Hidrovia pode absorver 20% do transporte de contêineres

Até novembro, deve ser iniciada uma operação regular nas hidrovias gaúchas para o transporte de contêineres entre Porto Alegre e Rio Grande. O secretário de Infraestrutura e Logística, Daniel Andrade, acredita que o modal possa ser responsável por 15% a 20% da movimentação de contêineres realizada no Estado, no prazo de dois anos. Já foi identificada uma demanda de 20 mil a 25 mil TEUs (Unidade Equivalente a um Contêiner de 20 pés) por ano, que pode ser atendida pela via fluvial. 

Andrade participou ontem da assinatura de protocolo para desenvolvimento do transporte intermodal. O documento traça objetivos e metas para fomentar o segmento hidroviário no Rio Grande do Sul. Ele destaca que estão envolvidos na ação o governo do Estado, os donos de carga, os operadores de navegação, entre outros. Sobre o deslocamento de contêineres pela via fluvial, o secretário relata que ainda não está definida a empresa que prestará o serviço. Em curto prazo, uma opção é que a operação seja feita por barcaças equipadas com guindastes próprios para contêineres, o que facilitaria o carregamento e descarregamento nos portos. Futuramente, é possível que seja construído um terminal no porto da Capital. 

Manteli, que é presidente da Associação Brasileira de Terminais Portuários (ABTP), também salienta que a dragagem será fundamental para o bom aproveitamento das hidrovias. Andrade e o superintendente de Portos e Hidrovias, Gilberto Cunha, autorizaram, ontem, contratação do serviço de dragagem de manutenção dos canais artificiais das hidrovias interiores do Rio Grande do Sul. O volume total estimado a ser dragado é de 762,3 mil metros cúbicos por ano, e o valor da operação, de R$ 5,78 milhões. Um dos locais onde será feita a dragagem é o estuário da Lagoa dos Patos (canais Setia, Barra SG, Canal do São Gonçalo, Coroa do Meio, Nascimento e Feitoria), com volume anual de 327.397 metros cúbicos.
Rios são opção para desafogar rodovias 

Cerca de 72 milhões de toneladas de cargas circularam por estradas gaúchas em 2007. A previsão, conforme a Secretaria de Infraestrutura e Logística, é de que o volume suba para 110 milhões em 2010 e 200 milhões de toneladas em 2020. Para o diretor-operacional da Navegação Aliança, Ático Scherer, a alternativa para evitar um “afogamento” do modal rodoviário no Rio Grande do Sul é o aumento do uso das hidrovias. 

Jornal do Comércio – A solução para impedir a saturação do setor rodoviário no Estado é a hidrovia? 

Ático Scherer – A resposta é a hidrovia. Acho que hoje existem cargas no Estado que não estão sendo colocadas nas hidrovias e que são específicas para esse modal. Cargas de grande volume e de baixo valor agregado, nisso as hidrovias são imbatíveis, não têm concorrentes. O que falta é resolver a equação de alimentar a hidrovia e ter mais locais para embarques e desembarques. 

JC – Como o senhor avalia o uso da hidrovia no Rio Grande do Sul atualmente? 

Scherer – Estamos na mesma situação que nos encontrávamos no final da década de 1980. Nós transportamos o mesmo volume de cargas daquela época, com a diferença que antes havia 11 empresas de navegação e hoje tem cinco. Apesar de termos condições para movimentar 10 milhões de toneladas ao ano, continuamos transportando as mesmas cinco milhões de toneladas. 

JC – O que explica esse cenário? 

Scherer – Para recuperarmos o tempo perdido e aumentarmos o volume transportado pela hidrovia é fundamental que sejam criados novos pontos de carga e descarga, para as embarcações terem um melhor rendimento. O custo da construção de navios aumentou e para se tornarem competitivos eles precisam navegar mais e com mais cargas. 

JC – Qual seria a origem dos recursos para fazer investimentos em terminais no Estado? 

Scherer – O investimento pode ser público, privado ou uma Parceria Público-Privada (PPP), qualquer alternativa é válida. Há a necessidade de se implantar um terminal específico para alguns produtos que hoje não têm local para descarregar. Por exemplo, o carvão mineral não tem local definido para realizar a operação pela hidrovia, assim como produtos florestais como toras e cavacos de madeira. 

JC – Empresários e governo do Estado discutem a possibilidade de construir um terminal no município de Canoas, às margens do Rio dos Sinos. Qual a sua opinião sobre a ideia? 

Scherer – Para o setor de logística, o complexo traria um ganho significativo. Ele situaria, em um local apenas, tanto a expedição quanto o recebimento de cargas, com vantagens para todos os modais. É um ponto estratégico com a proximidade de rodovias e ferrovias. Seria a intermodalidade funcionando efetivamente. 

JC – Quais são as cargas indicadas para o transporte fluvial? 

Scherer – Todas as cargas são passíveis de se serem transportadas pela hidrovia. As que estão utilizando de maneira mais intensa a opção são: arroz, soja, trigo e adubo. As cargas em contêineres ainda têm que ser melhor trabalhadas. 

JC – Há a perspectiva de que novas cargas sejam transportadas pelos rios? 

Scherer – A hidrovia podia ser uma saída para baixar o custo logístico de empresas que trabalham com produtos industrializados e paletizados (carga transportada em uma espécie de estrado). Teríamos que definir os volumes e criar uma embarcação específica para atender a esse segmento. Acredito que hoje, com as embarcações que nós temos, a área de paletes não está contemplada, pois é uma carga nova. Deveríamos encontrar uma forma de transportar isso. 

JC – Atualmente, uma delegação holandesa realiza um estudo, encomendado pelo governo do Estado, para desenvolver as hidrovias gaúchas. O senhor teria alguma sugestão para eles? 

Scherer – O projeto dos holandeses foi um despertar do Estado para o modal hidroviário. A grande contribuição que eles poderiam dar seria apoiar a desburocratização do setor.
ALL pretende aumentar uso ferroviário no Estado 

A operadora logística ALL fechou recentemente nova parceria com a Usiminas – uma das maiores siderúrgicas do País – para o transporte ferroviário. A operação movimentará 10 mil toneladas por mês de bobinas e chapas de aço de Cubatão (SP) até o Rio Grande do Sul. A expectativa é de que esse volume possa crescer e alcançar 30 mil toneladas, em 2010. 

O gerente de Industrializados Norte da ALL, Bruno Lino, relata que o contrato entre as duas empresas foi firmado em junho. Para atender à atual demanda, a ALL investirá cerca de R$ 1,5 milhão no aperfeiçoamento de seu terminal ferroviário, localizado em Porto Alegre, e mais R$ 6 milhões na reforma de 120 vagões. 

Após chegar à Capital gaúcha, por ferrovia, os produtos serão escoados por um raio de 100 quilômetros, pelo modal rodoviário. Entre os destinos estão a Zamprogna, de Porto Alegre, e empresas do polo metalmecânico da Serra. Lino informa que o acordo com a Usiminas é o maior contrato da ALL, em TKU (Tonelada Quilômetro Útil), no segmento siderúrgico. 

O terminal de Porto Alegre será responsável pelo estoque, transbordo e distribuição rodoviária das 10 mil toneladas de bobinas e chapas de aço. A Usiminas instalará uma filial dentro do complexo para concentrar toda a distribuição de aço em um único lugar. A melhoria do terminal prevê, entre outras ações, o reforço do piso e a troca da ponte rolante.

Autor: Jornal do Comércio/RS