Amorim: Iniciativa privada pode melhorar a qualidade das rodovias

A gestão pública das rodovias brasileiras está fora de controle e a iniciativa privada já provou que pode melhorar a condição da infra-estrutura rodoviária. Essa é a opinião do engenheiro Edemar de Souza Amorim, vice-presidente de Atividades Técnicas do Instituto de Engenharia (IE). Em entrevista para a Agência ABCR, ele avalia como positivo o programa de concessão de rodovias no Brasil e fala sobre alguns problemas que o País enfrenta por não ter uma infra-estrutura rodoviária adequada. A seguir, leia trechos da entrevista: 

Agência ABCR: O senhor participou de grandes projetos de engenharia no Brasil. Como foi sua participação nesses processos? 

Edemar Amorim: Sou formado em engenharia civil e tenho mais de 30 anos de experiência em empresas de construção e de serviços para obras públicas e privadas, com o trabalho fortemente ligado à infra-estrutura rodoviária. Trabalhei na rodovia Castello Branco, em São Paulo, e fui coordenador do trabalho na Ponte Rio-Niterói, no Rio de Janeiro. Participei da duplicação da Via Anchieta, em São Paulo, e integrei projetos nas rodovias Imigrantes e Pedro Taques, no litoral paulista. Também coordenei a construção de diversas obras de arte (pontes e viadutos) na Castello Branco e em outras estradas. 

Agência ABCR: Qual sua avaliação da atual infra-estrutura rodoviária do Brasil? O senhor acredita que o país está deixando de crescer por falta de infra-estrutura 
para escoamento de sua produção? 

EA: A situação de nossas rodovias é horrível e temo que possa piorar. No ano passado, decidi fazer uma viagem a Santa Catarina, a partir de São Paulo, utilizando a rodovia Régis Bittencourt, o que foi uma péssima opção devido ao estado precário de conservação da estrada. Na volta, optei por fazer um percurso mais longo, mas utilizei apenas rodovias concedidas, para fazer uma viagem mais tranqüila e segura.
A gestão das rodovias nacionais está fora de controle. O governo não tem capacidade de gerenciar os investimentos em infra-estrutura rodoviária. Há pouco tempo, participei de uma discussão sobre a questão do Porto de Santos, no litoral paulista, e ficou provado que o escoamento de soja é prejudicado porque a produção não consegue ser transportada adequadamente desde Mato Grosso até o porto, devido ao estado das rodovias.
A má condição das estradas brasileiras prejudica as exportações e, sem dúvida, interfere no desenvolvimento do país. Também é preciso lembrar de todas as vidas que se perdem em acidentes rodoviários e as pessoas que carregam consigo as seqüelas dessas ocorrências por terem se ferido em acidentes. 

Agência ABCR: Em sua opinião, quais são os melhores caminhos para diminuir as deficiências brasileiras em infra-estrutura rodoviária? 

EA: Na minha opinião, o grande problema é a má-gestão do orçamento. Além disso, falta vontade política para retomar o programa de concessão de rodovias. Começou a se falar em novas concessões de rodovias no sétimo aniversário das primeiras concessões e as licitações não saíram até hoje. 

Agência ABCR: Como o senhor avalia a importância do capital privado para melhorar as rodovias do país? O senhor acredita que as Parcerias Público-Privadas podem ajudar o Brasil? 

EA: Está mais do que provado que a iniciativa privada pode melhorar a qualidade das rodovias. Eu participei da implantação do programa de concessões no Paraná e, desde o início do processo, o governo do Estado já havia iniciado uma campanha contra a administração privada das rodovias. Isso prejudica a imagem e a credibilidade do país, porque existem muitos investidores estrangeiros interessados em investir em rodovias brasileiras.
Essa atitude negativa coloca em risco a possibilidade de se fazer qualquer Parceria Público-Privada (PPP) no país, o que seria outra boa alternativa para resolver os gargalos da malha rodoviária. 

Agência ABCR: A Pesquisa Rodoviária divulgada pela CNT no final do mês passado mostrou que dos 20 melhores trechos rodoviários do país, 19 são pedagiados. Diante deste cenário, como o senhor avalia o programa de concessões de rodovias do país? 

EA: Os resultados mostrados pelo trabalho das concessionárias são espetaculares. Em São Paulo, essas empresas merecem nota 10 por tudo o que fizeram nas rodovias concedidas, incluindo novas obras, duplicações, melhoria da sinalização. Também conheço os trabalhos realizados no Rio Grande do Sul e no Paraná, que são muito bons e comprovam o sucesso do programa de concessões no Brasil.

Autor: Edemar de Souza Amorim