Rodovias ultrapassadas

Não é só da promoção do setor exportador no estrangeiro, como alertou o ministro britânico Peter Mandelson em entrevista à Folha, que o Brasil descuida. O desleixo estratégico começa na base da infraestrutura -como a malha para escoar a produção agrícola, que em muitos pontos-chave está caindo aos pedaços. 

A incúria atinge em cheio a região de maior produtividade do agronegócio exportador, no Centro-Oeste, como revelou reportagem de Agnaldo Brito neste domingo. O trecho de 300 km da BR-163 entre Rondonópolis e Nobres (MT), por onde trafega grande parte da safra de soja, encontra-se em obras, segundo o acompanhamento do PAC, no qual reservaram-se R$ 540 milhões para sua duplicação. Mas não há ali vestígio disso, apenas crateras. 

A lentidão e o desgaste das carretas prejudica a competitividade da soja de Mato Grosso. Ela sai com desvantagem de 31% em despesas de frete diante de produtores paranaenses, e só pela excelente produtividade consegue disputar mercado. 

Eis um exemplo, entre muitos outros, do custo Brasil em sua vertente logística. O próprio Ministério da Agricultura informa que o governo federal gasta anualmente R$ 1 bilhão para subsidiar o transporte e compensar a deficiência da infraestrutura de escoamento. 

Em paralelo, arrasta-se a privatização de rodovias federais, meio mais eficiente de promover os investimentos necessários. Desde outubro de 2007, quando sete lotes foram concedidos, só houve leilão de um trecho de 681 km na Bahia. O Planalto promete licitar outras seis estradas, num total de 3.674 km. 

Não é porque o país atravessa uma crise que o governo pode descuidar de prepará-lo para o futuro. Rodovias modernas não se constroem nem reconstroem de um dia para o outro.

Autor: Folha de S.Paulo