Prevenção de danos causados por raios é objeto de centro de estudos

No Brasil, 75 pessoas morreram em 2008 atingidas por descargas atmosféricas, segundo levantamento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Os raios também figuram como responsáveis por prejuízos de R$ 1 bilhão, do qual metade está no setor elétrico e outras parcelas significativas nas telecomunicações e companhias de seguro. Ainda segundo estudo do instituto, o Brasil é campeão mundial de relâmpagos, com 50 milhões de ocorrências anuais.

A necessidade de prevenir danos provocados pelo fenômeno levou à formação de um grande número de grupos de pesquisa na área, como o Centro de Estudos em Descargas Atmosféricas e Alta Tensão (Cendat) no Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE) da USP. O país é referência no setor e abriga um dos principais encontros científicos da área, programado para novembro em Curitiba (PR).

Um resultado prático dessa produção é a Rede Integrada Nacional de Detecção de Descargas Atmosféricas (Rindat), formada por diversos núcleos vinculados a universidades, empresas estatais e privadas, além do Inpe. A função da rede é monitorar a incidência compartilhando informações colhidas por sensores e antenas. As nuvens maiores são observadas e, por algoritmos matemáticos, calcula-se onde ocorreu o raio. As regiões Sul, Sudeste e partes do Centro Oeste e Norte do país são cobertas pelos sensores.

Segundo o professor Alexandre Piantini, coordenador do Cendat, uma das razões que faz com que o Brasil seja destaque na incidência de raios é estrutural: o setor elétrico brasileiro concentra-se na matriz hidrelétrica, o que faz com que as usinas estejam distantes dos grandes centros consumidores, tornando necessária a distribuição por quilômetros de fios aéreos suspensos em torres e postes tanto em áreas urbanas quanto extensas regiões rurais. A adoção de uma extensa rede aérea – menos custosa do que uma opção subterrânea, por exemplo – torna a estrutura alvo “preferencial” das descargas, já que postes e torres, por se destacarem na paisagem pela altura, exercem maior atração sobre os raios.

Como explica Piantini, há muita pesquisa para contornar esse cenário, a começar pela escolha do trajeto entre a usina geradora e os centros consumidores.”Os raios tendem a atingir locais elevados”, explica Piantini. “Se a rede pode passar por um vale ou por uma floresta, é melhor (menos suscetível) do que em área aberta”, exemplifica. Ele faz, porém, uma ressalva: a avaliação não é simples por que as descargas são um fenômeno complexo e a maior parte dos casos estudados são os que ocorrem entre as nuvens e o solo. No entanto, cerca de 75% dos raios ocorrem dentro das próprias nuvens, alerta o docente.

No Cendat, a pesquisa é feita do ponto de vista da engenharia, estudando as interações entre raios e o sistema elétrico. O desafio é buscar formas de evitar que a alta corrente das descargas atmosféricas chegue à rede elétrica, elevando a tensão a níveis para os quais ela não foi projetada. A maior parte das interrupções de fornecimento de energia elétrica no país decorre de transformadores queimados por raios.

As pesquisas se dividem em três formas. A primeira são modelos em escala reduzida, realizados desde os anos 1990, com a criação de modelos inovadores em conjunto com outros grupos, como a Unviersidade de Bolonha, na Itália. Outro modo são modelos matemáticos para prever a elevação da tensão na interação dos raios com a rede. O terceiro são análises de benefícios que de métodos de prevenção.

Simpósio
O centro destaca-se na produção do país e é reconhecido internacionalmente. A cada dois anos, o Cendat organiza, desde 1988, um encontro entre os principais expoentes internacionais da área no Simpósio Internacional de Proteção contra Desgargas Atmosféricas (SIPDA), que em 2009 será realizado de 9 a 13 de novembro, em Curitiba (PR). Na sua décima edição, o evento contribui com o estudo da questão em toda a América Latina e faz parte do calendário internacional do setor.

Por envolver desde questões relacionadas à rede elétrica até cuidados médicos no tratamento de pessoas atingidas por raios, o evento tem uma característica multidisciplinar.

Autor: USP Online