Setor privado teme demanda fraca por trem para Cumbica

O governo paulista ainda não conseguiu convencer os empresários da viabilidade econômico-financeira da concessão do Expresso Aeroporto, trem que ligará a estação da Luz, no centro da capital paulista, ao aeroporto de Guarulhos em 20 minutos, um investimento de R$ 1,7 bilhão. 

A perspectiva de demanda de 19 mil pessoas por dia, em 2011, até 42 mil após a construção do terceiro terminal no aeroporto não foi aceita pelas 200 pessoas que compareceram à audiência pública sobre o empreendimento ontem na capital paulista. 

O público, formado por representantes de cerca de 130 companhias, entre elas construtoras, bancos e fabricantes de equipamentos, apresentou 52 questões focadas principalmente no risco de demanda. As perguntas serão respondidas em até cinco dias pelo Estado. 

Entre os maiores receios dos executivos está o da vinculação da projeção de usuários do trem à expansão do aeroporto de Guarulhos, hoje parada pelo Tribunal de Contas da União (TCU). 

Também há preocupação sobre a possibilidade de o Expresso Aeroporto sofrer a concorrência futura do trem-bala, projeto que prevê a ligação dos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro. 

A intenção de fazer com que o transporte de alta velocidade passe pelo aeroporto de Guarulhos já foi manifestada pelo governo federal, mas a modelagem financeira está sendo definida pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com promessa de ser apresentada em outubro. 

Outro questionamento levantado foi sobre a opção do governo paulista de fixar a tarifa-teto com base no preço presente do Airport Bus Service, da Empresa Metropolitana de Transporte Urbano (EMTU), ônibus que faz o trajeto do centro de São Paulo até o aeroporto por R$ 28. 

O argumento dos empresários é de que a tarifa máxima tem que ser escolhida de acordo com o custo do serviço, algo que segundo estudos iniciais do governo é de R$ 32. 

O Banco Real assegurou em sua observação – encaminhada durante a audiência – que R$ 28 não são suficientes para cobrir os custos do empreendimento. 

Segundo o banco, o financiamento do projeto pode ficar comprometido caso o governo não melhore o perfil de risco, e sugeriu que a modelagem mais adequada poderia ser de Parceria Público-Privada (PPP), já que não há uma demanda comprovada de usuários. 

O governo, porém, não só não pretende entrar com parte do investimento, como vinculou a concessão a um investimento de R$ 300 milhões na construção de uma linha de trem comum até Guarulhos, que deverá ser operada pelo Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). O secretário paulista de Transportes Metropolitanos, José Luiz Portella, diz que o projeto é interessante para a iniciativa privada. 

“Estamos com o auditório lotado, entre os participantes existem empresas estrangeiras, acredito que há grande interesse no projeto.” O edital deve sair em até 40 dias. 

“Em 2014, teremos todos os aeroportos interligados por trilhos”, diz Portella. Segundo o secretário, hoje está sendo licitada a modelagem de um projeto para a ligação da estação São Judas do Metrô ao aeroporto de Congonhas, um trajeto em elevado de pouco mais de 1 quilômetro, que demandará investimento de R$ 170 milhões.

 A intenção é ter um modelo definido até o fim de 2010. Para acesso ao aeroporto de Viracopos, em Campinas, Portella diz que é esperada a definição do governo federal em relação ao trem-bala. “Já pedimos que haja uma ligação com Viracopos”, diz.

Autor: Valor Econômico