Engenharia é uma das profissões mais afetadas pela crise econômica

Houve um tempo no Brasil em que se falava no déficit de engenheiros. A estagnação na atividade não estimulava a formação de novos profissionais. Na década entre 2003 a 2013, a história virou. O crescimento do PIB, o avanço das obras de infraestrutura, os programas de financiamento da casa própria e a expansão de setores como produção industrial, naval e de petróleo reascenderam a procura pela área. Perfil ocupacional realizado pela Federação Nacional dos Engenheiros (FNE), em parceria com o Dieese, mostra que no período de dez anos o número de engenheiros com emprego formal cresceu 87,4% no Brasil. A evolução foi maior que a do emprego geral, com avanço de 65,7%. Em Pernambuco, o salto foi ainda superior, ficando em 207,6%. Com a crise econômica, a partir de 2014, a tendência voltou a se inverter. De janeiro a agosto, 10,6 mil engenheiros perderam o emprego no Estado.

“O crescimento econômico trouxe de volta à tona a importância do engenheiro para a economia do País. A atividade avançou do ponto de vista da qualificação profissional, dos salários, da participação das mulheres. O governo e a iniciativa privada precisam buscar alternativas para que as obras não fiquem paradas e não se percam os esforços realizados na área nos últimos anos”, defende o presidente da FNE, Murilo Pinheiro. A construção civil foi um dos setores mais prejudicados pela desaceleração econômica e contingenciamentos do governo. No acumulado do ano são 177,7 mil empregos a menos na atividade.

Pernambuco segue a tendência nacional, mas com o agravante de abrigar no Estado obras importantes como a da Refinaria Abreu e Lima, que desmobilizou 42 mil pessoas e adiou a construção da segunda etapa do empreendimento, em função das investigações de corrupção pela operação Lava Jato. “A construção é um dos primeiros setores a sentir o impacto da crise. Aqui tivemos problemas com as grandes obras e com o setor imobiliário, prejudicado pelas mudanças nas regras de financiamento. A refinaria parou e obras como Transnordestina e Transposição estão a passos lentos”, observa o presidente do Conselho Regional de Engenharia em Pernambuco (Crea-PE), Evandro Alencar.

A estudante de engenharia civil da Uninassau Roberta Carvalho é um exemplo de profissional atraída pelo bom momento da atividade. “Me formei em biologia, mas em 2010 comecei a trabalhar na obra da Transnordestina na minha cidade-natal, em Custódia, como assistente-administrativa e comecei a me interessar pela área. Este ano comecei a cursar engenharia civil. A situação atual me preocupa, sobretudo porque a partir do próximo período já posso começar a estagiar. Mas espero que a crise seja passageira e quando eu me formar em 2019 as oportunidades tenham voltado como antes”, aposta.

O engenheiro de minas Leonardo Pena, 35 anos, também espera pela retomada. Trabalhando na Odebrecht entre 2010 e julho deste ano, ele sentiu o peso da crise quando a obra em que trabalhava no Rio de Janeiro foi parada. “Os trabalhos foram suspensos em abril. A empresa ainda me deixou em cada até julho na esperança de me recolocar em outro projeto, mas a crise não deixou. Estou desempregado desde julho e com dificuldade em conseguir nova colocação. Numa vaga que tentei, a pessoa de RH da empresa disse que estavam precisando de um engenheiro de minas, mas iam esperar passar a crise pra contratar”, conta. Leonardo vai aproveitar o dinheiro da indenização para estudar inglês no Canadá e melhorar um ponto fraco no currículo. “Vou para a cidade de Calgary que é um polo de engenharia pra estudar e tentar uma colocação”, diz.

A dificuldade em encontrar emprego está forçando profissionais a procurar emprego em outras áreas. “Minha prioridade é trabalhar em engenharia, mas se continuar difícil como está vou apelar para minha formação como técnico em segurança do trabalho. É uma área também vinculada à engenharia, mas que também tem espaço em outro setores como indústria”, diz o engenheiro Caio Rocha, desempregado há dois meses.

Autor: Jornal do Commércio