Tragédias ambientais: do Mar de Aral ao vazamento no Golfo

Há mais de cinquenta dias do derramento de petróleo da plataforma controlada pela BP (British Petroleum) no golfo do México, o desastre ambiental ainda está sem solução. De acordo com a estimativa oficial do governo norte-americano, o vazamento de óleo varia de 12 mil a 25 mil barris diários, o que equivale ao volume de praticamente uma piscina olímpica de óleo derramada no golfo do México por dia. 

Em relação ao vazamento no Golfo do México, um programador criou o IfItWasMyHome.com um mashup de dados oficiais da NOAA sobre o Google Maps, que permite projetar a atual mancha de petróleo sobre qualquer região do planeta. Assim, pode-se usar alguma região mais conhecida – como São Paulo, na imagem abaixo – para tentar ter uma margem de comparação mais próxima da nossa realidade. 

Este é mais um desastre ambiental de grandes proporções causado pelas mãos dos homens. Outras tragédias, como a do Mar de Aral e de Chernobil deixam até hoje suas marcas. 

A seguir, conheceremos um pouco da história da tragédia ambiental do Mar de Aral. E nos próximos dias iremos mais a fundo em outros desastres ambientais. 

A tragédia ecológica do Mar de Aral 

Mar de Aral, um lago terminal alimentado por dois rios principais, (Sirdaria e Amudaria) forma uma fronteira natural entre o Kasaquistão e o Uzbequistão. Era o quarto maior lago mundial em 1960; hoje, está em vias de desaparecer num pequeno e sujo poço. A destruição do Mar de Aral é um exemplo de como uma tragédia ambiental e humanitária pode ameaçar rapidamente toda uma região. Tal destruição constitui um caso clássico de desenvolvimento não-sustentado. Vale a pena estudá-lo pois, de certa forma, prefigura o que poderá acontecer a nível planetário se a humanidade continua a desperdiçar recursos finitos como a água. 

O Mar de Aral e toda a bacia do lago ganhou notoriedade mundial como uma das maiores degradações ambientais do Século XX causadas pelo homem. A União Geográfica Internacional destacou a bacia Aral, nos começos dos anos 90, como uma das zonas críticas da terra [Kasperson, 1995]. É também referida como a “Chernobil Calada”, uma catástrofe silenciosa que evoluiu lentamente, quase imperceptivelmente, ao longo das últimas décadas [Glantz e Zonn, 1991]. A redução do Mar de Aral, captou a atenção e o interesse de governos, organizações ambientais e de desenvolvimento, leigos e comunicação social nos últimos anos em todo o mundo [Ellis, 1990]. A partir de meados dos anos 80, quando os soviéticos abriram as portas ao abrigo da política de glasnost (abertura), a situação do Mar de Aral ganhou a fama, junto de muitos observadores estrangeiros, de uma calamidade ambiental [Glantz, 1998]. Desde então que os cientistas têm vindo a exigir muito mais energicamente a salvação do Mar de Aral. Infelizmente, por essa altura, já o Mar de Aral estava reduzido a um terço do seu tamanho original. Apesar de ser novamente motivo da comunicação social mundial, e debatido, com uma nova abertura na União Soviética, era uma situação de crise conhecida que estava na agenda dos políticos da Federação por mais de 30 anos. [1]

O Mar de Aral antes de 1960 

Mar de Aral fica situado a aproximadamente 600 km do Mar Cáspio. Costumava haver nele mais de 1.100 ilhas, separadas por lagoas e estreitos apertados, que deram ao mar o seu nome; na língua kasaque, Aral significa ilha. No presente, a Kok Aral, a maior de todas as ilhas (é agora uma península) dispersas pelo Mar de Aral, separa a parte nordeste, chamada Pequeno Aral, da parte sudoeste, chamada o Grande Aral. Esta forma a fronteira natural entre Kasaquistão e Uzbequistão, que partilham entre si o lago. As duas partes estão ligadas pelo estreito de Berg. O Mar de Aral era, até 1960, o quarto maior lago do mundo, cobrindo uma área de 66 mil quilómetros quadrados, com um volume estimado de mais de 1.000 km cúbicos [Kabori e Glantz, 1998]. Embora seja chamado um mar, na realidade é um lago terminal, alimentado por dois rios principais: Sirdaria no norte e Amudaria no sul. Este último, o maior rio da região, começa nas montanhas de Kunlun na cordilheira Hindu Cushe, dirige-se para noroeste através dos Montes Pamir e depois passa pelo Kirguizistão, Tadjiquistão, Uzbequistão (que forma fronteira com o Afeganistão) , Turkmenistão, e volta a passar por Uzbequistão antes de entrar no Mar de Aral. O Sirdaria que começa na base norte das montanhas Tien Shan no Kirguizistão, corre através de Tadjiquistão, Uzbequistão, Kasaquistão e depois entra no Mar de Aral [Islamov, 1998]. Por conseguinte, embora o Mar de Aral se situe entre Uzbequistão e Kasaquistão, todos os cinco estados da Ásia Central compartilham a bacia do Mar de Aral, uma área de 690 mil quilómetros quadrados. [2] Os caudais destes dois sistemas fluviais perenes, sustentavam um nível estável no Mar de Aral. Ao longo dos séculos, cerca de metade do caudal dos dois rios alcançou o Mar de Aral.

Um vasto delta sustentava uma prolífica actividade piscatória. [3] No lago, encontrava-se uma variedade de espécies de peixes que eram pescados, incluindo certas espécies que só existiam no Mar de Aral, entre eles o famoso esturjão de Aral. As suas águas alimentavam indústrias de pesca locais com capturas superiores a 40 mil toneladas anuais, enquanto os deltas dos seus principais afluentes abrigavam dezenas de lagos mais pequenos e terrenos alagadiços de grande riqueza biológica . Florestas cerradas de juncos e canas, algumas vezes estendendo-se vários quilómetros em direcção ao mar, rodeavam as margens do lago. À volta do lago e no delta fluvial, viviam grandes populações de saikas (antílopes), javalis selvagens, lobos, raposas, almíscares, perus, gansos e patos.

O Mar Aral era como um grande oásis no deserto. Durante muitos séculos, as estepes e as regiões semi – desertas abrigaram vários grupos étnicos. Antes da chegada da Rússia imperial, a população que vivia na área do Mar de Aral era, predominantemente, nómada. Este modo de vida era, até certo ponto, essencial, devido às condições de desertificação ambiental. O clima é fortemente continental e a paisagem é do tipo semi – deserto. A precipitação anual é de cerca de 200 mm. Não é possível haver agricultura com esta quantidade de chuva. Somente na zona perto dos dois rios era possível ter agricultura e por esse motivo, as pessoas que estavam afastadas das margens dos rios, viviam unicamente da criação de gado. A primeira tarefa do governo imperial russo foi fixar a população em comunidades agrícolas. Perceberam que uma terra seria boa para agricultura se houvesse água disponível. No final do século XIX, cultivou-se algodão a uma relativamente larga escala quando se introduziram novas tecnologias de irrigação. Foram abertos canais para facilitar o processo de irrigação e uma boa proporção da produção agrícola da Ásia central estava completamente dependente da irrigação.

Nos anos que se seguiram à Revolução Bolchevique cresceu o interesse na irrigação dos territórios da Ásia central. A área irrigada foi extensivamente desenvolvida nos começos dos anos 20, pois os soviéticos da altura (bolcheviques) estavam interessados em aumentar a produção do algodão. Em 1918, Lenine emitiu uma proclamação pedindo mais algodão do Turquestão. Para além disto pretendiam também controlar a população rural. Nos finais dos anos 30, sob o comando de Estaline, o ministro soviético da água iniciou um projecto maciço de desvio da água a fim de irrigar as estepes do Uzbequistão, Kasaquistão e Turkmenistão para os preparar para a cultura do algodão. O primeiro grande projecto de irrigação iniciou a operação em 1939 com a construção do canal que rodeava o Vale de Ferghana no Uzbequistão. A caminho dos finais dos anos 40, grandes quantidades de água do Rio Sirdaria foram desviadas para fins agrícolas para Kizil-Orda no Kasaquistão e para uma zona perto de Tashkent no Uzbequistão [Altan, 1995] . A produção agrícola ao longo do Sirdaria foi preparada e iniciada, com trágicas consequências para a cultura nómada kasaque. O programa de propriedade colectiva de Estaline atingiu duramente os kasaques e calcula-se que mais de um milhão de pessoas morreram ou abandonaram a região dirigindo-se para países a sul do Kasaquistão. Os kasaques que ficaram não possuíam os conhecimentos necessários e a tradição na agricultura, por isso tiveram que trazer peritos de outras partes. [4] Por os camponeses da Ásia central não aceitarem a propriedade colectiva e a industrialização da agricultura, a produção de algodão no Uzbequistão e de trigo/arroz no Kasaquistão não aumentou até perto do começo dos anos 40 [Hav, 1998]. .

A seguir à morte de Estaline em 1953, os seus sucessores, Nikita Khrushchev e, mais tarde, Leonid Brezhnev, prosseguiram a mesma política soviética na Ásia central, convertendo ainda mais terra arável para a produção de algodão. Entre os finais dos anos 50 e 1970 completaram-se vários canais de larga escala para servirem estas expansões da monocultura do algodão: o Canal Qara-Qum de 800 km, de Amudaria até Ashkhabad, o sistema de irrigação de Mirzachol Sahra, o Canal Chu no Kirguizistão e o Reservatório de Bahr-i Tajik que serve Tadjiquistão [Blake, 2002]. Começando em finais dos anos 50, Moscovo instituiu um regime de monocultura do algodão, resultando daí que todo o modo de vida se concentrou na produção de algodão, com poucos benefícios para a população e a destruição das tradições culturais indígenas. Nikita Khrushchev (1953-1964) estava pessoalmente fascinado por uma agricultura que não necessitasse húmus e que pudesse ser feita em solos arenosos, utilizando apenas grandes quantidades de água. Quer Kasaquistão quer Uzbequistão estendiam-se por vastas áreas de solos arenosos e ambos os rios passavam através deles com enormes caudais de água. Foi iniciado um programa para tornar a União Soviética auto-suficiente em trigo e algodão. O algodão requer um clima quente e foi por isso que a produção de algodão foi instalada no Uzbequistão, irrigada pelas águas do Amudaria. A produção de trigo, cevada, milho-miúdo e arroz foi colocada principalmente ao longo do Sirdaria e do seu sistema de irrigação no Kasaquistão.

A bacia de drenagem do Mar de Aral depressa se converteu numa bacia muito importante para a agricultura soviética. Durante milénios, os povos converteram, com êxito, pela irrigação, paisagens desertas em terras agrícolas. Embora a agricultura de regadio na bacia do Mar de Aral tivesse começado com as conquistas tzaristas dos séculos XVIII e XIX, a irrigação no tempo dos sovietes era diferente pois utilizava grandes quantidades de água desviadas dos principais rios da região. Projectos de irrigação a montante, para a produção de algodão e arroz, consumiam, como esponjas, mais de 90% do caudal natural destes rios. Chegados a este ponto, no começo dos finais dos anos 70, nenhuma água do Sirdaria chegava ao Mar de Aral e o Amudaria fornecia apenas um volume mínimo que decrescia constantemente [Bedford, 1996]. E a juntar a isto, e devido à elevada evaporação, estas terras concentraram muita salinidade. Para limpar o sal destes solos, construíram-se canais de drenagem que provaram ser inadequados. Grandes desvios, más construções de sistemas de irrigação e má conservação, e gestão errada dos recursos hídricos, são apontados como causas principais para a diminuição do caudal entrado no Mar de Aral o que, por sua vez, alterou o equilíbrio ecológico existente.

Morte do Mar de Aral

É publicamente aceite que esta morte trágica do Mar de Aral começou em 1960. Foi o ano em que os projectistas de Moscovo inauguraram o Projecto do Mar de Aral, um ambicioso programa económico que visava a conversão de terrenos baldios na cintura do algodão da União Soviética. Os projectistas atribuíram à Ásia central o papel de fornecedor de matérias-primas, em especial de algodão. Isto conduziu a uma redução substancial de semeaduras de colheitas tradicionais como a alfafa e de plantas que se cultivavam para fornecer óleo vegetal. Pomares e árvores de amoras foram arrancados para permitir plantar mais algodão. O desejo de expandir a produção de algodão para as terras desertas aumentou a dependência da Ásia central da irrigação, especialmente do Uzbequistão.

O Mar de Aral e os seus afluentes pareciam ser uma fonte inesgotável de água. Foram abertos canais de grande extensão para espalhar as águas dos Amudaria e Sirdaria por todo o solo desértico. A área irrigada aumentou a sua superfície em menos de uma década para 6,9 milhões de hectares: metade dessas terras produziam algodão e a outra metade arroz, trigo, milho, frutas, legumes e forragens para o gado. Não é necessário dizer-se que a agricultura de regadio não foi planeada com o propósito de destruir a natureza. Gerando um enorme rendimento, a agricultura de regadio constituiu um sucesso brilhante. Segundo Moscovo, os anos iniciais do projecto foram uma proeza. As quotas de produção do algodão e de outros produtos eram realizadas ou excedidas ano após ano. A bacia do Mar de Aral tornou-se o principal fornecedor do país de produtos frescos. Os rendimentos nas cinco repúblicas da Ásia central que compartilhavam a bacia – Kasaquistão e Uzbequistão, ao redor das margens do Mar de Aral e Kirguizistão, Tadjiquistão e Turkmenistão ao sul na bacia hidrográfica dos rios Amudaria e Sirdaria – aumentavam regularmente. De 1940 a 1980, a produção de algodão soviético aumentou de 2,24 para 9,1 milhões de toneladas. A maior parte deste algodão era proveniente do Uzbequistão, Turkmenistão e Tadjiquistão, que, conjuntamente, eram responsáveis por quase 90% de toda a produção soviética [Critchlow,199].

As complicações surgiram porque a contracção do Mar de Aral, e outras consequências causadas pela irrigação, tinham sido tratadas como questões sem importância pelas autoridades até 1970. Não foi o projecto em si, mas antes os métodos agrícolas mal concebidos e mal geridos que destruíram a economia, saúde e ecologia da bacia do Mar de Aral, afectando milhões de pessoas. Foram construídos numerosos canais e a construção de várias barragens foi feita precipitadamente. Por altura de 1978, uma extensa rede de canais de irrigação estendeu-se peles desertos para matar a sede ao algodão ao longo de 7,7 milhões de hectares, principalmente em Uzbequistão. Os canais principais e secundários foram escavados na areia sem terem sido colocadas condutas tubulares, e não se procedeu à cimentação. Também não se prestou importância à drenagem dos solos. Em certas alturas do ano, eram fechadas as comportas e a água era dirigida directamente para os campos, um sistema que causava uma tremenda perda de água. Menos de 10% da água absorvida era directamente benéfica para a colheita. A restante desaparecia no solo arenosos ou evaporava-se. Foram estes programas largamente ineficazes que eram adoptados para satisfazer a enorme procura de água que, por fim, resultaram na secagem do Mar de Aral. A resultante descida de nível do Mar de Aral era suposta ser remediada por projectos ambiciosos de desvio de rios no norte da Rússia. Esses projectos nunca se realizaram e o lago continuou a secar ano após ano. O resultado foi catastrófico, e a irrigação que fez florescer o deserto e aumentar os rendimentos, pôs em marcha uma desastrosa cadeia de acontecimentos logo detectados na descida dos níveis de água e no declínio das capturas de peixe.

Portanto, infelizmente, em vinte anos, o quarto maior mar interior da terra passou a ser uma planura de sal, seca, contaminada e tóxica. A crise ecológica na área do Mar de Aral atinge agora a que foi a fértil república autónoma do Karakalpaquistão no Uzbequistão, Tashauz Velayat no norte do Turkmenistão e Kzyl Orda Oblast na parte ocidental do Kasaquistão. Toda esta região foi atacada por um dos piores desastres ambientais. Antes de 1960, entravam no Mar de Aral 55 biliões de metros cúbicos de água, conservando-o a um nível saudável. Durante os anos 80, a média do caudal que corria para o lago era de apenas 7 mil milhões de metros cúbicos. Recentemente, apenas de 1 a 5 mil milhões de metros cúbicos chegam anualmente ao lago. Perderam-se desde 1960, 75% do volume do lago, e há fortes receios de que secará totalmente por volta de 2015. No passado, o Mar de Aral oscilava em resposta às condições climatéricas no mundo, subindo quando os glaciares derretiam e descendo quando se formavam. Em condições naturais o Mar de Aral subiria neste momento – o Mar Cáspio que se encontra próximo subiu 2 metros desde 1977 devido ao aumento da precipitação e diminuição da evaporação.

Degradação Ambiental

Tem sido publicamente reconhecido que a degradação ambiental da bacia do Mar de Aral é o resultado do tributo soviético ao Rei Algodão. A utilização luxuosa dos recursos hídricos dos rios conduziu a perdas graves no equilíbrio entre as fontes naturais de água nos ecossistemas e a utilização da água na irrigação agrícola. Os desvios de água dos dois principais rios regionais roubaram ao lago e aos deltas o reabastecimento anual de água fresca. A salinidade da água do rio é inferior a 0,7 por mil, enquanto a água no Mar de Aral era salobra, com uma salinidade de aproximadamente 9 por mil. O sal no Mar de Aral era principalmente causado pela grande evaporação, e, parcialmente, pelo facto de a água nos terrenos circundantes ao Mar de Aral ser salgada. [5] A salinidade era controlada devido à grande quantidade de água fresca proveniente dos rios Sirdaria e Amudaria. O calor de verão causava (e ainda causa) uma grande evaporação, que era a razão do bom clima ao redor de Aral antes da secagem do lago. À medida que as águas eram desviadas dos rios que alimentavam o Mar de Aral, generalizou-se a salinidade.

Os problemas ambientais criados pela secagem do Mar de Aral, para além da salinidade dos solos, incluem: aumento da salinidade da água do lago, erosão pelo vento, tempestades de poeiras salgadas, destruição dos leitos de desova dos peixes, colapso da indústria piscatória, terras encharcadas, rotura da navegação, divisão do lago por partes separadas, perda da vida selvagem nas áreas do litoral, grande redução de caudais dos dois afluentes principais, necessidade de recursos extras na bacia hidrográfica para estabilizar o nível do lago, alteração do clima regional, desaparecimento das terras de pastagem, e por aí em diante. Todos estes graves problemas ambientais estão a afectar a economia da região; uma situação combinada com médias elevadas de crescimento populacional. Viviam na zona, no começo do século XX, 8 milhões de pessoas. Desde então, a população da região aumentou para 50 milhões e a terra irrigada atingiu 7,7 milhões de hectares. Em seguida, apresentam-se discussões sobre as questões principais.

a) Desertificação: Conforme já foi descrito, a culpa da catastrófica dissecação do Mar de Aral é atribuída aos colossais projectos de irrigação na Ásia central durante o tempo dos sovietes. Como o nível do Mar de Aral desceu de 53 metros acima do nível do mar para 36 metros, a área da sua superfície encolheu para metade e o seu volume para três- quartos. A concentração salina duplicou. Em resultado disto, em complemento da queda dos níveis de água, a grande quantidade de terras irrigadas começou, a dada altura, a reduzir a sua produtividade devido à salinidade. Este fenómeno tem o nome de desertificação do Mar de Aral. A maioria das partes do fundo seco do lago está coberta de depósitos de biliões de toneladas de sais tóxicos, trazidos para ali ao longo de décadas por águas infiltradas nos rios através dos campos. A área do fundo seco do lago, conhecida localmente por “deserto de Aralkum”, tem agora cerca de 40.300 quilómetros quadrados. Durante o regime soviético, grandes áreas desta região foram utilizadas como centros militares e espaciais e, desta forma, agravou-se o problema, pois o sal está poluído por químicos. O vento soprando do lago, apanha o sal poluído pelos químicos no leito exposto e leva-o para campos de cultura à média de 75 milhões de toneladas anuais, cobrindo faixas de 40 km de largura e destruindo solos a milhares de quilómetros de distância [Sinnot, 1992] . Esses sais podem destruir as colheitas de algodão logo no começo do período de vegetação. Para retirar o sal do solo é necessário regar continuamente a terra durante um período longo de tempo. Este processo requer ainda mais água fresca, o que significa mais desvios das águas fluviais e, desta maneira, isto forma uma espécie de círculo vicioso. Por conseguinte, deserto e áreas arenosas aumentam pelo impacto do vento e mais desertificação é criada. A Academia das Ciências Uzbeque afirma que um novo deserto a sul e a leste do Mar de Aral já se expandiu para 5 milhões de hectares. Isto é muitas vezes referido ironicamente como deserto branco por que os colectores de sal tóxico estão incrustados na sua superfície depois de se misturarem com Karakum (deserto negro) e Kyzylkum (deserto vermelho) que rodeiam o Mar de Aral. O enorme deserto de areia branca brilhante, que é soprada para terrenos agrícolas, contamina a terra e obriga os agricultores a compensarem a produção enfraquecida pondo mais pesticidas e fertilizantes na terra, envenenando-a ainda mais.

Cansaço dos solos e salinidade foram exacerbados pelo uso maciço de fertilizantes e pesticidas [Kekacewicz, 2000]. O escoamento do sal, para além de diminuir áreas utilizáveis para a agricultura, destroi pastagens e, portanto, provoca carência de forragens para os animais. A produtividade das pastagens diminuiu para metade e a destruição da vegetação dos prados diminuiu 10 vezes a produtividade dos prados.

b) Destruição dos peixes no Mar de Aral: Antes de 1960 a pesca era um negócio em expansão. Uma indústria de pesca que fora próspera no passado, ficou afectada desfavoravelmente pelas quantidades crescentes de poluentes que entravam no Mar de Aral vindos dos rios, adicionado ao facto de nos últimos 30 anos mais de 60% do lago ter desaparecido. Em consequência disso, começaram a aumentar as concentrações de sais e minerais na contraída massa de água. A salinidade da água do Mar de Aral aumentou ao ponto de muitas das suas zonas terem a mesma salinidade do oceano. Esta alteração química provocou mudanças espantosas na ecologia do lago, causando rápidas baixas na população piscícola do Mar de Aral. O conteúdo mineral na água aumentou quatro vezes atingindo 40g/litro, impedindo a sobrevivência da maioria dos peixes e da fauna selvagem do lago. O peixe quase que desapareceu todo do que resta do lago, deixando milhares de pessoas sem meios de subsistência. Quando o Aral começou rapidamente a encolher, os barcos de pesca e as suas tripulações ficaram encalhados, algumas vezes a dezenas de quilómetros das antigas margens. [6] Toda a pesca comercial terminou em 1982, sendo as capturas actuais insignificantes, e comunidades piscatórias inteiras estão agora desempregadas. A perda de produtividade provocou um colapso na indústria piscatória e desemprego neste sector. Em 1960, foram capturadas 43.430 toneladas de peixe no lago, caindo para 17 mil toneladas em 1970, zero toneladas em 1980, e mantendo-se a situação até hoje [Letolle e Mainguet] .

Dois portos importantes, Aralsk e Moynaq, floresceram como centros piscatórios. O porto de Aralsk, situado a norte do Pequeno Aral no Kasaquistão era uma cidade bem organizada, com um estaleiro naval, uma indústria de pesca e um serviço de ferry. No estaleiro construíam-se barcos de 50 a 500 toneladas para transporte de carga e pesca no Mar de Aral. A estação ferroviária de Aralsk , situada na linha de Moscovo a Tashkent e Almaty, era a ligação ferroviária mais importante da Ásia central. As cargas chegadas por via férrea costumavam ser transferidas para os barcos e transportadas para sul, para o porto de Moynaq, em Karakalpsquistão, no Uzbequistão. [7] Em 1975, a pesca terminou no Pequeno Aral e Aralsk passou a ser um porto sem porto. Parou o serviço de ferry, a salinidade dos charcos aumentou, a caça diminuiu e o clima começou a sofrer alterações, entre outras razões por as grandes florestas de juncos e caniços terem desaparecido quando a água recolheu. Para que se mantivesse o emprego na indústria de pesca, introduziram peixe congelado oriundo de outras partes da União Soviética, como o Mar Báltico, Mar Branco e Oceano Pacífico. Este processo cessou com a desintegração da Federação.

Moynaq, situada na margem sul do Aral, além de ser um centro de indústria piscatória fora em tempos uma popular estância balnear. Não é possível imaginar o tempo em que esta cidade era um próspero local de veraneio. Multidões de turistas soviéticos juntavam-se em Moynaq para apanhar sol nas antigas praias e para nadar nas águas do Aral, famosas por curar doenças de pele. Crianças de cidades longínquas chegavam aos campos de verão para respirar o ar do mar e comer peixe fresco. Hoje em dia, Moynaq abrange com o olhar uma cintilante planura salgada, agora um cemitério de cascos enferrujados de barcos de pesca encalhados. O mar está a quilómetros de distância do passeio à beira-mar e não se vê a olho nu.

Esta situação não foi como uma consequência de um raio caído do céu. Desde 1970 que este assunto era amplamente discutido em círculos governamentais. Em 1977, a conferência soviética sobre o impacto ambiental de uma diminuição no nível do Mar de Aral, uma comunicação preparada por dois cientistas da República de Uzbeque, anunciava uma redução pronunciada de desembarques de pescado [Gorodetskaya e Kes, 1978]. Outros, também por essa altura, sugeriam que a morte da pesca comercial ocorreria, provavelmente, devido à secagem dos leitos de desova dos peixes [Barovsky, 1980]. Foi também sugerido no mesmo fórum, que o esgotamento dos bancos de pesca no Mar de Aral seria uma das primeiras consequências do declínio dos níveis do mar. Havia um relatório publicado num jornal da autoria de A. U. Reteyum em que este assinalava que: …”em 1965, o Conselho de Ministros da URSS tinha aprovado uma resolução especial Sobre as Medidas para Preservar a Pesca – Importância do Mar de Aral. ” Isto é um exemplo que apoia a convicção de que os sinais de deterioração na bacia do Aral eram evidentes já em meados dos anos 60 [Reteyum,1991]. Nos finais dos anos 70, era já claro que os bancos de pesca do Mar de Aral estavam num declínio irreversível e que, provavelmente, se tivessem sido adoptadas medidas adequadas esta situação actual podia ter sido evitada.

c) Mudanças Climáticas: Durante os últimos 5-10 anos a secagem do Mar de Aral trouxe alterações evidentes nas condições climatéricas. O efeito do aquecimento da água do mar no Inverno e o seu arrefecimento no Verão diminuiu dramaticamente. O Mar de Aral é um lago de deserto, abrangido por um clima continental forte, com uma variação de temperatura de 40 graus centígrados no Verão para 30 graus negativos no Inverno. No passado, o Mar de Aral era considerado como um regulador, mitigando os ventos frios que vinham da Sibéria no Inverno e evitando que as temperaturas de Verão subissem demasiado. Notava-se uma evaporação elevada (da ordem de 1700 mm por ano). A evaporação era também a razão do bom clima ao redor de Aral antes da secagem do lago, e, apesar do alto nível de evaporação, era mantido o equilíbrio da água devido aos grandes caudais fornecidos pelos dois rios. As alterações climatéricas deram origem a verões mais curtos e mais secos e invernos mais longos e mais frios na região. As temperaturas do ar no Inverno desciam e as temperaturas de Verão subiam 2 a 3 graus centígrados, incluindo observações de 49 graus C. Esta mudança para um clima mais continental, com verões mais curtos e mais quentes e invernos mais frios e mais compridos, ocasionava pouca precipitação para a colheita seguinte. A precipitação foi reduzida várias vezes nas margens do Mar de Aral. A magnitude média da precipitação é de 150-200 mm com uma considerável não-uniformidade, de acordo com as estações. A estação mais prolongada baixou também para 170 dias, perdendo os 200 dias livres de geadas necessárias para as colheitas do algodão. Como já foi explicado anteriormente, a ocorrência frequente de longas tempestades de poeiras e de ventos rasteiros são traços característicos desta região. As mais intensas ocorrem na costa oeste – com, talvez, 50 tempestades por ano. A velocidade máxima do vento atinge 20-25 m/s.

d) Condições Sanitárias: É opinião geral de que a crise sanitária na região está directamente ligada ao desaparecimento do Mar de Aral. Para tornar as coisas ainda pior, as pessoas têm pouco acesso a água potável. Os produtos químicos escoados dos campos agrícolas poluíram ainda mais o Mar de Aral, tornando a sua água imprópria para consumo, quer por humanos quer por animais. O algodão é um patrão exigente. Não só tem mais sede do que a maioria das outras colheitas comerciais, como também necessita de fortes aplicações de pesticidas para afastar gorgulhos e outras pestes. Parece frequentemente que nas mentes soviéticas a teoria era “se pouco faz bem, muito faz melhor”, — muita água, muitos pesticidas. A juntar a isto a sementeira de algodão é normalmente pulverizada com um desfolhador pelo Outono, a fim de lhe retirar as folhas para tornar mais fácil a colheita. Uma vez que a bacia é um sistema fechado sem drenagem para o exterior, os insecticidas e herbicidas pulverizados nos campos escoam para a terra, acumulando no subsolo água a níveis perigosos. Como a maior parte da água da torneira vem de poços, as pessoas bebem um cocktail de produtos químicos diluídos, alguns identificados como cancerígenos. Níveis elevados de contaminação por pesticidas são considerados como afectando a capacidade do organismo humano de absorver ferro, provocando anemia. A água utilizada para consumo humano contém para cima de 6 gramas de sal por litro, um nível quatro vezes superior à norma da Organização Mundial de Saúde. Isto tem sido relacionado com a prevalência de doenças renais. As tempestades de poeiras sopram violentamente durante mais de 60 dias por ano, espalhando resíduos tóxicos e sal deixado pela água do lago. Pensa-se que estas partículas sejam uma causa possível de doenças respiratórias e cancros. (Quando o lago eventualmente secar, calcula-se que 15 mil milhões de toneladas de sal serão lançadas na atmosfera). De acordo com Timothy Cummings, um delegado da Cruz Vermelha Americana, a trabalhar na região do Mar de Aral, a combinação de toxinas provenientes do ar e da água para consumo humano, aumentou a fraca saúde dos residentes – já susceptíveis de contrair doenças devido a alimentação deficiente. [8]

O Relatório sobre o Ambiente da URSS, uma publicação oficial do governo, salientou que a acumulação total de pesticidas no Turkmenistão era de 20 a 25 vezes da média nacional. “Em áreas de elevada utilização de pesticidas as doenças infantis (proporção de doenças) até à idade de 6 anos é 4,6 vezes superior à das regiões de baixa proporção de pesticidas” [Jones, 1999] . De acordo com a Academia de Ciências Soviética, a taxa de mortalidade infantil na região da Ásia central aumentou entre 1970 e 1985. Em Bozataus, uma região do Karakalpaquistão, uma área simultaneamente flagelada com falta de saneamento básico, cuidados de saúde infantil e maternais inadequados, e níveis crescentes de pesticidas e herbicidas na água, 110 em cada 1.000 crianças morrem antes de fazerem um ano. Em comparação com 109 em África, 95 na Índia e 37 na China. Por exemplo, em Karakalpaquistão, a taxa do cancro do esófago é sete vezes superior àquela do resto do país. E. Paronina, uma investigadora soviética, estudou as condições sanitárias em Karakalpaquistão e relatou as suas sombrias conclusões. Em resumo, eis o que ela afirma: “Tudo isto (crise sanitária) é o preço excessivo pago com a saúde da população para se ter auto-suficiência em algodão” [Jones, 1991]. Não surpreende que toda a literatura médica local esteja repleta de histórias de deformidades à nascença, incremento de doenças renais e hepáticas, gastrite crónica, crescente mortalidade infantil e taxas de aumento de cancro.

As pessoas tiveram também que se adaptar a alterações drásticas no clima. Como já foi observado, nas últimas quatro décadas os verões tornaram-se mais quentes e mais curtos e os invernos mais frios. “As alterações climatéricas não afectam, necessariamente, a propagação da doença, mas tornam a vida muito mais difícil,” diz Darin Portnoy, um especialista ocidental de tuberculose, que trabalha para um projecto do Banco Mundial em Moynaq. “As pessoas concentram-se em locais fechados durante longos períodos. Vivem encerrados e proporcionam a propagação da doença.” [9]

Quando parecia que as coisas não poderiam ficar mais deprimentes surgiu outra exasperante revelação Foi noticiado de que tinham sido enterrados barris de bactéria de antraz na Ilha de Vozrozhdeniye, situada no Mar de Aral, quando o Uzbequistão fazia parte da União Soviética. Durante o tempo que Mikhail Gorbachev esteve à frente do governo, os serviços de informação de Washington disseram que a União Soviética, contrariamente às suas promessas de respeitar os tratados, estava a produzir armas químicas. Em 1988, os Estados Unidos exigiram inspeccionar as instalações químicas soviéticas. Julga-se ter sido ordenado aos cientistas da cidade siberiana de Sverdiovsk, que transferissem centenas de toneladas de antraz para caixas gigantes de aço inoxidável e o regassem com lixívia para matar a bactéria. A mortífera carga foi depois transportada para a ilha no Mar de Aral que tinha sido o local a céu aberto para as experiências de armas biológicas. Contudo, a lixívia não matou completamente a bactéria. Amostras de testes feitos ao solo revelam que alguns esporos continuam vivos. O receio é que a bactéria de antraz enterrada possa ser transportada para os territórios uzbeque e kazaque por lagartos e pássaros. O antraz caracteriza-se por lesões nos pulmões e úlceras no corpo e é transmitido aos humanos per animais através do contacto. Tanto o Uzbequistão como o Kasaquistão pediram ajuda aos Estados Unidos para que se fizesse a determinação do perigo que os seus territórios corriam, uma vez que a Rússia não cumpriu a promessa de Boris Yeltsin em 1992, de fechar e descontaminar o local [Jones, 1999].

Estratégia Regional para a Água

Já em 1982, o governo procurou desenvolver um plano pormenorizado dos recursos hídricos das bacias dos rios Sirdaria e Amudaria e colocou estritas limitações à retirada de água. Pouco tempo depois, foram criadas duas organizações para operar e manter as principais infra-estruturas hidráulicas e controlar a utilização da água. Houve muitas propostas para se transferir água do Mar Cáspio para o Aral. [10] Um plano de longa duração consistia em desviar as águas dos rios siberianos Ob, Irtysh e Yenisey e canalizá-los para Sul, para a região do Mar de Aral e para o deserto. Após anos de controvérsia este plano foi abandonado devido aos custos e consequências ambientais, mas alguns cientistas locais ainda defendem a ideia. Outra sugestão era desfazer os glaciares das montanhas Pamir e Tien Shan com explosões nucleares. Estas ideias não eram realistas, especialmente em tempos de crise económica. Todavia, elas ainda perduram.

Com o fim do período soviético, as cinco Repúblicas da Ásia Central (RAC) independentes, estabeleceram uma comissão conjunta para a coordenação da água e para regular a sua distribuição na bacia, consolidando posições próprias para a adopção de estratégias regionais para a água. Em 1992, foi pedido ao Banco Mundial que coordenasse a ajuda internacional em resposta à crise na bacia do Mar de Aral. Em Setembro do mesmo ano, uma comissão do banco visitou a região e preparou um relatório sobre aquilo que viu. Teve lugar em Washington, em Abril de 1993, uma conferência internacional patrocinada pelo Banco Mundial, Programa Ambiental da Nações Unidas (UNEP) e Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (UNDP) para discutir a proposta do banco. Estiveram presentes representantes das cinco repúblicas, assim como de outras organizações internacionais e agências de assistência. Com base nas recomendações do Banco Mundial, um grupo que incluía o Banco, o UNEP e o UNDP visitou a região em Maio de 1993 e preparou um programa de assistência financeira em colaboração com as RAC. Este programa continha 19 projectos para a primeira etapa de um programa de três fases para salvar o Mar de Aral [Kirmani e Moigne, 1997] . As RAC, por sua vez, criaram três organizações regionais – o Concelho Interestadual, o Fundo Internacional para o Mar de Aral e a Comissão Executiva – para implementarem o programa. [11] Foi encarada, e em parte implementada, uma maior utilização das águas de drenagem e residuais, assim como a introdução de colheitas mais tolerantes ao sal. Cerca de 6 km cúbicos/ano de águas de drenagens agrícolas e de águas residuais são directamente reutilizadas para irrigação, enquanto 37 km cúbicos/ano regressam às depressões naturais ou rios, onde são misturadas com água fresca e podem ser reutilizadas para irrigação ou outros fins. O melhor que se espera é conseguir-se alguma estabilidade do lago e a sobrevivência dos dois deltas fluviais. A salvação dos deltas podia levar a uma nova actividade piscatória comercial.

Líderes governamentais afirmaram que a quantidade de terra para algodão será reduzida e que grandes quantidades de água serão bombadas para o Mar de Aral até 2005 [Bech, 1995]. Funcionários da agricultura, contudo, dizem que é impossível demolir o sistema de canais. Muitos agricultores dependem dos rendimentos da cultura do algodão. O governo indicou também que as necessidades dos agricultores de algodão estão em primeiro lugar. A exportação de algodão é uma fonte importante de rendimento. As RAC não querem extirpar a monocultura do algodão e arriscar perder as suas recompensas económicas. E assim, a maioria dos cientistas acredita que o Mar de Aral nunca irá ser como foi.

O futuro do Mar de Aral é, portanto, incerto. A única coisa certa é que o lago é agora uma catástrofe ambiental à medida que o nível de água declina e o ecossistema se degrada, provocando um ambiente de deterioração e condições de vida e de saúde precárias para os povos que vivem nas margens do lago. É agora impossível prever, com algum rigor, o futuro para o Aral, mas se não se encontrarem soluções apropriadas o nível da água continuará a declinar. Seja qual for o futuro, esta situação de certeza que abriu os olhos aos governos do mundo. É um forte aviso à comunidade internacional e ilustra a rapidez – em menos de 20 anos – como uma tragédia humanitária e ambiental pode ameaçar toda uma região e a sua população. A destruição do Mar de Aral é um exemplo clássico de desenvolvimento não-sustentado.

Fontes:

O original deste artigo encontra-se em
://www.epw.org.in/showArticles.php?root=2002&leaf=09&filename=4904&filetype=html

Este artigo encontra-se em http://resistir.info

Autor: Instituto de Engenharia