Fukushima pós 11/3

Num raio de 20 quilômetros em torno da usina nuclear de Fukushima Daiichi, no Japão, ninguém passa. Desde 11 de março de 2011, quando o terremoto, o tsunami e o acidente nuclear causaram uma catástrofe com mais de 15 mil mortos, a região respira ares de uma cidade fantasma. Moradores tiveram que deixar suas casas, trabalhadores largaram os negócios e agricultores abandonaram as lavouras. Restaram alguns animais e escombros. Fora da área de alto risco, a população tenta se recuperar do trauma.

Segundo um relatório de setembro do Ministério do Meio Ambiente do Japão, a contaminação por radiação atinge níveis alarmantes em até 2.400 km², o que abrange Fukushima e outras 4 prefeituras do norte do país. O professor brasileiro Dimitri Ferreira, dono de uma rede de escolas de idiomas em Namie, uma das cidades vizinhas, a 30 quilômetros da usina, é um dos muitos que não pretende voltar. “O governo diz que está seguro, mas lá ninguém sai às ruas, nenhuma loja abre. Querem nos enganar dizendo que está tudo bem e é claro que não está”, conta, de sua moradia provisória em Nagoia, a centenas de quilômetros do acidente.

Autoridades japonesas afirmam que, para salvar o solo, retirarão 29 milhões de m³ de terra — volume equivalente ao esgoto que o Brasil inteiro produz em um dia. A ideia é que uma camada de 5 cm da superfície contaminada por césio seja removida. Para a operação, o país conta com a ajuda da Agência Internacional de Energia Atômica, da ONU, que, após ter publicado um relatório em junho criticando a falta de segurança em Fukushima, coordena análises na região. De acordo com o grupo, essa limpeza deve demorar décadas. O terreno está fértil para movimentos como a passeata de 19 de setembro, quando mais de 20 mil pessoas se reuniram em Tóquio para protestar contra usinas nucleares. O futuro japonês, pelo visto, segue sob uma nebulosa invisível e tóxica.

1. DESERTO DE CONCRETO | Homem caminha pela cidade vazia de Futaba, inserida na zona de evacuação, a menos de 20 quilômetros da usina nuclear Fukushima Daiichi. Mais de 80 mil moradores foram forçados a se mudar após a explosão causada pelo tsunami 

2. CONTAMINADA | Equipe carrega recipientes para medição do nível de radiação do mar 

3. SOB O CAOS | Abandonada, instalação de tratamento da água para reator ainda se encontra em ruínas

4. DESTROÇOS E CÉSIO | Vista aérea da usina em recuperação. Catástrofe atingiu o nível 5 de crise nuclear, algo distante de Chernobyl, a única a obter o grau máximo (7) na escala

5. INOPERANTE | Sala de controle dos reatores 3 e 4 na usina; explosões destruíram o revestimento superior de hidrogênio onde estavam alojados

6. ANTIRRADIAÇÃO | Funcionários da empresa de tecnologia Toshiba, fabricante dos reatores, descansam em área preservada


7 – HOSPITAL FANTASMA | Macas em antigo centro de saúde na cidade de Futaba

8.. À DISTÂNCIA | Protegidos, trabalhadores operam máquinas por controle remoto para eliminar os detritos nos arredores da usina 

FOTOS: LatinStock

Autor: Galileu