Discurso do Presidente do Instituto de Engenharia na cerimônia de entrega do título Eminente Engenheiro do Ano

Discurso pronunciado pelo Engenheiro Edemar de Souza Amorim, presidente do Instituto de Engenharia na cerimônia de outorga do “Título de Eminente Engenheiro do Ano” ao Engenheiro Gilberto Kassab, em 11 de dezembro de 2007.

Em 1893 na fundação da Escola Politécnica de São Paulo, Antonio Francisco de Paula Souza – provavelmente inspirado pelo desenho na fachada da Politécnica de Zurique – introduziu a imagem da Deusa Romana Minerva como símbolo da escola. 

Em 1916, Paula Souza usou a mesma simbologia para o recém fundado Instituto de Engenharia e desde então, a figura de Minerva, ou Atena na mitologia grega, filha de Júpiter, deusa da sabedoria, da guerra, das ciências e das artes vem sendo usada para representar qualidades como poder mental, prudência e sabedoria, habilidade para soluções práticas, capacidade de reflexão e o amor à beleza e perfeição. 

O busto de Minerva de autoria de Caetano Fracaroli, feito na fundição do IPT em 1945, que se encontra na sala da diretoria da Politécnica foi reproduzido para simbolizar e reconhecer a excelência e o destaque do homenageado de hoje. 

Escolher alguém para receber o título de eminente engenheiro do ano parece uma tarefa fácil, mas felizmente é exatamente o oposto. 

Escolher um homenageado não se trata apenas de premiar a celebridade do momento, oferecer reconhecimento a alguma ilustre personalidade ao final de uma carreira brilhante, ou trocar favores políticos com algum partido ou associação. 

Por 91 anos o Instituto de Engenharia não vem poupando esforços em prol da engenharia brasileira, na busca pelo conhecimento técnico, na formação acadêmica e prática dos jovens, na defesa do exercício profissional, enfim tem lutado diariamente para tornar o Brasil um país melhor. 

Esta, senhoras e senhores, é uma instituição que olha para passado apenas para moldar o futuro 

E uma instituição que pensa no futuro do Brasil como o Instituto de Engenharia, não pode se dar ao luxo de conceder um título olhando para trás, apenas como forma de reconhecimento das contribuições feitas pelo homenageado em sua vida profissional ou pessoal. 

O passado pertence aos livros de história e, num país carente de exemplos como o Brasil, é preciso muito mais. 

Por isto senhoras e senhores o título de eminente engenheiro do ano é uma das mais importantes formas de forjarmos as novas gerações de engenheiros, que deverão carregar a tocha, dando continuidade ao trabalho iniciado há mais de 500 anos quando os primeiros portugueses desembarcaram em nossas praias. 

Hoje, ao conceder o título neste Auditório Ibirapuera, especialmente escolhido, numa justa homenagem ao 100º aniversário de Oscar Niemeyer, o maior arquiteto brasileiro, estamos apresentando aos jovens brasileiros o significado de ser um grande engenheiro, seja atuando como executivo, empresário, acadêmico, profissional liberal ou gestor público. 

Estamos também, contrariando a cultura da mediocridade que assola esta nação, acrescentando mais um exemplo numa galeria de ilustres brasileiros, cujas vidas devem servir de inspiração, de modelo, de guia, de objetivo nas escolhas profissionais das próximas gerações. 

E, por ser este um reconhecimento eterno, cujo prazo não vence em 12 meses nomeio os Eminentes Engenheiros presentes para incluí-los nesta homenagem:

1977 – ANTONIO HÉLIO GUERRA VIEIRA
1980 – OZIRES SILVA
1984 – THEODÓSIO PEREIRA DA SILVA
1987 – WAGNER FREIRE DE OLIVEIRA E SILVA
1999 – JOÃO CARLOS DE SOUZA MEIRELLES
2001 – MÁRIO FRANCO
2004 – VAHAN AGOPYAN
2005 – DARIO RAIS LOPES
2006 – RUBENS OMETTO SILVEIRA MELLO

É chegada a hora de perguntar: 

O que significa ser reconhecido como Eminente Engenheiro na gestão pública? 

Segundo o dicionário Houaiss, a engenharia é aplicação de métodos científicos ou empíricos à utilização dos recursos da natureza em benefício do ser humano. 

No campo da gestão pública, terreno onde a política e os interesses partidários e eleitorais imperam sobre as necessidades dos cidadãos, destacam-se os engenheiros que não se curvam ante a opinião pública. Engenheiros que ousam desafiar a ordem natural dos gabinetes e estratégias eleitorais, cumprindo a missão maior de, no curto período de um mandato, entregar uma cidade melhor a seu sucessor. 

Um Eminente Engenheiro deixa as marcas de sua gestão na história da cidade e na vida dos cidadãos, tomando para si a responsabilidade por projetos tão ousados quanto necessários. Enfrentando forças corporativistas pelo bem maior. Resistindo às críticas e protestos dos que temem o novo. Tudo isso para, no futuro, serem imitados sem o devido reconhecimento. 

Como aconteceu com o planejamento de Prestes Maia que nos deu, entre muitas obras as Avenidas nove de Julho e 23 de Maio. O Metrô iniciado por Faria Lima e impulsionado por Figueiredo Ferraz. A organização administrativa e informatização das receitas municipais de Olavo Egydio Setúbal. Os corredores de ônibus de Mário Covas e os túneis, viadutos e avenidas de Paulo Maluf e Reynaldo de Barros. 

Senhoras e senhores, sob o risco de ser considerado corporativista, protecionista ou arrogante, ouso dizer que a engenharia deveria ser qualificação mínima para um candidato pretender assumir a gestão de uma cidade. 

Ao contrário de outros cargos do poder executivo, a gestão municipal é muito mais um trabalho técnico do que político, exigindo de seu ocupante, além de um contato próximo com a população e seus problemas, a visão voltada para sua solução e a confiança nos resultados. 

A gestão municipal nas palavras do homenageado de hoje, em nosso jornal, é uma rotina de construir, recuperar e manter as obras. 

Um prefeito não define políticas industriais, fornece água, energia e vias de acesso e transporte público para a indústria. Um prefeito não define a política de saúde, constrói e mantém hospitais, postos de saúde e contrata médicos. Um prefeito não define o currículo escolar, constrói e mantém a escola, contrata e qualifica o professor, distribui merenda, uniforme e condução para os alunos.

O Engenheiro Gilberto Kassab, hoje prefeito de São Paulo, recebe este prêmio pela demonstração diária do espírito da engenharia no exercício de seu cargo e na administração da cidade de São Paulo. 

Assumindo um mandato por uma circunstância política, foi, desde o primeiro momento, rotulado por seus adversários e pela mídia como o prefeito que o paulistano não elegeu. 

Porém, em apenas um ano, provou não ser o prefeito que o cidadão paulistano queria, mas o prefeito que o cidadão paulistano precisa. Pois arregaçou as mangas, ignorou a opinião pública e fez o que se esperava dele e de alguns de seus antecessores. 

Iniciou um extenso programa de manutenção das obras da cidade, prédios públicos, escolas, postos de saúde, ruas, pontes, piscinões entre outras.
Assumiu projetos de gestões anteriores parados ou em lenta progressão por diversos motivos, entregando, o Expresso Tiradentes e a Ponte estaiada Octávio Frias.
Enfrentou os movimentos sociais e vem desocupando as áreas de mananciais invadidas em torno das represas Billings e Guarapiranga, abandonando a posição letárgica e paternalista do estado brasileiro. 

Aumentou a contribuição da prefeitura na construção do Metrô de São Paulo e do Rodoanel, deixando de assistir passivamente os esforços do Governo do Estado, pois a redução dos congestionamentos da cidade é mais importante do que o crédito pela obra. 

Aprovou, aplicou e tem fiscalizado o cumprimento da mais importante legislação de combate à poluição visual, que vinha escondendo a beleza da arquitetura da cidade de São Paulo sob cartazes, outdoors, luminosos, letreiros, fachadas e sinais. Restaurou o amor próprio do paulistano mostrando até onde vai o poder de um prefeito determinado. 

Portanto, por ter enfrentado de frente os problemas de São Paulo, por não submeter a técnica à pressões políticas, por ter mostrado que para administrar é preciso muito além de discursos e promessas, tenho a honra de entregar ao Engenheiro e prefeito Gilberto Kassab o título de Eminente Engenheiro do Ano. 

Obrigado

Autor: Edemar de Souza Amorim