Por José Eduardo Cavalcanti – Considerações acerca do acidente ocorrido, em maio de 2025, na Marginal Tietê em decorrência de vazamento de esgotos originários do interceptor ITI 3 (2ª parte em 7/9/25)

Alerta: Estas considerações foram baseadas apenas nos relatos obtidos através de entrevistas concedidas à imprensa por parte de engenheiros da SABESP, uma vez que não foram ainda disponibilizadas informações oficiais de cunho técnico detalhado por parte daquela Companhia.

Decorridos mais de 2.5 meses após o prazo inicial estipulado pela Sabesp (12 de junho), a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, agora privatizada, deu novo prazo para concluir o reparo da cratera na Marginal Tietê. O buraco que se formou no dia 10 de abril e que voltou a ceder em 11 de maio deve ser corrigido até março de 2026, segundo a Sabesp. A previsão inicial divulgada em 12 de maio era de 30 dias   No dia 1º de setembro, a Companhia informou que concluiu a etapa de estabilização do solo e iniciou a fase de limpeza e recuperação de parte do interceptor ITI 7,

Em entrevista a TV Globo, o diretor de engenharia da empresa, Roberval Tavares, afirmou que o prazo mais longo será necessário porque a empresa ainda não conseguiu estabilizar a cratera e retirar totalmente o esgoto que estava vazando no interceptor de esgoto, na pista da Marginal.

Até o momento nós não tínhamos tido acesso ao interceptor. Agora tivemos acesso, o interceptor está totalmente preservado, o duto, que é o mais importante está preservado. Fizemos a sondagem horizontal e detectamos exatamente o que vai ser feito aqui. Então, estamos estimando o mês de março para entregar isso com total liberação da via, a pista nova que fizemos, retorno da pista antiga, a retirada de todas as tubulações que fizemos ao longo da marginal transferindo esgoto. Isso está tudo dentro do prazo para entregar a obra completa para a sociedade”, disse o executivo.

Para viabilizar a ação no interceptor, a Sabesp realizou um desvio temporário das tubulações de esgoto com seis ações espalhadas por trechos da marginal.

O interceptor da margem direita precisou ser totalmente esvaziado para permitir as obras de reparo onde a cratera se abriu, perto da ponte Atílio Fontana.

Para isso, a Sabesp criou pontos de transferência de esgoto para outras tubulações, desde o Parque Novo Mundo, passando pelas pontes da Casa Verde, da Freguesia do Ó, do Piqueri, até o ponto da cratera.

A operação é feita por tubos que ligam uma margem à outra, passando pelas pontes sobre o rio, e também por um duto subterrâneo na região do Piquerii A transferência envolve o esgoto de mais de 435 mil imóveis da Zona Norte.

“Com isso nós conseguimos retirar mais de 99% do esgoto da tubulação. Hoje o que passa é um pequeno resquício que vai ser suprimido na hora em que fizermos o bloqueio total. Nós estamos usando um gel químico para poder fazer o bloqueio total do interceptor, para que não venha nenhum litro de esgoto e aí fazer o serviço de maneira completa”, explicou o diretor de engenharia da Sabesp.

Em junho, durante essa transferência, a Sabesp foi notificada pela Cetesb por ter bombeado esgoto para dentro do Rio Tietê. Segundo a companhia, a medida foi tomada para proteger os operários da obra.

“Era um plano de contingência que, se houvesse algum perigo, isso seria acionado, e foi acionado no mês de junho. De lá pra cá nós conseguimos manter tudo normal, sem nenhum acesso aos rios, só transferindo esgoto pra dentro do sistema da Sabesp”, afirmou o diretor.

Foi exatamente na área que agora está cheia de pedras que a cratera se abriu. O solo foi estabilizado com 66 estacas de concreto para evitar novos desmoronamentos.

Para uma solução definitiva, a Sabesp abriu um novo poço de acesso de 15 metros de profundidade, onde os operários chegaram ao topo do interceptor

Segundo Roberval Tavares, os operários estão retirando o entulho de dentro do interceptor. Um trecho de aproximadamente 30 a 50 metros será recuperado, incluindo a caixa de passagem que causou o desmoronamento.

“Todas as injeções de concreto deixaram o solo totalmente preservado e não há possibilidade nenhuma da expansão dessa cratera para algumas das pistas”, garantiu.

Para viabilizar o acesso ao interceptor, a Companhia realizou um desvio temporário que permite transferir 2.75 m3/s de esgoto, distribuído por diversas estruturas e trechos da Marginal Tietê.

São seis ações operando:

  • Três sistemas montados sobre as pontes da Casa Verde, Freguesia do Ó e Piqueri, onde o esgoto é bombeado por tubulações sobre as vias até outro interceptor na margem oposta;
  • Um bombeamento por baixo do rio Tietê, por uma tubulação chamada sifão, também na altura da Ponte do Piqueri;
  • Um desvio por tubulações instaladas no canteiro da marginal Tietê, ao lado do buraco, na região da Ponte Atílio Fontana;
  • Uma reversão na Vila Maria, que está bombeando o esgoto dessa região “ao contrário”, para a estação de tratamento do Parque Novo Mundo.

Ainda de acordo com a Sabesp, a adoção de uma tecnologia inédita para a recuperação do interceptor permite a entrada segura de profissionais na tubulação.

Chamado de Ecoryon, trata-se de um gel químico injetado no solo que cria uma barreira impermeável, garantindo estabilidade e segurança durante as escavações, bloqueando infiltrações de água e esgoto e impedindo que a água comprometa a segurança das equipes de obra.

Segundo a Sabesp, o produto funciona como uma espécie de cola líquida que endurece dentro do terreno, impedindo infiltrações e reduzindo possíveis riscos.

“Essa tecnologia é fundamental para garantir que as equipes possam trabalhar com segurança. O Ecoryon cria uma barreira dentro do solo, bloqueando totalmente a passagem de água e esgoto no trecho em intervenção, o que permite que as obras avancem sem comprometer a estrutura e a segurança de todos”, acrescentou Tavares

Continuaremos a acompanhar o prosseguimento das ações através do noticiário da mídia

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José Eduardo Cavalcanti é engenheiro consultor, diretor do Departamento de Engenharia da Ambiental do Brasil, diretor da Divisão de Saneamento do Deinfra – Departamento de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), conselheiro do Instituto de Engenharia, e membro da Comissão Editorial da Revista Engenharia. E-mail: [email protected]

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