletricidade que querem substitutos para usinas alimentadas a carvão, mas não podem arcar com os custos de reatores nucleares de tamanho padrão – que são dez vezes maiores do que a unidade de 125 megawatts da Babcock.

Em dias recentes, uma dúzia de companhias de eletricidade associaram-se a um consórcio criado para ajudar a Babcock a avançar. O interesse de empresas de eletricidade é fundamental, porque a NRC aloca mais pessoal a projetos de reatores cujos fabricantes têm clientes à espera. A Babcock e a Bechtel pretendem apresentar um pedido de certificação para o reator em 2012 e esperam iniciar sua construção a partir de 2017.

No passado, as pequenas companhias de eletricidade compravam participações minoritárias em reatores de grande porte, em associação com grandes companhias de eletricidade pertencentes a investidores, mas às vezes sentiam-se impotentes em face dos termos dos contratos. Reatores de pequeno porte são atraentes, disse Earl Watkins, principal executivo da Sunflower Electric Power Corp, porque companhias de eletricidade ainda menores poderiam ter suas próprias unidades. Se agregadas em associações, as companhias de eletricidade poderiam compartilhar equipes de segurança e de manutenção para controlar os custos.

O reator da Babcock foi projetado para ser enterrado no solo, para maior segurança e para funcionar pelo dobro do tempo entre paralisações para recarga de combustível nuclear – cerca de quatro anos -, dos reatores existentes.

A Babcock está negociando com a NRC para reduzir o número de trabalhadores dos reatores de pequeno porte. Por exemplo, uma usina composta por uma só unidade pode ter 80 funcionários de segurança, contra 400 no caso de um reator de grande porte. O número cresceria com a incorporação de mais reatores, sendo que uma usina formada por oito unidades exigiria uma equipe de segurança equivalente à empregada num único reator de grande porte. “Precisamos ser mais eficientes em termos de pessoal ou a equação econômica não fechará”, disse Mowry.

Autor: Valor Econômico