O controle de perdas de água na RMSP não é solução de curto prazo

As perdas de água nos sistemas público e privado de abastecimento de água no Brasil são astronômicas podendo superar a marca dos 60% em algumas cidades brasileiras devido principalmente à precariedade da rede de distribuição e a má gestão destes sistemas. Na média das cidades brasileiras o percentual de desperdício efetivo é de 38,8% segundo dados de 2011 do Ministério das Cidades. 

No Japão e na Alemanha o índice de perdas é de apenas 11%, enquanto que nos Estados Unidos é de 16%. 

Na Região Metropolitana de São Paulo a Sabesp opera os setores de distribuição e centros de produção abastecendo 33 municípios, incluído o da Capital, de um total de 39. 

As perdas de água na rede que ocorrem entre a captação e a entrega são devidas a vazamentos que ocorrem devido ao envelhecimento das tubulações tanto nas juntas como nas fissuras existentes em tubulações submetidas às variações de pressão. São as chamadas perdas físicas, parcela das perdas totais que incluem as perdas aparentes ou comerciais representadas por águas não faturadas, hidrômetros desregulados por fraudes, ligações ilegais (“gatos”), cadastros incompletos e outras causas. 

De acordo com dados do Relatório Final do Plano da Bacia do Alto Tietê elaborado pela FUSP(Dez. 2009) com base nos dados do SNIS de 2005 , o percentual de perdas totais de água na RMSP é de 52.5% . Aquele estudo estimou para a Bacia do Alto Tietê um per capita médio de 156 L/hab.dia e uma produção media per capita de 329 L/hab.dia, com uma perda resultante de 173 L/hab.dia. 

Já a Sabesp estima que as perdas físicas de água na RMSP se situavam em 2009 ao redor de 33%. 

Com a execução do Programa de Redução de Perdas da Diretoria Metropolitana da SABESP para o Sistema Integrado de Abastecimento da RMSP, as perdas físicas estimadas por aquela concessionária se situam atualmente em torno de 24,4% com meta de redução dos índices atuais a 19 % até o final da década. 

Entretanto, a Arsesp, Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo acredita que o índice de perdas na RMSP seria bem maior, 31,2%, valor acima dos 24,4% divulgados pela Sabesp. Esta diferença, segundo a Sabesp é por conta do critério utilizado pela Sabesp que calcula as perdas sobre o volume de água faturado ou seja o que é pago pelo consumidor. Mais, a Arsesp alega ainda que se retirar dos cálculos Guarulhos, por exemplo, que recebe água por atacado o percentual de perdas seria ainda maior ( 35,6% em 2012).Com base nestes dados, a Arsesp fixou para a Sabesp o cumprimento da meta de 27% para 2018. 

Considerando o percentual de perdas informado pela Sabesp (24,4%), o volume de perdas atinge 16.3 m3/s com base em uma vazão aduzida de água tratada de 67 m3/s. Só para comparar: se este índice de perdas estivesse no mesmo patamar médio do que ocorre nos Estados Unidos (16%), (situação perfeitamente viável), o volume de perdas se reduziria a 10,7 m3/s (dois sistemas São Lourenço !), suficiente para atender a uma população de 4,5 milhões habitantes adotando-se o per capita médio de 173 L/hab.dia acrescido daquele suposto índice de perdas (16%). 

O controle de perdas na RMSP, a bem da verdade, sempre se constituiu uma preocupação da Sabesp dado os altos índices de desperdício que tem afetado sobremaneira o abastecimento de uma região carente de mananciais próximos em quantidade e qualidade de água que pudessem atender a demanda atual já superior a oferta de água. 

A Sabesp, inclusive, firmou com a Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA) em 2012 um programa, por meio do qual a JICA prestará apoio ao Programa de Assistência às Medidas para Redução de Perdas a ser executado de 2012 a 2016, como parte do “Programa de Redução de Perdas de Água” em todos os municípios servidos pela Sabesp em todo o Estado de São Paulo. 

Contudo, tendo em vista a grande extensão da rede de água (75 000 km) esta tarefa é dificultada dada a existência de vazamentos invisíveis (cerca de 40% ) em muitos trechos de tubulações com idade avançada devido a rachaduras necessitando de substituição, assim como em ramais prediais e hidrômetros. Segundo levantamentos da Sabesp, 17% da rede têm mais de 40 anos; 34% entre 30 e 40 anos sendo que parte da tubulação da região central de São Paulo foi instalada na década de 30. 

Diante disso, embora o controle de perdas de água na RMSP se constitua em uma necessidade premente além de ser uma obrigação moral e ambiental da concessionária o fato é que este procedimento demandará muito tempo além de requerer uma injeção substancial de recursos financeiros não se constituindo pois em uma solução imediata para o abastecimento de água da RMSP como julgam alguns desavisados. 

Para remate, assinale-se que o suprimento de água para a RMSP está atualmente em situação crítica podendo se agravar mais ainda nos próximos meses (de estiagem)se não chover “a cântaros” (o que é improvável) e o controle de perdas não constitui em uma solução de curto prazo. Aliás, inexistem soluções a curto prazo para a crise da água na RMSP a não ser a implantação imediata do racionamento.