Equipamento aumenta eficiência na classificação de castanhas

Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP criou um método eficaz de identificação e classificação de castanhas do Brasil, mas conhecida como castanha-do-pará. O método utiliza um equipamento capaz de identificar amêndoas (termo botânico para a semente da castanha) quebradas e intactas, além de distinguir de qual região provém a castanha. O pesquisador Raphael Gava de Andrade, autor do estudo que desenvolveu o equipamento, diz que o método criado visa à indústria brasileira de castanhas processadas (sem casca).

Segundo Andrade, boa parte das empresas do ramo no país ainda faz manualmente o processo de identificação. “Hoje existe um processo muito arcaico de seleção e quebra de castanhas. Com isso, há perdas numéricas, problemas de higiene e outros empecilhos. Pode-se dizer que no método manual há em torno de 15% de margem de erro na seleção das castanhas”, comenta. 

Além disso, o pesquisador enfatiza que a margem de erro no modo manual pode ser maior, se considerar as variações da condição humana, como cansaço, o que não acontece com as máquinas. Na pesquisa, em compensação, o seu método com o equipamento conseguiu distinguir corretamente 95,7% das amêndoas (entre quebradas e intactas)

Quanto à identificação da origem das castanhas, o equipamento teve acerto de 84%. Andrade lembra que ainda não há sistema de rastreamento da origem delas e explica que a identificação valoriza o produto na hora de exportá-lo. “Toda a região Norte do país produz castanha e, como é um produto extrativista, as pessoas o vendem para a indústria sem rastrear sua procedência. Se pensar industrialmente, quando há um processo de rastreabilidade aumenta o valor agregado do produto na exportação”, detalha o pesquisador, que acrescenta que países europeus e os Estados Unidos importam as castanhas brasileiras e medem esse tipo de qualidade.

Ele também enfatiza que o Brasil poderia ter a maior produção de castanhas processadas, mas a sua indústria precisa de uma modernização. Atualmente, o país é o maior produtor de castanhas in nutura (com casca), mas em castanhas processadas a Bolívia está na frente, pois já utiliza um processo industrial automatizado, diferentemente do Brasil.

Equipamento
O estudo é fruto da dissertação de mestrado de Andrade para a EESC, com a orientação do professor Valentin Obac Roda. O equipamento criado para o processo de identificação é composto por uma câmera de vídeo digital ligada a uma placa de captura de vídeo e um computador, uma esteira por onde passam as castanhas e um sistema de iluminação ambiente. 

“A câmera envia imagens para o software do computador. Através de algoritmos de processamento de imagem, consegui identificar as amêndoas das castanhas e distinguir qual estava boa e qual estava quebrada. A identificação era feita por uma rede neural artificial”, explica o pesquisador sobre o funcionamento do sistema de identificação. Andrade comenta que há vários tipos de pesquisas que utilizam parte desse algoritmo para outros produtos, como na seleção de tomates.

Ele destaca como vantagens do sistema: modo higiênico de seleção de castanhas, faz uma análise mais produtiva e concisa e tem baixo custo. Neste aspecto, Andrade estima que o valor do equipamento não passe dos R$ 2000,00 para reprodução.

O equipamento e o sistema são inéditos no Brasil. O trabalho foi desenvolvido sobre um tema de interesse nacional sugerido e apoiado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Intrumentação de São Carlos, instituição vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do governo federal, com o professor Roda. No momento, a empresa está elaborando uma versão mais robusta do equipamento para uso industrial.

Autor: Agência USP