Engenharia, atualização profissional e Normas

Na Engenharia, além e acima de tudo, o que marca cada época certamente é a Norma mais atual. Não há nada mais simples, lúcido e certo do que seguir a Norma atualizada, pois a ninguém é dado o direito de fazer mais nem menos do que a Norma em vigor exige.
Seguir outro caminho, não é apenas uma alternativa técnica, é uma atitude desprovida de bom senso, especialmente quando valoriza experiências ultrapassadas, pois há que se entender que a decisão sobre a caducidade dos conhecimentos da Norma anterior foi decretada por uma Comissão de Estudos, composta por profissionais e entidades do mais alto conhecimento nacional, como aconteceu recentemente com as Normas de Concreto.
Achar que sabedorias antigas estão “lastreadas na experiência” é ignorar que esses conhecimentos estão ultrapassados e produzem erros já descobertos e que é preciso avançar aplicando informações ditadas pelas Normas atuais.
A cultura humana a cada momento descobre um pouquinho do que deve ser mais bem conhecido. No caso recente do concreto no Brasil, a mudança parece maior, pois a dose de sabedoria reunida “saltou” sobre um período de 24 anos (1978 – 2002), antes havia “saltado” outros 18 anos (1960 – 1978). Isto colocou frente a frente três gerações de engenheiros com conhecimentos básicos de diferentes origens, cada um convicto daquilo que conheceram e aplicaram durante muitos anos. A verdade é que o conhecimento se acelera e não é admissível que informações de 20 ou 40 anos anteriores devam prevalecer sobre os atuais.
A cada ano que passa, novas gerações de profissionais formam-se em Engenharia no Brasil. Esta massa de profissionais vem ao mercado com teorias novas para serem traduzidas em práticas novas, sendo justo que a teoria leve certo tempo para se tornar prática. Mas o que está ocorrendo é que profissionais em atuação no mercado há muitos anos com a mesma Norma recebem conservadoramente as novas gerações e – não se atualizando – agem da mesma maneira, “matando” o progresso e frustrando os jovens que seguem a orientação de seus colegas mais experientes. Caberia a esses se atualizarem e promoverem o avanço dos jovens para aplicar seus novos conhecimentos, o que não vem ocorrendo.
Além de tudo, o ramo da construção imobiliária, que seguidamente não está aplicando os conhecimentos mais recentes da Engenharia, tem poder de contratação, emprega os engenheiros e é capaz de ditar regras fortes que advém de suas necessidades imediatas. O resultado é que as nossas obras de concreto atuais seguem ao sabor de um “mix” de Normas ultrapassadas e improvisos habituais, formando um “caldo de cultura” dos donos do poder na construção e gerando obras de péssima qualidade.
Na esteira deste estado de coisas, novos profissionais, desejosos de “sucesso” neste meio, acabam por se colocar a serviço de maus contratantes e seguidamente escutamos a expressão “o mercado não quer”, “o cliente não aceita” como justificativas para transigir com as Normas.
Precisamos evitar que as novas gerações sejam influenciadas e sigam o exemplo de profissionais que “surfam a onda” do que é mais imediato, fazendo “sucesso” e agindo sem sustentação no conhecimento correto, tão duramente adquirido por quem faz Engenharia.
Nossas instituições devem agir para impedir os mais jovens de aderirem a práticas erradas ou à desesperança por sentirem falta de opções honestas de trabalho dentro da Engenharia. 

Egydio Hervé Neto é engenheiro civil pela UFRGS, sócio-gerente da Ventuscore Soluções em Concreto, de Porto Alegre/RS, e diretor-regional de Porto Alegre do Instituto de Engenharia.

Autor: Egydio Hervé Neto