Renovação do Porto de Santos

Não faltam projetos e o setor privado está disposto a investir para dar uma nova cara ao Porto de Santos, de modo a apagar sua imagem caótica e eliminar o risco de um colapso no comércio exterior brasileiro nos próximos anos. Um plano de crescimento da demanda dos serviços portuários, que está sendo elaborado pelo Banco Mundial e deve ser concluído até o fim do ano, prevê o aumento de quase 160%, entre 2009 e 2024, na movimentação do Porto de Santos, que passaria de 89 milhões para 230 milhões de toneladas. Essa projeção justifica os investimentos programados.

Em algumas áreas, o porto já se transformou num grande canteiro de obras. Dúvidas, no entanto, ainda podem retardar boa parte dos investimentos privados, que correspondem a mais de 70% do total programado (o restante é de responsabilidade do governo), de R$ 5,2 bilhões. As dúvidas são alimentadas pela lentidão com que o governo vem fazendo sua parte. Sem acessos adequados por terra e por via marítima, os terminais em construção ou programados pelas empresas particulares não terão a utilização adequada.

As obras de infraestrutura necessárias para assegurar o aumento da movimentação de carga em Santos são de responsabilidade do governo federal. Entre elas está a construção da Avenida Perimetral da margem direita, de 6 quilômetros de extensão, com um pontilhão e duas alças de viaduto e custo previsto de R$ 107 milhões. Na margem esquerda haverá uma nova Avenida Perimetral, com 5 quilômetros, ao custo de R$ 70 milhões.

As obras de alargamento – de 150 metros para 220 metros nos pontos mais estreitos – e o aprofundamento de 12 metros para um mínimo de 15 metros, e depois para 17 metros, do canal do Porto de Santos deverão ser iniciadas ainda este ano, de acordo com informação do presidente da Companhia Docas do Estado de São Paulo, José Roberto Correia Serra. Essas obras são indispensáveis para a navegação simultânea nos dois sentidos de navios de grande porte e fazem parte de antigos projetos de melhoria e modernização do Porto de Santos.

A dezenas de quilômetros de distância do porto, porém, ainda não foi iniciada uma obra considerada prioritária pelos governos federal e estadual e também pela iniciativa privada. Trata-se do Ferroanel, cuja execução está emperrada porque ainda não há acordo sobre o trecho que será construído em primeiro lugar. Como o Rodoanel, o Ferroanel circundará a capital para retirar o fluxo de cargas por trilho das áreas centrais, onde o transporte de passageiros tem preferência. Como a ferrovia é compartilhada por trens de passageiros e composições de carga que se dirigem a Santos, estas só podem utilizá-la de madrugada. A Companhia Paulista de Transportes Metropolitanos, que opera os trens de passageiros, pretende ampliar seus serviços, para atender à demanda, o que deve limitar ainda mais o transporte de cargas. Por isso, é preciso que as autoridades federais e estaduais cheguem rapidamente a um acordo sobre o trecho que será construído em primeiro lugar, se a alça norte ou a sul do Ferroanel.

Da parte do setor privado, os projetos ferroviários já estão sendo executados. A Rumo Logística, do Grupo Cosan, por exemplo, está investindo R$ 1,2 bilhão em infraestrutura ferroviária para transportar açúcar do interior de São Paulo para o porto. Com isso, pretende elevar de 17% para 70% a participação da ferrovia no transporte de sua produção destinada à exportação.

Na área portuária, a obra mais avançada é a da ampliação do Tecondi, para a movimentação de contêineres na margem direita, cuja capacidade passará de 318 mil TEUs (medida que equivale a um contêiner de 20 pés) para 700 mil TEUs. Os guindastes antigos serão substituídos por equipamentos modernos conhecidos por portêineres e transtêineres. O terminal ganhará também um berço de atracação com 320 metros de comprimento e profundidade de 14,5 metros. Outros grupos privados que operam no Porto de Santos também estão investindo para atender ao aumento da movimentação de cargas em contêineres e a granel líquido, especialmente o etanol.

Autor: Folha de S.Paulo