Em NY, investidores mostram dúvidas sobre solidez de projetos de infraestrutura

Entre investidores americanos, canadenses e europeus que lotaram o centro de conferências do banco Goldman Sachs para ouvir o que as autoridades brasileiras tinham a dizer no seminário “Oportunidades em Infraestrutura no Brasil”, houve muitas perguntas sobre os possíveis riscos de se investir em infraestrutura, sobre regulação, definição das regras, a situação geral da economia no país e até o futuro do grupo OGX, petrolífera do empresário Eike Batista.

Em resposta, a presidente Dilma Rousseff – que encerrou o evento –, os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, e os presidentes do Banco Central, Alexandre Tombini, e do BNDES, Luciano Coutinho, repetiram que o programa de concessões tem regras claras e bem definidas e que o Brasil tem tradição de cumprir contratos. 

“Oportunidade” 

Mantega, que já havia se encontrado com investidores no dia anterior, repetiu que o Brasil representa uma das únicas oportunidades no mundo de investimento “sólido e rentável”.
Questionado por jornalistas sobre o aparente clima de incerteza entre os investidores, apesar do interesse demonstrado em relação ao Brasil, Mantega disse que as preocupações não são específicas sobre o país. 

“Há um clima de incerteza sobre a economia mundial. Isso coloca os investidores em alerta”, disse o ministro.

“Claro que querem ter certeza de que as regras não serão mudadas”, afirmou.
Os esforços das autoridades brasileiras para atrair investidores estrangeiros ocorrem dias após confirmada a procura abaixo do previsto de interessados em participar de leilões de concessão de rodovias e do pré-sal. 

No caso das rodovias, não houve interessados pelo trecho da BR-262 entre Viana (ES) e João Monlevade (MG). No caso do pré-sal, grandes empresas do setor, como a Exxon Mobil e a BP, decidiram não participar do leilão do campo de Libra, que será realizado no mês que vem.
Segundo Mantega, No caso das rodovias, não se trata de um problema no modelo, e sim na escolha da via. 

O ministro reafirmou que já no próximo mês uma nova rodovia será oferecida e que haverá “melhoria de atratividade” nos próximos leilões. 

Relações bilaterais 

Um dia após o discurso duro da presidente na Assembleia Geral da ONU, condenando as ações de espionagem dos EUA no Brasil, Mantega disse que o atual momento de tensão entre os dois países não prejudica as relações comerciais e financeiras. 

“Estas vão muito bem”, disse. “A presença financeira e econômica dos EUA (no Brasil) só tende a aumentar.” 

Os leilões de concessão de rodovias integram o Programa de Investimentos em Logística, que pretende dar fôlego à economia brasileira ao atrair R$ 240 bilhões para a construção de estradas, ferrovias, portos e aeroportos no Brasil. 

As autoridades brasileiras reforçaram que o Brasil não possuiu recursos financeiros suficientes para dar conta de todos os projetos.
“Estamos contando com os bancos privados, sejam nacionais ou estrangeiros, para participar do financiamento desses projetos”, disse Mantega.

Locomotiva

Durante o seminário em Nova York, promovido pelo Goldman Sachs, pelo jornal Metro e pelo Grupo Bandeirantes de Comunicação, os brasileiros se empenharam também em demonstrar a solidez da economia brasileira.
Mantega disse que o Brasil chegará a 2014 com bom crescimento econômico. 

“Este ano, o que esta determinando o crescimento da economia é o investimento. E será importante que todas essas concessões venham reforçar este investimento que já esta
ocorrendo, de modo que o investimento seja a locomotiva do crescimento brasileiro nos próximos anos”, disse. 

Segundo o ministro da Fazenda, embora Brasil tenha sido afetado pela turbulência internacional, tem 
situação mais resiliente do que outros emergentes. 

A avaliação parece ser compartilhada por investidores.
Um relatório divulgado nesta quarta-feira pelo Bank of America e pelo banco de investimentos Merrill Lynch afirma há uma mudança de humor entre investidores europeus em relação ao Brasil.
Segundo a análise do banco, feita após visitas a investidores na Europa na semana passada, a expectativa de um cenário de baixo crescimento para o país nos próximos anos já foi “digerida”. 

Há ainda a percepção de que as condições em outros mercados emergentes sofreram deterioração mais forte do que no Brasil

Autor: BBC