Falta de crédito ameaça leilão de rodovias em SP

A dificuldade em se obter crédito neste cenário internacional de crise fez com que as empresas inscritas para o leilão das concessões de cinco rodovias do Estado de São Paulo pedissem ao governo estadual o adiamento. A situação é crítica, porque uma das condições para participar é apresentar carta de garantia de banco ou seguradora já no dia do leilão, marcado para 29 de outubro. 

Os cinco lotes representam um total de R$ 3, 5 bilhões, que é o valor a ser desembolsado pelas outorgas. A assessoria da secretaria dos Transportes informou não ter recebido até ontem nenhum pedido oficial das empresas de adiamento. 

Segundo a secretaria, o secretário dos Transportes, Mauro Arce, já teria informado a empresas e bancos em conversas informais sua decisão de manter a data do leilão. Executivos do setor dizem que o secretário argumenta que não adianta adiar o leilão por alguns meses, porque a crise internacional não termina tão cedo. 

Segundo algumas fontes do setor, justamente por se acreditar que a crise não se resolva no curto prazo, adiar somente não é uma solução. Seria preciso alterar algumas condições como o prazo do pagamento da outorga, estabelecido em 18 meses, e a necessidade de desembolsar 20% já na assinatura do contrato. 

O leilão do rodoanel, por exemplo, tinha condições mais favoráveis como 24 meses para pagamento da outorga. 

Além dos R$ 3, 5 bilhões necessários para as outorgas, as empresas ainda precisam fazer investimentos da ordem de R$ 9 bilhões. Isso significa que precisam ainda de um empréstimo-ponte para começar as obras até que os recursos do BNDES sejam liberados. E só fazendo os investimentos é que podem começar a cobrar pedágio, depois de seis meses. 

Segundo o presidente de uma das empresas inscritas, algumas companhias estão com dificuldades para levantar os recursos. “O valor da outorga é alto e muitas empresas com necessidades de financiamento mais urgentes, de outras obras, estão com problemas para conseguir crédito”, afirma o executivo. 

As empresas que já tinham negociado recursos com o BNDES não tiveram aumento nos custos de suas linhas. Mas uma das empresas fechou recentemente um empréstimo de curto prazo, de pouco mais de R$ 100 milhões, no qual o spread dobrou, saindo de CDI mais 2% ao ano para CDI mais 4% ao ano. 

O principal lote leiloado será o da concessão da rodovia Dom Pedro, que só de outorga exige mais de R$ 1 bilhão. Um dos argumentos da secretaria para não adiar o leilão é o grande interesse que as concessões vinham atraindo até o agravamento da crise de crédito. 

Na concessão da Raposo Tavares, por exemplo, 32 empresas pediram informações técnicas sobre a concessão.

Autor: Valor Econômico