Saneamento com educação ambiental

Poucas pessoas desvalorizam a educação mas, todos sabem que a falta dela custa muito caro.
Educação custa pouco. Junto às obras de saneamento, sejam elas plúvio-fluviais, de coleta ou tratamento de esgotos ou outras, uma campanha de educação ambiental inicial não demanda mais que 1% do custo da intervenção estrutural no local. 

A experiência mostra que em todas faixas etárias, sociais ou econômicas, há boa receptividade da notícia da execução de uma obra (bem executada) nas vizinhanças, pois, ela valoriza a vida e as propriedades. É claro que nas crianças o efeito é mais compensador, a curto prazo (pois elas educam os pais), a médio (por mostrar com sua pureza que as comunidades locais tem deveres além dos direitos) e a longo (por tenderem, com sua participação, a ser cidadãos duradouramente corretos). 

Exemplos não faltam. Na bacia do Aricanduva (a maior do município de São Paulo, com 100 km²) na obra de canalização e viário, de 4 km a montante da avenida Itaquera (empreendida pela então EMURB de 1981 a 1984), os profissionais da obra, dialogando com a população, em escolas, clubes, igrejas, indústrias, em fim em todos espaços dialogais disponíveis, despertaram a consciência cidadã de que as faixas verdes em cada margem do canal (cerca de 12 m de largura cada uma) não deveriam ser invadidas. Foi explicado que a população era a guardiã daquele patrimônio e que qualquer invasão que durasse mais do que 24 horas, seria muito difícil de remover-se e desvalorizaria a região, especialmente os imóveis. 

Depois de 1984 a obra seguiu para montante até atingir-se a avenida Ragueb Chofi, dessa vez empreendida pela Companhia do Metrô, numa extensão de cerca de 3,5 km, onde similar campanha de educação ambiental ocorreu. 

De 1984 em diante, cada vez que ocorria uma invasão, qualquer que fosse, a população imediatamente exigia das Administrações Regionais (na época, Penha na margem direita e Mooca na margem esquerda) a adequada remoção do(s) invasor(es). O conjunto do acima descrito livrou o trecho em questão de invasões, até os dias de hoje! 

No início da década de 2000 a população, mais uma vez agiu corretamente, apoiando o alargamento do canal (o que diminuiu durante algum tempo o aspecto verde). Tal alargamento foi simultâneo a implantação de reservatórios (os chamados impropriamente de “piscinões”), o que se impunha face a incúria da Administração Municipal que não controlou a urbanização, especialmente na parte de montante da bacia. 

Outros exemplos educativos foram o caso da canalização e limpeza integrada do córrego Bananal (na Zona Norte) que incluiu a participação de crianças em passeata pelo bairro e o caso do córrego São Savério (na Zona Sul) onde os moradores da favela local participaram voluntariamente da construção da canalização. 

A experiência mostra que a educação participativa do indivíduo faz também com que ele passe a não jogar lixo e entulho em qualquer lugar, a não permitir que outros o façam, bem como a exigir do Poder Público o correto manejo tanto de detritos sólidos, como de esgotos, como de águas plúvio-fluviais. 

Além disso, com educação, a escala de valores melhora, por exemplo, na escolha de melhores políticos. 

É bom que se diga que a inserção do custo, sempre relativamente pequeno, do item “Educação Ambiental” no orçamento de um empreendimento de saneamento é formalmente complicada. Claro que doação do(s) prestador(es) do serviço principal somada à disponibilidade voluntária dos profissionais alocados para a obra poderá resolver a questão. Fora disso é esperar uma solução formal criativa legal. 

Para concluir, é indispensável que se diga:
a)que na hora de se (re)erguer a nação, a educação tem que ser de fato de extrema importância,e, 

b)que da mesma forma que a qualidade dos rios mede a qualidade da vida local, a qualidade da educação vai determinar a qualidade dos rios. 


Av. Aricanduva com faixas de preservação – Ano: 1990

Passeata para exigir deveres na Bacia do Bananal

Voluntário da favela São Savério executando canal

Fusca rolha em afluente do Córrego Morro do “S”

Lixo e carcaça de carro junto com o autor do artigo no Córrego Pirajussara

Córrego Paciência próximo a Rodovia Fernão Dias