Pesquisa da Poli/USP aponta as principais causas de acidentes em barragens de rejeitos

Pesquisa realizada pelo Departamento de Engenharia de Minas e de Petróleo da Escola Politécnica da USP mostra que 71,1% dos casos de acidentes em barragens de contenção rejeitos de minérios têm como principais causas a liquefação e o piping. Liquefação é quando um sedimento sólido apresenta repentina redução na resistência ao cisalhamento devido ao acréscimo da pressão intersticial, e passa a se comportar como se fosse um líquido. Já o piping é o carreamento por percolação de água de partículas de um solo por erosão subterrânea, originando assim uma abertura progressiva de canais dentro da massa de solo, em sentido contrário ao fluxo d’água. No Brasil, vários casos de acidentes de barragens de rejeitos foram originados por liquefação e piping, causando mortes, impactos ambientais de grande proporção e prejuízos vultosos para as mineradoras.

O estudo, baseado em uma análise estatística de 45 casos de acidentes ocorridos em todo o mundo, revela que esses acidentes são causados pela infiltração de líqüidos no maciço da barragem que não são controlados pela mineradora, seja durante a construção, no funcionamento da barragem ou na fase de abandono. O problema se agrava porque a maior parte das barragens de rejeitos é construída pelo método de alteamento para montante, que apresenta sérios problemas relacionados aos aspectos construtivos e de segurança.

Segundo o autor da pesquisa, o engenheiro Fernando Ivan Vásquez Arnez, esse tipo de barragem, além de ser de baixo custo, possibilita maior capacidade de armazenamento de rejeitos. “No entanto, há poucas especificações técnicas relacionadas a este tipo de estruturas”, diz. Para controlar os riscos de liquefação ou piping, as mineradoras costumam colocar piezômetros ou lançar corantes na lagoa da barragem durante o alteamento. Outras usam softwares que simulam o comportamento da barragem, mas os dados apresentados geralmente só são compreendidos pelos técnicos mais capacitados. “Ou seja, nem sempre os funcionários que trabalham na barragem têm parâmetros e conhecimentos técnico-científicos para detectar indícios de risco iminente. Em muitos casos, o problema é detectado tarde demais para evitar uma tragédia”, ressalta Arnez.

Método de controle – Para oferecer um parâmetro mais eficaz no controle de risco, Arnez, em outra pesquisa, simulando o alteamento da barragem de rejeito construída pelo método de montante, através de um modelo físico reduzido de uma barragem do complexo de mineração de Tapira (MG) da empresa Fosfértil. “Foram analisados a influência do processo de deposição hidráulica dos rejeitos, da água do reservatório, percolação, segregação dos rejeitos nas praias, da geometria do talude da praia e do talude de jusante do maciço”, explica.
A pesquisa, que é fruto de sua tese de doutorado, mostrou que o modelo reduzido simula de maneira mais objetiva o comportamento do rejeito. “Isso possibilitaria prever riscos de acidentes, e de uma forma compreensível por todos os funcionários”, afirma Arnez.

Para o coordenador da pesquisa, o professor Lindolfo Soares do Departamento de Minas e de Petróleo da Poli, que estuda o assunto há mais de dez anos, a pesquisa traz uma importante contribuição na medida em que aponta uma alternativa para o controle de risco nas barragens construídas pelo método de alteamento para montante. “Historicamente, a disposição dos resíduos de minérios sempre foi feita pelo menor custo possível, mas, hoje, com as leis cada vez mais rígidas, essa etapa requer um controle mais adequado por parte das mineradoras”, finaliza.

Autor: CREA – SP