Estudo do WWF defende benefício ambiental do etanol

A produção de etanol a partir de cana-de-açúcar tem efeitos benéficos do ponto de vista ambiental, afirma um estudo divulgado nesta segunda-feira (26) pela organização ambientalista WWF-Brasil.

“O estudo conclui que existem benefícios ambientais confirmados e consolidados no que diz respeito à produção de etanol (a partir de cana-de-açúcar)”, disse à BBC Brasil o coordenador do programa de Agricultura e Meio Ambiente da ONG, Luis Fernando Laranja, um dos autores do relatório.

“Do ponto de vista ambiental, é um bom negócio substituir gasolina por etanol”, afirmou Laranja. O governo brasileiro vem defendendo o etanol à base de cana-de-açúcar e rejeitando críticas de que essa produção traria riscos ambientais à Amazônia e contribuiria para a atual crise mundial dos alimentos.

“(O estudo) referenda a posição defendida pelo governo brasileiro”, disse Laranja, ao ser questionado sobre essa posição. Conforme Laranja, os benefícios do etanol brasileiro são verificados particularmente na redução de gases causadores do efeito estufa.

Segudo ele, o etanol brasileiro tem um balanço energético mais positivo (ou seja, é mais eficiente) do que, por exemplo, o etanol à base de milho, produzido nos Estados Unidos.

Mitos 
O estudo do WWF-Brasil analisou o que Laranja definiu como “alguns mitos que envolvem a produção de etanol”. O primeiro seria sobre a eventual expansão de plantações de cana-de-açúcar na Amazônia.

“Não temos risco imediato e real de expansão da produção de cana-de-açúcar na Amazônia. O que existe é irrisório”, disse Laranja.

Segundo ele, há em torno de 200 mil hectares de cana-de-açúcar na Amazônia. “Isso não significa nada no universo da Amazônia. Só de pastagens, há 50 milhões de hectares”, afirmou.

O segundo ponto analisado é o quanto a produção de cana-de-açúcar compete com outras culturas alimentares, considerando-se o atual cenário de crise mundial dos alimentos.

De acordo com Laranja, esse risco é baixo. “Compete pouco com as culturas alimentares, especialmente porque ocupa pouca área. São 7 milhões de hectares de cana-de-açúcar, sendo que metade vai para a produção de açúcar, e a outra metade para o etanol”, disse.

Riscos 
O estudo, porém, alerta para alguns riscos ambientais da produção de etanol em escala regional. “É uma cultura muito concentrada, quase toda no Estado de São Paulo e em regiões vizinhas. Muita cana-de-açúcar em uma área pequena”, disse Laranja.

De acordo com ele, isso representa um risco em potencial sobre a biodiversidade. “Pode ter efeitos sobre recursos hídricos, efeitos diretos sobre o solo.” “Precisamos fazer essa ocupação das novas áreas de forma mais estratégica, da maneira mais racional possível”, disse.

De acordo com Laranja, é necessário, por exemplo, “obediência irrestrita” às áreas de preservação permanente, além de observar o código florestal. “Precisamos pensar, por exemplo, na construção de novas unidades de conservação no Cerrado”, afirmou.

Posição oficial – O relatório divulgado nesta segunda-feira não representa ainda a posição oficial da ONG. Segundo Laranja, as conclusões do estudo servirão para “subsidiar uma decisão sobre o tema”, que deverá ser divulgada “nas próximas semanas”.

“A rede WWF mundial tem uma posição genérica sobre biocombustíveis mais ou menos alinhada com o estudo”, afirmou Laranja.

O estudo foi encomendado há três anos e é parte de um projeto maior, financiado pelo Ministério de Assuntos Internacionais da Holanda.

O objetivo inicial, de acordo com Laranja, era avaliar os efeitos da expansão do setor de cana-de-açúcar no Brasil em razão da suposta liberalização do comércio mundial dentro da Rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC).

A Rodada de Doha ainda não foi concluída mas, segundo Laranja, no decorrer desses três anos, uma série de transformações conjunturais em todo o mundo, especialmente no que diz respeito ao aquecimento global, colocaram o etanol em posição de destaque na agenda global.

“Direcionamos o projeto para analisar a expansão do setor sucroalcooleiro no Brasil e suas conseqüências socioambientais”, disse Laranja.

Autor: Estadão Online