Começa a série composta por cinco seminários sobre saneamento

Quatro especialistas deram início em 19 de maio aos seminários que fazem parte do evento “Ano Internacional do Saneamento e a Macro-Metrópole Paulista”, co-realizado pelo Instituto de Engenharia e que teve transmissão ao vivo pela internet, por meio da TVEngenharia . 

O tema do primeiro debate foi a “Qualidade da Água no Estado de São Paulo” e contou com a presença de Ivanildo Hespanhol – diretor do Centro Internacional de Referência em Reuso de Água -, Odete Rocha – professora titular da UFSCar – Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva -, Luis Sérgio Ozório Valentim – diretor técnico do Centro de Vigilância Sanitária da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo – e José Eduardo Bevilacqua – assessor de diretoria de Engenharia e Tecnologia e Qualidade Ambiental da Cetesb. 

Participaram também da mesa o presidente Edemar de Souza Amorim, o vice-presidente de atividades técnicas Paulo Ferreira – ambos do Instituto de Engenharia -, Dione Mari Morita – vice-diretora do departamento de Engenharia Civil do Instituto de Engenharia e Coordenadora do Seminário, e Primo Pereira Neto, moderador e representante do Sindicato Nacional das Indústrias de Equipamentos para Saneamento Básico e Ambiental – Sindesam. 

O objetivo do evento foi debater e levantar sugestões – sejam elas a pequeno, médio ou longo prazos – para vencer o déficit de saneamento que há no País – em especial no Estado de São Paulo. 

O tema saneamento também é o mote da ONU para este ano. Segundo Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH – 2006) 43,5 milhões de brasileiros não têm acesso ao saneamento básico. Entre 1990 e 2004, o acesso ao saneamento básico subiu de 71% para 75% dos imóveis brasileiros. O que mostra que estamos bem longe da meta sugerida pela ONU que deveria ser cumprida em 2015: 85%. 

Painel 1 – Qualidade das águas interiores no Estado de São Paulo
O primeiro painel foi aberto por José Eduardo Bevilacqua, da Cetesb. O foco de sua apresentação foi mostrar como se pensa em uma agência ambiental e como pode-se usar certas informações nela gerada para a tomada de decisões. 

Entre as ferramentas para geração de informações, ele falou sobre as redes de monitoramento e o Índice de Qualidades das Águas. 

O monitoramento é dividido em nove redes, sendo uma delas a Rede Básica, que faz um diagnóstico geral dos recursos hídricos no Estado de São Paulo. A área do Estado de São Paulo corresponde a 248.209 km2 e a Rede Básica tem 163 pontos de avaliação. 

Já o Índice de Qualidade das Águas é dividido em quatro frentes: o de qualidade da água bruta visando o abastecimento público e que enfatiza as variáveis sanitárias; o de qualidade da água bruta que inclui – além do abastecimento público e os compostos pelas variáveis sanitárias – os índices que indicam a presença de substâncias tóxicas e que afetam as propriedades organolépticas -, o de qualidade das águas dos rios e reservatórios para fins de proteção da vida aquática e o de balneabilidade, que avalia a condição da água para recreação. 

Segundo Bevilacqua a gestão dos recursos hídricos deve levar em conta todos os fatores de pressão e resposta, como o caso da densidade populacional – que afeta os recursos hídricos, como é o caso da região que inclui a capital e que é largamente industrializada, concentrando 64% da população – e as médias pluviométricas que afetam diretamente a questão quantidade/qualidade das águas. 

Painel 2 – Eutrofização e recuperação de corpos d’água
O segundo painel foi apresentado por Odete Rocha que falou sobre a Eutrofização. Trata-se de um fenômeno causado pelo excesso de nutrientes (compostos químicos ricos em fósforo ou nitrogênio, normalmente causado pela descarga de efluentes agrícolas, urbanos ou industriais) nas águas e que leva à proliferação excessiva de algas, que, ao entrarem em decomposição, aumentam o número de microorganismos e à conseqüente deterioração da qualidade das águas. 

Segundo Odete, os nutrientes e poluentes podem permanecer imobilizados por longos períodos de tempo ou serem prontamente liberados para a coluna de água, dependendo da estrutura do sedimento e de uma série de processos. 

Sedimentos contaminados podem funcionar como uma bomba química tóxica, de efeito retardado, continuamente ameaçando os seres vivos, incluindo o homem. 

Em termos de recuperação, ela falou sobre as ecotecnologias, que são várias, mas em sua explanação Odete focou os pântanos artificiais que podem ser usados em recuperação, mas apenas local. “É preciso desenvolver novas tecnologias para transformar resíduos em recursos, minimizar o uso de compostos tóxicos e aproveitar os nutrientes de efluentes domésticos, para diminuir o uso de fertilizantes”, disse. 

Painel 3 – Tratamento avançado de águas para abastecimento público
Em sua exposição, o Prof. Ivanildo Hespanhol disse que quase não existem mananciais protegidos (que não recebam efluentes domésticos nem efluentes industriais) e que, por isso, há a necessidade de utilização de sistemas avançados para o tratamento de água. “O sistema de tratamento convencional, hoje, não pode mais ser utilizado sozinho para produzir uma água segura.” 

E acrescentou: “Nós precisamos dar um passo acima, dar um passo além desse sistema convencional. O que estamos propondo hoje são os sistemas avançados de tratamento.”
Hespanhol expôs quatro sistemas de tratamento avançado: sistemas de membranas, evaporadores, processos oxidativos avançados e carvão biologicamente ativado. 

Painel 4 – Qualidade da água distribuída à população no Estado de São Paulo 
Já Luiz Sergio Ozorio Valentim lembrou que a legislação sanitária tem mais de 100 anos e que, no primeiro código, já se falava da proteção dos mananciais, da necessidade de não se ocupar determinados pontos de captação. “Como vimos, a legislação ficou bem aquém da nossa realidade”, disse. “Há dez anos não havia registros oficiais de áreas contaminadas aqui em São Paulo, sendo que hoje nós temos 2.200 áreas contaminadas cadastradas na Cetesb.” 

Destacou também ser um grande desafio saber como a condição ambiental influencia nos impactos da saúde. Para isso, a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo implantou, em 1992, o Programa de Vigilância da 
Qualidade da Água para Consumo Humano do Estado de São Paulo (Proágua), que realiza coleta e análise de amostras de água. 

A qualidade da água subterrânea também foi um tema de destaque em sua explanação. Segundo ele, existe a tendência de uso de fontes alternativas coletivas de abastecimento em grandes centros urbanos. “A somatória dessa tendência mais o dado de áreas contaminadas aqui no Estado de São Paulo nos leva a uma questão de risco à saúde pública”, ressaltou. 

Para evidenciar o aprimoramento do processo de tratamento de água, mostrou que, em 1950, a taxa de mortalidade infantil no Estado de São Paulo, em cada mil crianças nascidas vivas, era de 115,9 mortes. Já, em 2005, o índice foi de 13,5. 

O conteúdo completo do encontro de 19 de maio pode ser conferido no site do Instituto de Engenharia a partir do dia 30 de maio. 

O próximo seminário será em 2 de junho e abordará o tema “Água para o Abastecimento Público na Região Metropolitana de São Paulo”

Autor: Fernanda Nagatomi e Isabel Dianin