Por José Eduardo Cavalcanti – Considerações acerca do acidente ocorrido em maio de 2025 na Marginal do Tietê em decorrência de vazamento de esgotos originários do interceptor

Alerta: Estas considerações foram baseadas apenas nos relatos obtidos através de entrevistas concedidas à imprensa por parte de engenheiros da SABESP, uma vez que não foram ainda disponibilizadas informações oficiais de cunho técnico detalhado por parte daquela Companhia. Vamos aos fatos: Em abril deste ano houve um acidente similar, como o ocorrido agora em maio, no mesmo local da Marginal do Tietê, próximo à ponte Atílio Fontana no sentido Castelo Branco causando o solapamento em uma das três faixas da pista central provocando a abertura de uma cratera, fato que forçou a interrupção e o desvio do tráfego naquele local causando mais transtornos àquela via já congestionada. Na ocasião a causa alegada pela SABESP era uma fissura na estrutura de uma “caixa” situada a 18 m de profundidade, reparada em apenas 3 dias. Entretanto, menos de 30 dias depois, nova cratera se abriu naquele mesmo local provocando nova interrupção do trânsito. Diante da situação, a SABESP decidiu por uma intervenção mais robusta visando resolver definitivamente o problema o que demandaria um prazo de 30 dias. Instada, pelos meios de comunicação, a esclarecer porque tal intervenção não foi feita por ocasião do primeiro acidente, a SABESP alegou ter agora identificado mais detalhadamente o problema representado pela presença de águas pluviais lançadas indevidamente no interceptor causando sobrecarga na tubulação de 2.5 m de diâmetro ocasionando, em consequência, o vazamento de esgotos que, espraiando-se no subsolo, acabou por causar o solapamento da pista de rolamento abrindo uma cratera. A intervenção planejada está sendo a construção de um novo poço de visita no local da ruptura, com 18 m de altura (“shaft ” de 18 m de largura), localizado entre os dois poços existentes, situados, respectivamente a 330 m a jusante do PV 08 e a 230 m a montante do PV 10. A permanecer a versão da SABESP sobre o ocorrido, depreende-se que a tubulação está operando em carga devido ao excesso de vazão (esgotos + águas pluviais) e que o vazamento ocorreu através de fissuras provavelmente em alguma junta, na “caixa” ou mesmo no próprio tubo. O que é certo é que águas pluviais costumam se misturar em tubulações de esgotos e também, com muito mais frequência, esgotos são lançados em galerias de águas pluviais. Difícil impedir estas práticas, principalmente considerando a enorme extensão destas redes. Desta forma, pode-se presumir que o interceptor da margem direita do Tietê possa estar sub dimensionado para as condições REAIS de contribuição.

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José Eduardo Cavalcanti é engenheiro consultor, diretor do Departamento de Engenharia da Ambiental do Brasil, diretor da Divisão de Saneamento do Deinfra – Departamento de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), conselheiro do Instituto de Engenharia, e membro da Comissão Editorial da Revista Engenharia. E-mail: cavalcanti@ambientaldobrasil.com.br

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