Por José Eduardo Cavalcanti – Projeto Novo Pinheiros | Qualidade da água do Rio Pinheiros após quatro anos de intervenção

Decorridos 4 anos após início do projeto de requalificação do rio Pinheiros já é possível avaliar a evolução da qualidade de suas águas, uma vez que monitoramentos vem sendo realizados por parte da Cetesb em toda a extensão do rio e em muitos de seus afluentes.

No monitoramento histórico, a Cetesb mantém 4 pontos, sendo 2 no Pinheiros superior, (Socorro e Pedreira) e 2 no Pinheiros inferior, (Retiro e USP), acrescido de 18 pontos nos afluentes complementado por um monitoramento automático em Pedreira.

Os parâmetros medidos no Pinheiros, com frequência trimestral, são Oxigênio Dissolvido (OD), matéria orgânica, nutrientes, Coliformes e substâncias tóxicas, enquanto que a estação automática mede continuamente pH, OD, Temperatura, Turbidez e Condutividade.

Como se sabe, o rio Pinheiros ao longo de seus 26 km de extensão, desde a barragem de Pedreira até a confluência com o rio Tietê com seus 16 afluentes pela margem direita e 9 pela margem esquerda está enquadrado na Classe 4 – considerada a de pior qualidade, na qual o padrão mínimo de Oxigênio Dissolvido (OD) é de 2 mg/L.

O rio Pinheiros que entremeia comportamento hidrodinâmico misto, variando de lêntico (situação caracterizada por águas estagnadas) para lótico (águas em movimento), em muitos de seus trechos, principalmente no seu curso inferior, mantinha concentrações de OD abaixo do padrão mínimo.

Ao longo de 4 anos, a Sabesp empreendeu intervenções representadas pelo incremento de ligações de esgotos em toda a bacia onde residem cerca de 3.3 milhões de pessoas, das quais 700 mil habitando áreas irregulares desprovidas de infraestrutura, principalmente saneamento.

Neste período foram ligadas no Pinheiros superior 156.1 mil economias, cerca de 22%
mais que as127.9 mil originalmente previstas e no Pinheiros inferior 402.1 mil ligações,
cerca de 99.4% das 404.7 mil previstas.

Além disso, foram implantadas às margens de alguns dos afluentes do Rio Pinheiros na modalidade “ex situ”, as chamadas Unidades de Recuperação (URs). São elas: Cachoeira localizada no córrego Morro do S com capacidade para tratar 300 L/s, Pirajussara, (600 L/s), Antonico (180 L/s) e Jaguaré (300 L/s) pela margem esquerda e, Águas Espraiadas (180 L/s), pela margem direita, perfazendo 1560 L/s.

Como se sabe, estas depuradoras se destinam a tratar, em tempo seco, as águas destes córregos extremamente poluídos que comprometem ainda mais a qualidade das águas do rio Pinheiros. Para tanto foram empregados processos biológicos e físico-químicos de depuração. Os efluentes tratados dos nas respectivas URs são devolvidos imediatamente a jusante aos respectivos córregos com níveis reduzidos de matéria orgânica e concentração de Oxigênio Dissolvido de pelo menos 2 mg/L.

Adicionalmente, ainda em caráter experimental, a Sabesp está oxigenando as águas do rio Pinheiros com oxigênio líquido focando o trecho em torno da Usina São Paulo como objetivo de manter um nível de OD ao redor de 2 mg/L e de minimizar odores.

O resultado do monitoramento após estas intervenções indica (i) redução da carga orgânica exportada para o Tietê e Billings; (ii) melhoras do nível de OD no Pinheiros superior; (iii) diminuição dos índices de Carbono Orgânico Total (COT) em toda a extensão do Pinheiros; (iii) manutenção de déficit significativo de OD no Pinheiros inferior, como mostra o gráfico.

Fonte: CETESB

Os baixos resultados relativos aos níveis de OD obtidos até o momento no Pinheiros inferior revelam ainda que o trabalho de despoluição do rio está longe de ser concluído e que muitas intervenções ainda deverão ser empreendidas segundo metas progressivas.

É verdade que ainda faltam aferir os resultados decorrentes da operação das Unidades de Recuperação (URs) das águas A eficiência esperada quanto à remoção da carga orgânica pelas URs é de pelo menos 80%, à exceção da UR Jaguaré que é de 60% de acordo com a modelagem realizada pela Sabesp. Em termos de concentração, os padrões exigidos para os efluentes tratados foram DBO e SS menores que 30 mg/L.

As URs já estão operando, porém ainda em caráter de pré operação com Licenças de Operação a Título Precário (LOTPs), fornecidas pela CETESB.

As performances das URs, assim como o impacto dos seus resultados operacionais no rio Pinheiros estão ainda sendo mensurados esperando-se além da redução ainda maior da carga orgânica, uma elevação nos níveis de Oxigênio Dissolvido, principalmente no Pinheiros inferior, cujos teores ainda estão abaixo de 2 mg/L mesmo após a ligação na rede de esgotos das 284 mil economias efetuadas no período de 4 anos.

Uma das razões para as baixas concentrações de OD no trecho inferior pode ser debitada à poluição difusa que parece exercer papel preponderante na qualidade de água do rio. No entanto, a ação (ainda não avaliada) das URs localizadas à margem esquerda do Pinheiros, que é onde desaguam os córregos, Pirajussara/ Antonico e Jaguaré, dentre outros córregos menos poluídos, poderá acelerar esta requalificação do rio acarretando a elevação dos níveis de OD.

Esta constatação só saberemos após avaliação dos resultados dos monitoramentos vindouros que medirão os efeitos das URs.

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José Eduardo Cavalcanti é engenheiro consultor, diretor do Departamento de Engenharia da Ambiental do Brasil, diretor da Divisão de Saneamento do Deinfra – Departamento de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), conselheiro do Instituto de Engenharia, e membro da Comissão Editorial da Revista Engenharia. E-mail: [email protected]

*Os artigos publicados com assinatura, não traduzem necessariamente a opinião do Instituto de Engenharia. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo