Discurso de posse pronunciado pelo Presidente Edemar de Souza Amorim no Instituto de Engenharia

Senhoras e Senhores, 

Enquanto pensava no que dizer nesta oportunidade, iniciei uma lista das pessoas a quem gostaria de agradecer pelo apoio nestes mais de 40 anos de caminhada.
Tarefa esta que logo se mostrou impossível, primeiro pelo efeito destes mesmos 40 anos em minha memória e segundo, por ter logo de início, estabelecido um limite de apenas 10 minutos de fala. 

Optei então por concentrar meus agradecimentos a duas pessoas, representando todos os outros que, como elas, têm seu lugar assegurado na minha lista pessoal de gratidão. 

Ao eng. Augusto Carlos de Vasconcelos, meu professor e primeiro empregador, o primeiro de uma lista de engenheiros que acreditaram no meu trabalho e abriram as portas de suas empresas para que eu pudesse seguir meu caminho até aqui. 

Agradeço também, de forma especial, minha mulher Denise por estar ao meu lado ao longo destes anos todos, sempre presente e pronta para qualquer desafio que surgisse, com a mesma confiança e disposição do dia em que decidiu seguir a vida comigo.
Aliás, o Dr. Vasconcelos foi nosso padrinho de casamento.
A todos os outros, meu muito obrigado. 

Na verdade, a idéia da minha candidatura à presidência do Instituto de Engenharia nasceu há pouco mais de um ano. Ao analisar os resultados obtidos durante a gestão do eng Lafraia, e avaliando o que ainda havia por fazer, vi que o Instituto de Engenharia precisava de alguém que garantisse a continuidade das importantes mudanças que vinham sendo feitas. 

Ao fato de ter participado ativamente dessas reformas e à minha educação presbiteriana, que jamais me deixaria fugir do dever com a comunidade, somou-se ainda, o grande desafio de por em pratica algumas idéias nada despretensiosas numa época de transição para a engenharia. E não será uma tarefa fácil, pois o mundo mudou, e mudou muito. 

A missão que os conselheiros, a diretoria, o Camil, o Dario, o Ozíres, o Paulo, o Permínio, e eu temos pela frente, será tão difícil, que este discurso de posse deveria se autodestruir cinco segundos após sua leitura. 

Senhoras e senhores, trago boas e perturbadoras novas: os cientistas da idade média tinham razão, o mundo é plano. As fronteiras físicas estão se erodindo em velocidade exponencialmente superior aos muros físicos levantados nas mais diversas áreas de risco e conflito, levando consigo todos os paradigmas que conhecíamos e convivíamos. 

Quando a maioria daqueles que hoje tomam posse recebeu seu diploma e iniciou sua carreira profissional, era preciso agendar uma chamada telefônica interurbana com muita antecedência. Caso a família não fosse abonada o bastante para que a casa tivesse acesso a uma linha telefônica, a alternativa era o correio. 

Hoje, de um computador conectado à internet, fala-se com o mundo inteiro, instantaneamente, por no máximo 5 centavos o minuto. A maioria dos participantes ativos dos eventos do Instituto de Engenharia não se dá ao trabalho de vir a este auditório. Conectam-se ao website do Instituto de Engenharia confortavelmente de suas casas, de seus escritórios ou de uma cafeteria comum num país qualquer, e participam ativamente, fazendo perguntas e sendo respondidos pelo palestrante. 

Hoje, em qualquer TV à Cabo, a engenharia virou entretenimento. Pontes, viadutos, mega edifícios ou grandes desastres concorrem com comédias, filmes e shows em pé de igualdade. Os reality shows saíram do confinamento do Big Brother na rede Globo e passaram a construir carros, contratar executivos, reformar casas, apartamentos e até pessoas. 

Na corrida por notícias, as grandes redes perdem para uma legião de indivíduos munidos de celulares e conexões de banda larga. Seus blogs, flogs, podcasts, You Tubes e Wiki’s são mais ágeis, mais abrangentes, mais profundos, mais precisos e, principalmente, totalmente incontroláveis. Garantem assim, cobertura jornalística local de qualidade e profundidade, impossíveis num horário nobre ou numa publicação de alcance nacional. 

A informação que conhecíamos não é mais a mesma, perdeu o direito autoral, o controle e a forma. Porém ganhou velocidade, abrangência e vida. 
A informação retida viu seu valor virar pó e o conhecimento, hoje, precisa ser compartilhado para continuar valendo alguma coisa. A música compartilhada na rede, que faz a gravadora perder dinheiro, lota os shows do artista, vendendo mais ingressos e mais produtos de licenciamento. A Internet agora ganhou vida, uma segunda vida, onde se navega literalmente, onde os websites viraram imóveis e sua página tem formato de um prédio.
Loucura? Ficção? Brincadeira?
Para a grande maioria aqui hoje, talvez. 

Mas o SECOND-LIFE, ambiente virtual com 5 milhões de participantes, movimentando algumas centenas de milhões de dólares por mês, já atrai grandes corporações como Nokia, General Motors, Petrobras e muitas outras estão a caminho. 

O mundo real também não é fácil. No Brasil completamos 22 anos sem grandes obras. O país entra em 2007 com a mesma infra-estrutura de 1985 e parece querer seguir com ela, desafiando a lógica e buscando o crescimento a qualquer custo, sem sequer preparar-se para ele. O atual governo anuncia seu grande plano de investimentos, onde o maior problema não é a disponibilidade financeira. Pois a dura verdade é não haver profissionais capacitados para gerenciar os projetos pretendidos. 

Chegamos à absurda situação onde um engenheiro tem mais perspectivas de trabalho nas mesas de operações de um grande banco, do que nos canteiros de obras, escritórios de projetos ou fábricas espalhados pelo país. Esperemos que, num futuro próximo, a carteira do CREA não precise ser validada no Banco Central ou na BM&F. 

Resumindo, temos a grata tarefa de reerguer a engenharia brasileira, trabalhando em conjunto com Associações, Clubes de Engenharia, Federações, Grupos, Institutos, Sindicatos entre outros num esforço nunca antes necessário no Brasil. 

Esta gestão terá de trabalhar na capitalização da popularidade do Discovery Channel, transformando os jovens telespectadores impressionados, em matrículas nos cursos de engenharia das Universidades Brasileiras. 

Teremos de lutar contra a mediocridade da maioria dos cursos de engenharia, contra a banalização da contratação de serviços e projetos, para o estabelecimento de critérios de qualidade e intensificação da fiscalização. 

Teremos de trabalhar para nos adaptar a um mundo formado por redes, onde não há a distinção entre consumidor e produtor, pois a empresa que vende seus produtos pela internet, também por meio dela compra seus insumos e suprimentos. Onde o profissional que oferece um curso à distância, participa de um treinamento de sua empresa. 

Enfim, é chegada a hora de repensar o papel de instituições como a nossa, passando de representante de categoria à articuladora de debates, de depósito de informações à construtora de conhecimento, de entidade isolada à lider do movimento de criação de um país melhor. 

Portanto, senhores, com a sólida fundação deixada pelo eng. Lafraia, é hora de por a mão na massa, é hora de construir um novo Instituto de Engenharia.
Uma nova instituição, moderna, atualizada, abrangente, inclusiva e atuante. 

Obrigado

Autor: Edemar de Souza Amorim