Participatologia, uma das doenças infantis da democracia

Este mote não é meu, mas do Arquiteto Jorge Wilheim em artigo publicado na Folha de São Paulo anos atrás se referindo ao excesso de ingerência de certos setores da sociedade na administração pública, na tentativa de compensar anos de inibição durante o período militar.

Jorge Willheim morreu na última sexta feira aos 85 anos de idade não resistindo aos ferimentos decorrentes de um acidente de carro. Sua biografia como arquiteto, urbanista e homem público é extensa e digna de elogios.

Para dar uma pequeno exemplo de sua personalidade marcante vou descrever um episódio ocorrido no ano de 1987, o qual presenciei, à época em que Jorge Wilheim era o Secretário de Meio Ambiente durante o Governo Mario Covas:

Estava em análise na Secretaria o EIA/RIMA de um aterro de resíduos industriais previsto a ser implantado em Piracicaba, cujos estudos, envolvendo projeto e diagnóstico ambiental, foram por nós desenvolvidos juntamente com uma equipe multidisciplinar condizente com a complexidade daquele empreendimento.

Durante a reunião de avaliação do CONSEMA- Conselho Estadual do Meio Ambiente, órgão consultivo da Secretaria do Meio Ambiente, manifestantes vindos de Piracicaba em ônibus fretado em companhia de um candidato à prefeitura daquela cidade (que acabou por se eleger) invadiram o recinto da reunião plenária pressionando com megafone os membros do CONSEMA que ali estavam a reprovarem de pronto o EIA/RIMA, o que de fato coseguiram.
Mais, ainda não satisfeitos, os manifestantes exigiram também que a empresa que elaborou aquele estudo ambiental fosse punida com o descredenciamento junto à Secretaria para que definitivamente não mais elaborasse estudos daquela natureza.

Pois foi neste momento que o Secretário Jorge Wilheim tomou o microfone e fez questão de enfatizar à frente de todos, conselheiros e manifestantes, sua mais veemente negativa de penalizar a empresa executante do EIA/RIMA sob a justificativa de que aquela peça continha apenas elementos técnicos que propiciariam, à juízo do CONSEMA, viabilizar ou não em termos ambientais àquele empreendimento.

Espero, com este meu depoimento, ter dado um testemunho acerca do caráter deste grande Homem.

A propósito, decorridos 27 anos daquele episódio, Piracicaba ainda não tem sequer um aterro sanitário sendo obrigada a destinar seus resíduos sólidos para um aterro particular em Paulínia.