Metrópoles – O que pode ter causado o dano em prédio evacuado na Praia Grande

Prédio evacuado na Praia Grande (SP), na terça-feira (13/2) teve dano em três pilares; edifício tem 19 andares e foi entregue em 2011

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Entrevista concedida por Douglas Couto, vice-coordenador da Divisão Técnica de Estruturas e Controle Tecnológico do Instituto de Engenharia

As autoridades ainda não sabem o que provocou os danos na estrutura do prédio evacuado na terça-feira (13/2), em Praia Grande, no litoral de São Paulo. Entretanto, algumas hipóteses sobre as causas do incidente começam a ser analisadas por especialistas, que vão desde a sobrecarga na estrutura até eventuais falhas na construção.

A Prefeitura de Praia Grande, assim como os bombeiros, afirmaram logo após o esvaziamento do Residencial Giovannina Sarane Galavotti, na Aviação, que houve um cisalhamento em três pilares do prédio. Para reduzir a carga estrutural, foi promovido o esvaziamento da caixa d’água, além da proibição da permanência dos moradores.

Foram colocadas ainda 2.000 escoras metálicas para estabilizar o edifício, que tem 19 andares e abriga, permanentemente, cerca de 250 moradores, além das pessoas que vão ao local apenas por veraneio.

O prédio foi vistoriado na quarta (14/2) pelo Conselho Regional de Engenheiros e Arquitetos (CREA-SP) e é monitorado pela Defesa Civil e pela Secretaria de Urbanismo da cidade.

Peso

Vice-coordenador da Divisão Técnica de Estruturas e Controle Tecnológico do Instituto de Engenharia e Superintendente de Projetos da PhD Engenharia, Douglas Couto afirma que as imagens dos danos nos pilares do prédio evacuado na Praia Grande sugerem a hipótese de um esmagamento, não um cisalhamento, como foi informado preliminarmente pelas autoridades.

Segundo Couto, o cisalhamento tem uma característica muito particular, como se uma faca cortasse o elemento ou um lápis fosse partido ao se fazer força em cada uma das suas pontas. De forma geral, isso acontece por incêndio, variação térmica muito grande, terremoto, vento muito forte, o terra empurrando a edificação.

Já o esmagamento acontece por carga vertical excessiva, que é o peso de cima para baixo, com deformação lenta do concreto e assimetria de carga (mais peso em determinado lado, por exemplo).

Segundo Couto, são várias as hipóteses que podem levar ao esmagamento. Até mesmo uma superlotação do prédio, com mais pessoas do que o recomendado, em pleno feriado, poderia ter provocado isso.

“A gente vê bastante o pessoal colocando piscina em sacada. Um metro de água é uma tonelada de carga, sendo que a gente calcula 300 kg por metro quadrado na sacada”, exemplifica.

Couto afirma que bibliotecas, vasos gigantescos com muita terra, entre outros, também podem provocar sobrecarga. “Falta noção”, diz o engenheiro. Segundo o especialista, a situação é agravada porque, muitas vezes, o atual morador não teve acesso ao memorial do prédio, que específica o que se pode ou não fazer.

Falhas na construção também podem provocar esmagamento da estrutura. O especialista do IE diz ainda que, hipoteticamente, a fundação também pode ter cedido.

O engenheiro diz que a engenharia tem soluções para serem colocadas em prática e que podem tornar o prédio seguro novamente, com reforço nas estruturas e redistribuição do peso. “Já participei de situações parecidas. A gente fez reforço e o prédio está habitado normalmente”, afirma.

Fonte: Metrópoles