Matriz energética foi o tema da terceira edição dos Caminhos da Engenharia Brasileira

No dia 14 de agosto, o Instituto de Engenharia realizou a terceira edição dos Seminários Caminhos da Engenharia Brasileira que, desta vez, abordou o tema Matriz Energética- Setor Elétrico. Durante todo o dia vários nomes do setor estiveram no auditório nobre da Casa para discutir os temas Energia Renovável – Biomassa –Eólica- Solar- e Hidroelétrica. 

A mesa de abertura contou com a presença de Aluizio de Barros Fagundes, presidente do Instituto de Engenharia, Miguel Bucalem, secretário Municipal de Desenvolvimento Urbano, representando o prefeito Gilberto Kassab, Arnaldo Jardim, deputado federal, Francisco Kurimore, presidente regional Crea-SP, e Jean Cesari Negri, assessor da diretoria de Tecnologia e Empreendimentos e meio Ambiente representando Dilma Penna, presidente da Sabesp. 

Em seu pronunciamento Aluizio destacou a missão do Instituto em afirmar que a “Engenharia tem de ser praticada em benefício da humanidade e, assim, ser um instrumento de progresso, como base da Economia, da cidadania e da política governamental”. 

Ele lembrou que nos primeiros eventos foram discutidos os temas Inovação e Competitividade, Sustentabilidade, Logística, sobre o ensino no Brasil e, no segundo, foram analisadas as questões do Conteúdo Nacional, na qual foi verificada a competência da classe. 

“Hoje debateremos a questão essencial da energia elétrica no Brasil, em busca de uma adequada análise deste fundamental setor da infraestrutura econômica”, disse. Ele destacou ao final que a próxima edição dos Caminhos da Engenharia Brasileira trará como tema a Engenharia aplicada ao agronegócio. 

Jean Cesari Negri, assessor da diretoria de Tecnologia e Empreendimentos e Meio Ambiente, destacou que está há 15 anos tentado estudar a questão do planejamento energético e nos últimos cinco anos, desenvolve a matriz energética do Estado de são Paulo. “A matriz elétrica é fundamental e é uma parte do problema. Hoje a eletricidade do consumo final representa menos de 20%. A energia elétrica tem uma organização de várias décadas e tem importância fundamental em vários setores de consumo final, comércio 90%, indústria 20% e residências 40%”, explica Jean. 

Segundo ele, temos duas formas de avaliar a matriz energética: a tendencial que, olhando o passado e com regras de acoplamento projetamos o futuro, “olhamos estruturalmente o futuro supondo que teremos uma ruptura, e nós estamos em rupturas. O pré-sal e as mudanças climáticas são rupturas que vão influenciar a matriz energética”. 

O setor elétrico tradicionalmente sempre foi prodigo na questão do planejamento. Antes da reestruturação tínhamos planos de 10, 15 e 30 anos. “Com a reestruturação teve uma descontinuidade recuperada depois com a criação da empresa de pesquisa energética. O que sentimos falta é de planejamento a longo prazo até mesmo para definir trajetórias”, disse. 

Francisco Kurimore, presidente regional Crea-SP, destacou que o Brasil precisa da engenharia brasileira. “Nós somos executores dos investimentos do País, nós somos os profissionais da produção. Nossa próxima missão neste país é uma missão ética. Esse é o nosso compromisso. Nós movimentamos 17% do PIB do País. Estamos tendo uma invasão de profissionais e tecnologias estrangeiras. É ruim, não, não é ruim, mas com planejamento, não podemos ficar fora agora”, enfatizou. 

Miguel Bucalem falou sobre a perspectiva de São Paulo em relação a energia. A cidade está comprometida com o desenvolvimento sustentável, que implica em um consumo racional de energia e políticas que diminuam o consumo per capita. “Hoje 65% do consumo de energia no Estado se faz pela queima de combustíveis fósseis no transporte. “É alarmante, pois há prejuízo para o meio ambiente. Mudar esta matriz de consumo é um dos grandes desafios que a cidade têm a médio e longo prazos”, ressaltou. 

Ele enfatizou os esforços para criar condições que a cidade cresça em um padrão de ocupação urbana mais sustentável, o que chamamos de cidade compacta, aproveitando áreas com grande infraestrutura para abrigar o crescimento. 

O primeiro painel que tratou do tema “Energia renovável – biomassa –eólica– solar. 

A palestra foi do deputado Arnaldo Jardim, que falou sobre a “Legislação sobre energia renovável”.
Falou sobre o apagão, que aconteceu há 11 anos. “Constatou-se que no susto do processo o consumo residencial foi reduzido em 20%, com mediadas de economia. Hoje vivemos um momento de desafio que não vem por conta da escassez, vem no sentido da necessidade de nos prepararmos a médio prazo para que a oferta continue crescendo e seja diversificada, para não termos dependência e vulnerabilidade”, disse. 

Ele também citou a possibilidade de os Estados Unidos usarem o gás de xisto como alternativa como independência energética. 

A segunda exposição foi de Miracyr Marcato, diretor do departamento de Energia e Telecomunicações do Instituto de Engenharia, que falou sobre “Matriz energética – sistema elétrico brasileiro, planejamento e racionalidade”. 

Ele iniciou mostrando um panorama energético mundial, destacando que em 2010 o mundo, com 6,8 bilhões de habitantes e 150 milhões de km² de áreas emersas terrestres, registrou um consumo total energético de 12 bilhões de TEP (toneladas equivalentes de petróleo) contra 9,4 bilhões de TEP em 2000. 

Sobre o abastecimento no Brasil ele citou que deve-se manter e ampliar a presença na matriz energética das fontes primárias renováveis, com ênfase na biomassa, energia eólica e na utilização integral dos recursos hídricos, preservando a capacidade de armazenamento e a regulação plurianual dos reservatórios hidrelétricos. 

Incentivo à eficiência energética (cogeração na indústria e melhoria nos rendimentos dos motores automotivos), apoio ao transporte coletivo e a outros modais de transporte: ferrovias e hidrovias. 

“O Brasil possui uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, 46% de sua energia primária provém de fontes renováveis contra 7,2 % de média mundial (2010), 4,2 % (EUA), 8,9% (Europa) e 7,2 % (China). Um paradoxo brasileiro é a sua dependência de petróleo (38%) maior que a média mundial (33,5%), Europa (31,1%) e mesmo EUA (37,2%) devido à sua matriz de transportes (80% a diesel e gasolina) e a subutilização do GN”, explica. 

Ele destacou que outro paradoxo é o fato de a indústria automobilística poder licenciar, sem qualquer oposição ambiental, três milhões de carros/ano (165.000 MW), mais do que toda potência elétrica instalada do país, que poluem e congestionam a maioria das grandes cidades, ao passo que uma hidrelétrica de 3.000 MW requer prazos e compensações econômicas imprevisíveis para sua implantação que oneram o custo da energia. 

Sobre a energia eólica ele destacou que para maior integração da energia eólica e flexibilidade operacional do sistema elétrico os modernos aerogeradores devem permitir: controle e regulação de voltagem, fator de potência, frequência, variações do despacho de carga, fornecer potência reativa capacitiva e indutiva e limitar as correntes de curto circuito do sistema e capacidade de suportar afundamentos temporários de tensão e frequência sem desligamentos (LVRT). 

Encerrando a primeira etapa do ciclo de palestras, Carlos Roberto Silvestrin, vice-presidente da Cogen, falou sobre “Oportunidade e prioridade da geração distribuída cogeração biomassa e energia solar”.
Ele abriu sua palestra abordando as características do parque hidráulico e os desafios das ofertas futuras, como: UHE “fio d água” distante do centro de carga; linhas de transmissão de longa distância e acentuada sazonalidade da oferta hídrica. 

Sobre a matriz energética, ele citou que a hidroeletricidade continuará como a principal fonte de geração de energia, embora sua participação no total da potência instalada do SIN – Sistema Interligado Nacional – será reduzida de 79%, em 2011 para 70%, em 2016. 

Em relação à bioeletricidade as direções expostas foram: realizar leilão por região “geo-elétrica”; desonerar tributos na cadeia produtiva (ICMS, IPI) e REIDI (PIS/COFINS); obter recursos para financiar a expansão da moagem de cana e de bioeletricidade. 

Ele ressaltou, em relação a energia solar, que o consumidor será também o produtor. Que há micro e mini gerações desta energia que pode render em várias oportunidades de negócios. 

“A indústria solar se desenvolveu com a demanda europeia. Agora busca negócios em países com irradiação solar e crescimento econômico sustentado”, destacou Silvestrin. 

No período da tarde o tema abordado foi energia hidroelétrica. Sérgio Anauate, diretor geral da Tacta Enercom, começou a apresentação falando que no Brasil o sistema de hidroelétricas é o mais utilizado. “O sistema elétrico brasileiro foi construído com usinas hidroelétricas de grande porte (com reservatório) e linhas de transmissão de longa distância para suprimento e interligação. O advento das fontes alternativas de energia trouxe consigo o conceito de energia variável, sujeita aos caprichos da natureza e sem possibilidade de armazenamento (até hoje). As crescentes restrições ambientais impostas aos empreendimentos de energia levaram o sistema a dar preferência ao sistema fio d água para a geração hidroelétrica”, explicou Anauate. 

Desta forma, a energia variável resultante da geração eólica, solar e biomassa ganha a companhia da geração hidroelétrica, aumentando sua participação na matriz energética brasileira. Todas as centrais geradoras precisam ser conectadas ao sistema para permitir o escoamento de energia, e isso é feito através de linhas de transmissão ou distribuição. 

De acordo com Anauate, nas centrais eólicas a potência de cada gerador é coletada por uma rede de média tensão (em geral 34,5kV) e levada até uma subestação coletora, que recebe a potência dos diversos geradores ou parques e eleva a tensão para que a energia possa ser entregue ao sistema. A tensão de transmissão para conexão ao sistema pode ser de 69kV até 500kV, em função de vários fatores, inclusive a disponibilidade de pontos de conexão próximos e da tensão dos mesmos. O tipo de linha a ser usada para conexão depende também do porte da central geradora. 

“Todas as centrais geradoras precisam ser conectadas ao sistema. Nas centrais eólicas a potência de cada gerador é coletada por uma rede de média tensão. A tensão da transmissão para conexão ao sistema pode ser de 69kV até 500kV, em função de vários fatores, inclusive a disponibilidade de pontos de conexão próximos. Mas no caso de grandes centrais um sistema de transmissão específico. Já nas centrais de porte médio ou pequeno, é necessária a identificação de um ponto de conexão ao sistema”, contou o engenheiro. 

Walter Coronado Antunes, conselheiro do Instituto de Engenharia, falou sobre os aproveitamentos hidrelétricos na Amazônia. Ele começou sua explanação mostrando um mapa onde eram apresentados os biomas do Brasil e sua preservação. 

“Entre a reserva legal e a área de preservação ambiental, que são as áreas junto dos rios, ribeirões, o território brasileiro vai ter aproximadamente 55% de ocupação, o restante, 45%, ficam para tudo, para ocupação geral. Argumenta-se de um lado que é impossível viver mais que dois habitantes por m² em área onde não haja agricultura e pecuária, e por outro lado nós estamos com tecnologias que podem baixar a necessidade de terras, mas a gente não pode pensar que a tecnologia vai resolver o problema de alimentação do mundo, com menor área de terra possível como imaginam os ambientalistas brasileiros”, afirmou Antunes. 

Segundo ele, a potência total prevista avaliada para a Amazônia seria de 95.000 megawatts. Ele também disse que nos estudos divulgados pela “Superintendência de Projetos da Companhia Furnas”, nas justificativas para a partição da Usina Santo Antônio, no Rio Madeira, em duas usinas, a conclusão leva à adoção de usinas de baixa queda. Com isso, em vez de construir uma barragem com 40 metros de altura, serão construídas duas barragens de 20 metros de altura cada uma. Isso levou a duas contratações de grande porte, 3.500 em Jirau e 3.500 em Santo Antônio. O problema é que o leilão que levou a contratação dos consórcios e PPPs estabeleceu preços relativamente baixos para a energia produzida. 

Silvio Binato, da empresa PSR, veio representando o palestrante Mario Veiga da mesma empresa. Ele falou sobre “Planejamento e operação do sistema integrado brasileiro”. “A capacidade instalada do sistema brasileiro é de 120 GW sendo 75% dessa capacidade instalada de origem hidroelétrica e 25% de origem térmica, gás natural, óleo, nuclear, biomassa, carvão e eólica, entre outras. Estes 75% são responsáveis por cerca de 90% da energia produzida e varia de ano para ano, dependendo se o ano é mais seco ou mais úmido. Essas usinas estão localizadas em diferentes bacias, o sistema elétrico brasileiro é caracterizado por ser um sistema de grandes reservatórios ou com uma capacidade de regularização bastante razoável. Uma dificuldade a mais é que essas usinas cascatas pertencem a proprietários diferentes”, destacou Binato. 

“As usinas hidroelétricas têm um custo de oportunidade. Um modelo que ilustra bem as usinas com reservatório é, por exemplo, se sou dono de um reservatório, vendo água ao sistema, eu vendo energia ao sistema através da água. Portanto, vou procurar maximizar a minha rentabilidade. Se o preço da energia futura ou preço esperado da energia futura for maior amanhã eu vou guardar a minha água hoje, não vou vender a água hoje ao sistema para deixar para vender amanhã. Se o preço da energia for maior hoje, eu vou produzir a energia hoje e não vou ter água amanhã para gerar energia. Então, com a ótima operação do sistema há uma igualdade de preços entre o preço de hoje e o de amanhã de forma que seja possível otimizar o uso da água dos reservatórios”, exemplificou Silvio Binato. 

O engenheiro Paulo Pedrosa, presidente da Abrace, falou sobre as “Vantagens do Brasil – da geografia ao modelo de concessões”. Segundo o engenheiro “o Brasil aproveita apenas 34% de seu potencial hídrico. É feita a escolha por expansão a partir de usinas a fio d água e as eólicas exigem contratação de usinas térmicas para garantir segurança do abastecimento. A energia de usinas termelétricas é mais cara e mais poluente. O resultado disso tudo, será uma matriz energética mais suja e mais cara”, finalizou. 

Para ver o material técnico completo acesse: http://www.iengenharia.org.br/site/noticias/index/id_sessao/7

Autor: Instituto de Engenharia