Rio Madeira: uma solução precária

A recente licitação para privatização da Usina Hidroelétrica de Santo Antonio no rio Madeira coloca em evidencia o processo bastante danoso, de mediocrização que assola o país, cuja tendência é se agravar no futuro. 

Por pressão dos movimentos sociais e organizações ambientais fundamentalistas, o potencial energético do rio Madeira e de outros rios da Amazônia tem sido desperdiçados por critérios supostamente preservacionistas, cujos benefícios, se avaliados de forma realista, não se sustentam. 

Toda a vez que se constrói um aproveitamento hidroelétrico cria-se um reservatório cujas dimensões definirão o benefício energético que se quer retirar do local. 

Assim, tanto a barragem quanto o reservatório têm algumas funções que são variáveis de projeto: a altura de queda que afeta diretamente a potencia do aproveitamento, o volume útil do reservatório, cuja função é regularizar a vazão efluente que promove o aumento da energia firme do local e dos demais aproveitamentos à jusante, além de armazenar água para distribuí-la pelos diversos fins em períodos desfavoráveis. 

Em geral, os grandes reservatórios são projetados nos trechos iniciais dos rios, pois estes nascem em regiões montanhosas e não causam inundações muito extensas. Desta forma, o benefício da regularização se estenderá por todo o desenvolvimento do rio, havendo um ganho de energia em seu aproveitamento total. 

Este parâmetro tem que ser confrontado com os demais critérios e usos que se possa fazer no local, como navegação, controle de cheias, irrigação, aspectos ambientais, ocupação e organização da área, terras indígenas, Unidades de Conservação, áreas prioritárias, ecossistemas aquáticos e terrestres, base econômica, etc. 

No caso do Rio Madeira, o fanatismo conservacionista utópico, provocou o abandono da solução mais conveniente. E o projeto que previa a construção de reservatório com área inundada de 1550 km2, foi abandonado pela construção de duas usinas de baixa queda, UHE Santo Antonio e UHE Jirau, com 243 km2, praticamente a fio d’água. 

Na fantasiosa mente dos ambientalistas brasileiros, as funções de reservatório e regularização foram substituídas por um maior número de turbinas, que ficarão paradas nas épocas de baixa vazão, turbinando-se apenas o volume de água da vazão natural. 

Em termos práticos, graças à estupidez reinante nos gabinetes de Brasília, a energia correspondente a uma usina do porte de Ilha Solteira, fundamental para um país que tem vivido os últimos anos à beira de racionamentos por falta de planejamento e gestão adequada de seus recursos naturais, será desperdiçada em nome da floresta. 

Ao que parece, para esta pequena parcela de iluminados, o fato de esta energia perdida ter de ser produzida por fontes bem mais caras e poluentes, como nucleares ou térmicas a carvão ou gás importado é irrelevante. Também é irrelevante o impacto na economia brasileira, ao distorcer nossa matriz e encarecer bens, serviços e produtos exportáveis. 

Quanto aos risíveis argumentos ambientalistas, de que a redução de área inundada será compensada com preservação de floresta, manutenção de reserva indígena, ou atividades exploratórias reguladas, já se sabe o fim; serão perdidos na realidade do desmatamento e ocupação descontrolada da floresta, que tem levado à destruição pura e simples de grandes áreas da Amazônia, complementado pela perda definitiva de boa parte do potencial hidroelétrico brasileiro.

Autor: Edemar de Souza Amorim