Por José Eduardo Cavalcanti – Considerações acerca do acidente ocorrido, em maio de 2025, na Marginal Tietê em decorrência de vazamento de esgotos originários do interceptor ITi 3 (3ª parte em 1/10/25)

Fonte: SABESP

Alerta: As considerações envolvendo este assunto feitas em dois artigos anteriores foram baseadas apenas nos relatos obtidos através de entrevistas concedidas à imprensa por parte de engenheiros da SABESP. O presente artigo, ao contrário, se baseia no relato verbal do Eng. Meunin Oliveira Junior, atual Diretor de Relações Contratuais e Institucionais da Sabesp, proferido na reunião ordinária do Conselho Estadual de Recursos Hídricos realizada em 1 de outubro de 2025.

 

Histórico

Em 10 de abril de 2025 abriu-se repentinamente uma cratera em uma das vias da pista central da Marginal do Tietê próximo à ponte Atílio Fontana no sentido Castelo. Assim que se constatou que o acidente foi decorrente de solapamento do terreno devido a infiltração de água, a SABESP foi acionada e prontamente reparou em 3 dias as fissuras na laje inferior da caixa principal do poço de visita PV 09 do interceptor ITi-3 que margeia o Tietê pela sua margem direita, localizada a 18 m de profundidade.

 

 

Contudo, em 11 de maio, a pista voltou a ceder no mesmo local. A previsão inicial divulgada em 12 de maio para os reparos que exigiam intervenções mais robustas era de 30 dias.

 

Analisando, no entanto, o problema com mais profundidade, a SABESP verificou que o acesso ao PV 09 não mais existia restando apenas a caixa junto ao interceptor. Isto se deveu, provavelmente, a alguma intervenção durante às obras havidas no canteiro central situado entre as pistas local e expressa onde foram implantadas as pistas centrais. Era justamente no canteiro central que ficava o acesso ao PV 09.

 

A SABESP então presume que a retirada da estrutura de acesso ao PV 09 tenha comprometido estruturalmente a caixa.

 

Natureza das intervenções

 

Diante disso, constatada a complexidade do problema a SABESP, no período de maio a agosto, iniciou as intervenções visando a consolidação do maciço, cujo início se deu tão logo se concluiu a abertura de novo acesso através da construção de um PV com 6 m de diâmetro e 18 m de profundidade.

 

Nesta 1ª etapa as intervenções se traduziram pela injeção, sob pressão, de argamassa/concreto no maciço em mais de 100 pontos no local do solapamento e pela colocação de 66 estacas para a estabilização do terreno de forma a proteger tanto a via local como a expressa. Foram consumidos cerca de 630 m3 de concreto para esta tarefa. Em paralelo, foi aberto um novo poço de acesso para permitir a entrada no interior do interceptor por meio de uma “janela” para realizar os trabalhos de limpeza a fim de restabelecer o fluxo total dentro do interceptor.

Deste modo, em 1º de setembro, a Companhia informou que concluiu a etapa de estabilização do solo e iniciou a fase de limpeza e recuperação da parte do interceptor atingida com a desativação da caixa do PV 09.No entanto, o prazo para a conclusão das obras foi estendido até março de 2026.

 

Na segunda etapa, em andamento, com o objetivo de esvaziar o trecho do interceptor para permitir a realização, com segurança, dos devidos reparos em seu interior está sendo feita a transferência dos esgotos do interceptor de uma margem para a outra com o fito de se diminuir a vazão no interceptor. Foram então estendidas tubulações provisórias nas calçadas das pontes Casa Verde e Freguesia do Ó, além da reversão dos esgotos de uma pequena bacia para a ETE Parque Novo Mundo. Foi também feita o “by pass” do PV 6 em 3 tubulações aéreas assentadas sobre o canteiro central a fim de permitir o encaminhamento dos esgotos para mais a jusante, nesta mesma margem, em direção à ETE Barueri. Posteriormente foram instaladas tubulações na Ponte do Piquerí com este mesmo objetivo.

O sifão do Piqueri, uma antiga tubulação instalada sob o leito do rio Tietê, desativada após a conclusão do ITi3, foi reabilitada como um sistema de resiliência, de modo a permitir a passagem dos esgotos nos dois sentidos em caso de necessidade, haja vista a intrusão de águas pluviais no sistema de esgotos.

Na 3ª etapa prevista para ser concluída em março de 2026 serão encetados o bloqueio total do PV 8, demolição e limpeza da estrutura, eliminação da caixa de passagem e construção de novo túnel de aproximadamente 60 m, sendo 30 m de cada lado.

Resta saber se o acidente está relacionado realmente com a intrusão de águas pluviais no sistema de coleta e que, por conta disso, o interceptor esteja funcionando em carga o que pode ter acarretado fissuras na caixa do poço de visita causando o solapamento do solo nas imediações provocando o surgimento da cratera.

A conferir.

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José Eduardo Cavalcanti é engenheiro consultor, diretor do Departamento de Engenharia da Ambiental do Brasil, diretor da Divisão de Saneamento do Deinfra – Departamento de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), conselheiro do Instituto de Engenharia, e membro da Comissão Editorial da Revista Engenharia. E-mail: [email protected]

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