A Rio Tinto conectou suas minas australianas a satélites, para que funcionários a mais de 1.200 quilômetros de distância possam operar por controle remoto máquinas de perfuração e transportes de carga, e até mesmo usar robôs para instalar explosivos e remover rochas e solo.
O centro de operações da empresa em Perth, que usa uma série de equipamentos de alta tecnologia para administrar um dos trabalhos mais antigos e difíceis que existem, é uma incubadora para as novas técnicas que estão permitindo às mineradoras ir a lugares mais remotos, cavar mais fundo e transportar o minério ao mercado com mais agilidade. O centro também tem como objetivo diminuir os custos da Rio Tinto, já que reduz o número de funcionários e aumenta sua segurança.
“Investimos dezenas de milhões de dólares”, disse John McGrath, diretor de inovação da Rio Tinto. Ele não quis revelar quanto foi investido ou economizado, ou quantos empregos foram afetados pelo centro.
A inovação é fruto da necessidade. A maioria das jazidas acessíveis e fáceis de explorar já foi exaurida, pressionando as mineradoras para locais mais remotos em busca de ferro, cobre, carvão e outros metais e minerais.
“A indústria de mineração tem sido muito inovadora”, disse Andrew Keen, analista de mineração da HSBC Global Research, “usando tecnologia para diminuir os custos do negócio, para compensar o declínio na qualidade das jazidas.”
A BHP Billiton Ltd., maior mineradora do mundo em receita, se uniu à Caterpillar Inc. para projetar caminhões sem motoristas. “Temos automação em várias partes, mas no atual estágio ainda não a temos em veículos”, disse o porta-voz da BHP Ruban Yogarajah. A Vale S.A., segunda maior mineradora do mundo, tem esteiras automatizadas e máquinas operadas por controle remoto.
Mas a Rio Tinto ainda é a mais envolvida em automatização e operações por controle remoto, usando um labirinto de cabos, satélites e aparelhos de GPS na região de Pilbara, na Austrália. A Rio Tinto é responsável pela produção de aproximadamente 23% do ferro transportado maritimamente no mundo, e a maioria do minério vem de Pilbara.
A remota região no noroeste da Austrália é conhecida por abrigar insetos e répteis venenosos e ser alvo de ciclones. Durante o boom econômico, as mineradoras tiveram problemas para contratar operários, que eram levados de avião para ficar várias semanas em alojamentos da empresa e depois voltavam pela mesma via. O sistema era caro, assim como os salários e a hora extra, que levavam a renda anual dos mineiros para mais de US$ 100.000, mesmo nas tarefas que não exigem treinamento específico.
Os robôs podem perfurar automaticamente 1 milhão de buracos por ano, eliminando milhares de horas de trabalho humano. Os buracos são perfurados a pouca distância uns dos outros para testar a rocha e o minério no subsolo e determinar a amplitude e profundidade das jazidas.
Nas minas de Pilbara, os robôs, monitorados por câmeras que transmitem imagens e dados para o centro de operações em Perth, removem o minério e o levam a esteiras rolantes enquanto os banham com jatos d água para remover a sujeira e diminuir a poeira em suspensão. Quando uma área da mina termina de ser processada, os robôs distribuem os explosivos, reduzindo o potencial de acidentes.
A Rio Tinto precisa de muita cautela ao lidar com os sindicatos australianos. Se usar automatização demais em detrimento de vagas de trabalho, certamente vai atrair a ira dos trabalhadores sindicalizados locais. Mas a questão ainda não se transformou num motivo de conflito porque as minas de Pilbara estão operando a 100% da capacidade e a criação de postos de trabalho não foi ameaçada.
A Rio Tinto começou a testar o projeto de operação por controle remoto há uns cinco anos numa mina em Pilbara ligada a um pequeno centro de operações no centro de Perth. Desde então ela construiu um centro de operações maior que emprega 300 pessoas para monitorar e controlar parte das operações de 11 minas em Pilbara.
Um dos problemas, disse McGagh, foi configurar as redes sem fio para que não fossem bloqueadas pelo terreno acidentado entre o aeroporto de Perth e Pilbara, em que o terreno é principalmente plano.
Outra preocupação foi garantir que haveria segurança suficiente para impedir que alguém invada o sistema e assuma o controle da mina. “Temos um exército inteiro de gênios de computador”, disse McGagh. “Precisamos de um volume gigantesco de segurança, e de segurança física dentro da mina, para evitar que alguém assuma o controle.”
No centro de controle, engenheiros monitoram telões e determinam os movimentos das máquinas automatizadas. O centro é dividido em três aglomerados circulares. Um monitora a perfuração, a escavação e os testes. O segundo, a ferrovia, mostrando a localização dos trens e como operá-los mais eficientemente entre as minas e o porto. O terceiro círculo controla o porto de Pilbara, onde os trens próprios da empresa depositam o minério nos navios.
A Rio Tinto também está tentando desenvolver um caminhão automatizado para as minas, o que evitaria ter motoristas envolvidos no transporte de carregamentos de terra e explosivos de uma parte da mina para a outra. A empresa também está estudando como operar com segurança um trem automatizado, como os usados para transportar passageiros em alguns aeroportos, em seus mais de 1.100 km de trilhos próprios. No momento, o sistema ferroviário da Rio Tinto tem algumas funções automatizadas — como carregamento e entrega — para evitar engarrafamentos. Mas o trem mesmo ainda é dirigido por um engenheiro a bordo
Autor: The Wall Street Journal