Curso de engenharia nos EUA forma mais mulher do que homem

Brasil, 1957. Evelyna Bloem Souto é a única aluna mulher na primeira turma de engenharia civil da USP São Carlos. Na época, o meio era tão machista que Evelyna era proibida de entrar em canteiros de obras – a não ser que, antes, se vestisse com roupas masculinas, prendesse o cabelo e a pintasse uma barba e um bigode no rosto.

Corte brusco, mudança de cenário: é 2016, na Universidade de Dartmouth, nos EUA. Entre os formandos do curso de engenharia deste ano, 54% são mulheres – uma grande reforma desde a provação machista de Evelyna, há quase 60 anos.

Pode parecer loucura, mas é a primeira vez que o número de alunas ultrapassa o de alunos em um curso de engenharia nos Estados Unidos – um país em que, em média, só 19% dos diplomas da área vão para mulheres.

Apesar de atrasado, o aumento do número de alunas em Dartmouth foi relativamente rápido. Há 10 anos, só 20% dos estudantes eram mulheres, sendo que, em 2015, essa proporção quase duplicou, chegando a 37%.

Para a reitoria da universidade, a mudança começou quando mais professoras foram contratadas para ensinar em áreas que, geralmente, são dominadas por homens, como a engenharia mecânica e elétrica.

A estratégia faz sentido: com mais professoras atuando como modelos, o incentivo para as estudantes é maior – é a chamada representatividade posta em prática.

E pode acreditar que funciona – as alunas são mesmo incentivadas. Entre os projetos que as novas engenheiras de Dartmouth criaram em seus trabalhos de conclusão de curso, havia ideias inovadoras como um dispositivo para filtrar e transportar água em países subsaarianos, uma válvula que ajuda a controlar a hidrocefalia e até uma cadeira de escritório que ajuda a pessoa a se exercitar enquanto trabalha.

Aqui no Brasil, a situação das mulheres na engenharia melhorou desde o cenário grotesco de Evelyna – mas a coisa continua desigual: entre os calouros da engenharia civil na USP São Carlos em 2014, elas representam 36% dos alunos.

E entre os aprovados na Escola Politécnica da USP, em 2009, 92,7% eram homens e apenas 6,3% mulheres. Ou seja: ainda temos muito o que fazer para que a igualdade seja alcançada – e talvez as nossas universidades possam se espelhar na solução encontrada por Dartmouth para mudar o final desse filme.

Autor: Exame.com