Discurso do ex-presidente Edemar de Souza Amorim durante posse de Aluizio de Barros Fagundes

Senhoras e senhores,

Há dois anos, neste auditório, assumi o compromisso de conduzir o processo de modernização do Instituto de Engenharia e a conseqüente recuperação de sua imagem institucional, repensando seu papel e passando de uma instituição representante de categoria para uma articuladora de debates, de depósito de informações à construtora de conhecimento, de uma entidade isolada à líder de um movimento em prol de um Brasil melhor.

Hoje, contrariando a preferência de todos, cuja participação foi fundamental para o sucesso deste trabalho, não vou falar de realizações. Elas estão disponíveis a todos num relatório de quase 100 páginas, cuja leitura agora seria um ato de extrema crueldade com todos os presentes. Portanto, aos funcionários, diretores, conselheiros e vice-presidentes, agradeço sua dedicação, seu empenho, suas idéias e principalmente sua paciência com seu presidente. Estas foram contribuições fundamentais para nosso sucesso.

Hoje não é um dia para se olhar para trás, comemorar sucessos, criticar adversários, lamentar oportunidades perdidas ou alardear capacidade administrativa. Hoje é dia de renovar a esperança no futuro, compartilhar a visão da liderança, realinhar os esforços. Estamos aqui para empossar uma nova gestão, dando as boas vindas e desejando toda a sorte na condução da bandeira da engenharia pelos próximos dois anos e formalizar nosso apoio ao presidente e sua equipe, entregando-lhes os cargos, sem contudo deixar de trabalhar pelo Instituto de Engenharia.

Caro Aluízio, nada me alegraria mais do que poder lhe dizer que esta é uma caminhada tranqüila, onde todos os envolvidos estão comprometidos e os interesses comuns prevalecem às agendas pessoais e que o Brasil é um país simples de trabalhar. Porém como dizem: “a rapadura apesar de doce, não é mole”. A felicidade da missão cumprida será precedida pela ansiedade da espera, pela frustração dos erros, pela irritação da falta de apoio, dentre muitos outros tantos sentimentos e emoções menos nobres, cuja memória se esvanece a cada nova vitória e a cada novo passo em direção ao nosso objetivo. 

Em sua caminhada, você encontrará a comunidade de profissionais fragmentada, com centenas de pequenas associações lutando por sua sobrevivência e por espaço, na defesa dos interesses de seus associados; onde o sistema CONFEA/CREA enfrenta o descrédito perante os engenheiros e arquitetos pela incapacidade de atender suas expectativas sem uma reforma em sua legislação.

Você também encontrará um sistema educacional inadequado para a formação de novos engenheiros, desesperadamente necessários para recuperar os efeitos de mais de duas décadas de crises econômicas e de investimentos insuficientes em infra-estrutura e desenvolvimento. Cursos mal elaborados, cargas horárias reduzidas, excesso de especializações e o mercantilismo puro do ensino, são apenas parte de um problema, que precisa ser encarado.

Mas o mais grave será enfrentar um país onde a mediocridade na gestão pública é a regra e não a exceção. Onde, apesar das enormes diferenças regionais, a preferência pelas decisões políticas sobre as técnicas é uma das poucas características comuns em todas as instâncias do poder.

O Brasil é, infelizmente, um país acuado. Refém de uma mentalidade revanchista, onde a necessidade dos cidadãos é diariamente submetida à vontade de autoridades inconseqüentes no cumprimento de suas agendas pessoais ou políticas.

Lemos diariamente nos jornais ataques injustificados a grandes empresas, onde o espetáculo policialesco supera o bom senso, o rito jurídico, num drama Kafkaniano digno de uma produção de Hollywood, elevando à categoria de marginais, executivos sérios e comparando empresas de porte multinacional às organizações criminosas.

Assistimos ao poder judiciário a serviço de ambientalistas, sindicatos, associações, igrejas, organizações sócio-criminais como o MST, atrasar o desenvolvimento do país, paralisando obras, determinando preços inexeqüíveis, atrapalhando também as indústrias e o agronegócio.

Somos expostos a uma gestão eleitoreira mais dedicada à geração de factóides públicos e à divulgação “ad nauseam” das mais diversas mentiras sobre a real situação do país, do que ao planejamento e execução de ações reais, eficazes e eficientes, na condução deste país ao primeiro mundo.

Enfim caro Aluísio, apesar do cenário sombrio, é possível levar a missão do Instituto de Engenharia adiante. Transformando-o numa entidade forte, articuladora, líder e principalmente moderna.

A receita é se apoiar nas pessoas certas, aquelas cuja participação em uma entidade de classe é derivada da vontade de servir sua comunidade, onde a deferência do cargo é irrelevante face à satisfação de um trabalho bem feito.

Apóie-se também na relação construída com o CONFEA e o CREA, nas pessoas de Marcos Túlio de Melo e José Tadeu da Silva, com o Instituto do Paraná nas pessoas do Luiz Claudio Mehl e Jaime Sunyê Neto, com a Sociedade de Engenharia do Rio Grande do Sul dirigida pelo Newton Quites, com o Helói Moreira do Clube de Engenharia, com o Marcio Trindade da Sociedade Mineira de Engenheiros e com o Instituto de Arquitetos do Brasil. Grandes amigos, cuja visão da defesa da engenharia é a mesma do Instituto de Engenharia.

Não ceda às pressões pela acomodação política, nascidas do vício da submissão ao poder público, pois o silêncio é o maior crime que uma entidade como o Instituto de Engenharia pode cometer ante o caos que impera no Brasil.

Não dê ouvidos aos conformistas, aos saudosistas e todos aqueles que usam as memórias de um tempo mais ameno para usar o Instituto de Engenharia para fins pessoais, cujo único objetivo é incorporar o prestigio de nossa instituição aos seus currículos, e usufruindo de benefícios aos quais não fazem por merecer, como viagens, convites ou até vagas no estacionamento.

Por fim caro Aluizio, o segredo é diferenciar-se dos medíocres, assumindo uma postura corajosa, independente e altiva, mostrando que a construção de um Brasil melhor passa pela reconstrução da engenharia e pelo Instituto de Engenharia.

Tenho certeza de que todos aqueles, (e me incluo neste grupo) que hoje passaram seus cargos para sua equipe, estão prontos para trabalhar ao seu lado, apenas pelo orgulho de participar deste movimento.

Obrigado 

Autor: Edemar de Souza AMorim