Biocombustíveis atraem atenção, e investimentos, de grandes petrolíferas

O setor de biocombustível, fortemente atingido pelo aperto de crédito mundial, está recebendo um alívio de uma nova fonte — as grandes petrolíferas.

Entre elas, a BP PLC e a Royal Dutch Shell PLC tem sido as que mais investem no setor. Mas a ideia está começando a atrair até companhias mais conservadoras como a Exxon Mobil Corp., cujo diretor-presidente, Rex Tillerson, uma vez chamou etanol à base de milho de “moonshine”, a gíria americana para uísque falsificado de milho. A Exxon anunciou em julho que estava investindo US$ 600 milhões numa firma iniciante de combustível à base de algas, a Synthetic Genomics Inc.

“Foi um importante sinal para a indústria de biocombustíveis”, diz Bruce Jamerson, diretor-presidente da Mascoma Corp., fabricante de etanol celulósico, que é feito de plantas não-comestíveis.

Grandes petrolíferas e empresas de biotecnologia parecem uma combinação exótica. Os lucros das companhias de petróleo são gerados por gasolina e diesel, combustíveis fósseis tradicionais. Os biocombustíveis são alternativas que têm uma presença marginal no mercado. Então, por que mudar para grama?

A resposta está nas políticas de redução das emissões de carbono que estão sendo implantadas no mundo desenvolvido. Nos Estados Unidos, por exemplo, os Padrões de Combustíveis Renováveis exige um crescimento anual nas vendas de biocombustíveis até 2022. O Departamento de Energia espera que a produção americana de biocombustíveis cresça de menos de meio milhão de barris por dia em 2007 para 2,3 milhões de barris por dia em 2030. É inevitável que isso corroa os negócios convencionais das grandes petrolíferas.

“As petrolíferas (…) veem se aproximar um mundo de restrições para combustíveis que têm muito carbono, e elas precisam de alternativas”, diz Jamerson.

A indústria de biocombustíveis também está se beneficiando de um foco mais concentrado em investimento por parte das petrolíferas. Durante anos, empresas como a BP e a Shell investiam em todo tipo de energia limpa. O diretor-presidente da BP, Tony Hayward, descreve a política inicial da companhia como “mil flores se abrindo por todo o mundo”. Mas no ano passado, diz ele, a empresa começou a canalizar seus investimentos para os projetos que a BP considera comercialmente viáveis e uma boa combinação para seus negócios atuais. Biocombustíveis foram aprovados, em parte porque se encaixam bem na infraestrutura da empresa de refinarias, oleodutos, gasodutos e redes de distribuição.

“As petrolíferas têm uma afinidade natural com o negócio de biocombustíveis”, diz Katrina Landis, diretora da divisão Energia Alternativa da BP. Combinar o conhecimento de produzir e distribuir combustíveis com o potencial de empresas iniciantes de biotecnologia cria uma “parceria muito poderosa”, diz ela.

A Shell deu uma cartada similar, anunciando em março que não iria expandir sua carteira de energia solar e do vento, e que iria se concentrar em biocombustíveis, além de captura e armazenagem de carbono, ou CCS na sigla em inglês, uma tecnologia para combater o aquecimento global prendendo dióxido de carbono emitido por termelétricas e enterrando-o no subsolo.

Com biocombustíveis, as grandes deixaram de lado o álcool à base de milho (algumas têm investido em etanol de cana, contudo) para se concentrar na próxima geração de combustíveis, que não dependem de alimentos. Elas estão produzindo mais combustível de celulose, a espinha dorsal fibrosa das plantas.

A BP, por exemplo, tem uma joint venture com a Verenium Corp., fabricante de etanol celulósico. A Chevron Corp. tem uma com a madeireira Weyerhaeuser Co. para fazer combustível à base de biomassa como a “switchgrass”, uma grama de pradarias nativa do sudeste dos Estados Unidos. E a Shell está trabalhando com a canadense Iogen Corp. para produzir combustível de palha de trigo, e com a Choren Industries GmbH, da Alemanha, para fazer combustível de restos de madeira.

Alguns no setor veem com suspeita os fundos que as grandes estão investindo. “É menos do que uns trocados para eles, dado o tamanho de seus orçamentos de investimento”, diz Steen Riisgaard, diretor da Novozymes AS, uma companhia dinamarquesa que faz enzimas usadas na produção de álcool combustível.

A Shell, por exemplo, já gastou cerca de US$ 1,7 bilhão em energia alternativa e tecnologias de redução de emissões de carbono como a CCS nos últimos cinco anos, embora seu orçamento de investimento de capital no ano passado foi de US$ 32 bilhões. O investimento da BP em energia alternativa totalizou US$ 1,4 bilhão no ano passado, cerca de 6% de seu orçamento de gastos de capital no ano, e vai cair para entre US$ 500 milhões e US$ 1 bilhão este ano porque o enfraquecimento mundial da economia reduziu a demanda por combustíveis.

Mas outros acham que o atual nível de investimento é só o começo de uma tendência de longo prazo. “Os maiores investimentos virão no ano que vem, quando as instalações comerciais começarem a ganhar ritmo”, diz Carlos Riva, diretor-presidente da Verenium.

“O investimento em dólares não diz tudo”, acrescenta Riva. Outra importante contribuição são as “habilidades administrativas que (as grandes petrolíferas) trazem, em termos de projeto e engenharia e de entrega de projetos comerciais de grande escala”.

“Isso é algo de que a indústria de biocombustível realmente precisa”, diz ele.

No final das contas, algumas pessoas do setor veem um futuro de biorefinarias integradas, onde as grandes petrolíferas terão um grupo de produtos de baixa emissão de carbono que poderão misturar em quantidades diferentes para diferentes mercados.

Por enquanto, contudo, as grandes estão mantendo uma posição cautelosa mesmo enquanto investem em biocombustíveis, uma posição compartilhada por analistas do setor. “É uma área excitante, mas não testada”, diz Angus McCrone, analista senior da New Energy Finance Ltd., um firma de análise do setor de energia alternativa. “Ainda não sabemos se dá para produzi-la a um custo que seja econômico (…) É uma aposta”

Autor: The Wall Street Journal