Cientistas buscam integração de pesquisas de biocombustíveis

Depois de realizar 11 encontros científicos voltados para temas específicos, o Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN) reúne pela primeira vez integrantes de todas as suas áreas.

O objetivo é discutir possibilidades de integração dos 54 projetos vigentes, visando a sinergia e a economia de recursos e evitar a duplicação de esforços.

O BIOEN Research Workshop será realizado em dois dias em São Pedro (SP), a partir desta quarta-feira (9/6).

Áreas de excelência

De acordo com Glaucia Mendes de Souza, uma das coordenadoras do BIOEN, o workshop fornecerá pela primeira vez um quadro geral de todas as questões científicas e áreas de atuação envolvidas no programa.

“Queremos fazer um mapa de instituições e de suas áreas de atuação no programa, identificando a excelência de cada uma. Pretendemos que os pesquisadores apresentem suas equipes – incluindo colaborações internacionais -, descrevam seus objetivos, expliquem que metodologias irão usar, que infraestrutura vão instalar e, em alguns casos, apresentem resultados preliminares”, disse Glaucia.

Os pesquisadores descreverão, de forma sucinta, a infraestrutura que está sendo instalada pelas instituições para pesquisa em bioenergia – incluindo equipamentos, instalação e treinamento de pessoal – e situarão seus projetos no quadro da pesquisa mundial.

“O objetivo é saber em que áreas estamos à frente e em quais estamos atrasados. Vamos identificar prioridades, elencando as áreas nas quais há pouca pesquisa e às quais precisamos dar estímulo. Queremos saber também em que áreas podemos realmente ter pesquisa de alto impacto”, afirmou.

Bioenergia de impacto mundial

Um dos objetivos do programa consiste em aumentar o impacto das publicações e conseguir projetar internacionalmente a pesquisa feita no país sobre bioenergia. Para isso, é preciso publicar em revistas de alto impacto.

“Uma das estratégias para isso consiste em fazer com que os pesquisadores comecem a trabalhar juntos, integrados para a realização de estudos multidisciplinares. Queremos fazer com que um pesquisador que está trabalhando com fisiologia sozinho em um instituto possa dialogar com alguém que está estudando a genômica daquele mesmo assunto, por exemplo”, disse.

“Sozinhos, cada um deles poderia publicar em revistas de menor impacto de suas respectivas áreas. Mas, se trabalharem juntos, serão capazes de fazer artigos com muito mais força, publicando em revistas mais importantes”, completou.

Problemas científicos

Outro objetivo do workshop é identificar problemas científicos que representam obstáculos centrais na pesquisa sobre bioenergia.

“Essa abordagem foi feita em workshops anteriores, mas nunca com todas as áreas envolvidas. Queremos identificar os desafios científicos para cada uma das áreas, enumerar os problemas e identificar quais são os gargalos para a pesquisa”, explicou Glaucia.

O workshop servirá também para consolidar a visão geral do programa BIOEN. “Recebemos, no Brasil, muitas missões internacionais na área de bioenergia. Queremos definir com mais clareza o que temos para mostrar. É importante saber com precisão que visão de bioenergia e de matriz energética daremos para esses colaboradores”, afirmou.

Impactos dos biocombustíveis

O BIOEN está dividido em cinco grandes áreas que serão abordadas no workshop: biomassa, processamento, biorrefinaria, motores e impactos.

“A maioria dos projetos está nas divisões de biomassa e processamento. Há poucos, por exemplo, na área de impacto, que, no entanto, tem grande importância para o setor. Queremos discutir esse tipo de desequilíbrio para tentar avançar mais onde há mais necessidade”, indicou Glaucia.

Dos 54 projetos, 22 são da divisão de biomassa, 21 de processamento, cinco de impactos, quatro de biorrefinarias, um de motores e um que se estende pelas três primeiras divisões. Mais da metade dos 21 projetos de biomassa corresponde à área de biotecnologia. Segundo Glaucia, trata-se de uma herança do Projeto Sucest-FUN, também conhecido como Projeto Genoma da Cana.

“O Sucest-FUN estabeleceu condições para o conhecimento de variações de expressão gênica em diferentes variedades de cana-de-açúcar. O projeto estimulou os cientistas a trabalhar no melhoramento de cana usando a rota biotecnológica e isso se reflete hoje no BIOEN. Mas temos que avançar em outras áreas também”, destacou.

Segundo a pesquisadora, dos 21 projetos da divisão de processamento, 15 se relacionam ao desenvolvimento do etanol celulósico. “Sem dúvida é uma área importante. Mas há aspectos de processamento que precisavam ser atacados também. Temos, por exemplo, apenas dois projetos na área de leveduras, que é importantíssima para o Brasil”, disse.

Consultores e avaliação

O workshop terá um quadro consultivo internacional composto por três membros internacionais e três brasileiros.

“A ideia é que os consultores ajudem a avaliar o BIOEN. Vamos buscar suas expertises para verificar se estamos no caminho certo. Cada um dos pesquisadores irá expor suas metodologias e talvez algumas possam ser melhoradas. Queremos que nos ajudem também na coordenação a montar uma maneira eficiente de integrar os projetos, acompanhar e organizar os eventos”, disse Glaucia.

Alguns projetos do BIOEN já têm resultados a serem apresentados, pois estavam em andamento quando o programa foi lançado e, por identificação com os objetivos do programa, foram a ele agregados. Esses projetos já poderão ser avaliados pelos consultores.

“Os outros projetos ainda não podem ter sua produção avaliada agora, pois estão em estágio inicial, mas dentro de um ano poderão passar pela avaliação e nós já teremos os métodos para isso”, disse.

A atuação dos consultores também será importante, segundo Glaucia, para balizar novas chamadas de projetos para o BIOEN. “Estamos fazendo colaborações internacionais com empresas e outros consórcios de pesquisas e deveremos ter novas chamadas de projetos. A avaliação poderá ajudar a orientar as próximas chamadas, apontando as áreas nas quais estamos publicando bem e estimular as áreas que consideramos essenciais, mas que ainda estão pouco desenvolvidas”, explicou.

Autor: Agência Fapesp