Moradores do Alemão elogiam teleférico, mas cobram mais investimento

A presidente Dilma Rousseff inaugurou na quinta-feira um teleférico que servirá como meio de transporte para morros do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. Apesar dos elogios ao projeto, os moradores locais cobram investimentos mais urgentes em infraestrutura.

No alto do Morro do Adeus, a presidente fez a abertura oficial do sistema suspenso por cabos que passa a interligar seis estações no conjunto de favelas na zona norte do Rio, onde vivem cerca de 150 mil pessoas.

Dilma, que foi batizada de “mãe do PAC” (Programa de Aceleração do Crescimento) pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva na mesma comunidade, há cerca de três anos, quando era ministra da Casa Civil, começou seu discurso com uma saudação ao ex-presidente.

Ela destacou o fato de o projeto ter sido “uma obra de mãos dadas” por ter integrado esforços dos governos do estado e do município do Rio e do governo federal.

“É fruto de uma parceria muito estreita, de interesses comuns, que são o povo do Rio de Janeiro e o povo do Alemão”, disse Dilma, que andou no teleférico sete meses depois que Lula.

O ex-presidente foi inaugurar a fase de testes do teleférico poucos dias antes de deixar o cargo, sob um sol escaldante de verão – bem diferente do dia cinza e chuvoso que recebeu Dilma. O evento era aberto ao público, mas não ficou lotado. A presidente foi saudada calorosamente pelos moradores que enfrentaram um frio incomum para o Rio, do lado de fora da estação. 

Medellín 

Inspirado no teleférico que interliga favelas em Medellín, na Colômbia, o projeto é o primeiro sistema de transporte de massa por cabos no Brasil. De acordo com a presidente, ele fará “o Brasil inteiro olhar com o olhar da boa inveja” para o Complexo do Alemão. 

Ana Amorim acha que o transporte vai atrair turismo, mas ela tem medo de altura

A moradora Ana Amorim diz que está “achando ótimo” passar a contar com o transporte. Sobretudo para atrair turistas e ajudar a mudar a imagem da região – que era conhecida como um dos principais redutos do tráfico armado no Rio de Janeiro até novembro passado, quando foi ocupado por forças de segurança estaduais e federais.

“É uma coisa que vai valorizar o lugar onde a gente mora, malvisto lá fora, marcado por tanta coisa ruim. Pode ajudar muito no turismo, trazendo o pessoal de fora para cá para conhecer melhor o lugar onde a gente vive e tirar essa imagem feia”, diz ela, representante de uma associação que presta apoio a favelas.

Ana só não sabe dizer se de fato vai usar o transporte suspenso por cabos – morre de medo de altura e não quer ser uma das primeiras pessoas a embarcar. 

Morador da favela das Palmeiras, uma das áreas mais carentes do Alemão, Galileu Vieira da Cruz acha que o teleférico vai trazer benefícios, mas diz que a comunidade precisa de investimentos mais urgentes de infraestrutura que não foram feitos.

“A gente vai ter essa estação linda, mas logo abaixo temos uma lixeira, criação de porcos e cavalos. O pessoal passando por cima no teleférico vai ver a imundície que está a comunidade”, diz, queixando-se de que muitas obras prometidas dentro do Programa de Aceleração do Crescimento não foram cumpridas. 

Teste
 

Presidente da Federação Municipal de Favelas do Rio, que tem 629 comunidades filiadas, Mario Jorge Pita Silveira considera que a mobilidade oferecida pelo teleférico é importante diante da extensão do Complexo do Alemão, que abrange 13 favelas. Mas levanta dúvidas sobre a eficácia do meio de transporte no dia a dia, já que cinco das seis estações ficam no alto de morros, o que poderia dificultar o acesso de moradores.

“Já que o governo investiu tanto no teleférico, teria que ter dado alguma forma para o pessoal que usa a estação subir e descer o morro, porque as ladeiras são muito íngremes”, diz. 


O transporte por teleférico foi inspirado no modelo aplicado com sucesso em Medellín, Colômbia

Mototáxi, vans ou kombis são os meios de transporte informais que, até agora, eram a única opção para os moradores dentro do Alemão. Uma viagem sai a R$ 2 – ou R$ 3 com sacolas, diz a moradora Wellicar Araújo da Silva. “Eu usava muito o mototáxi e agora vou usar o teleférico”, diz.

O novo sistema terá tarifa unitária a R$ 1 e os moradores poderão se cadastrar para ter direito a duas passagens gratuitas por dia. O bilhete do trem metropolitano também dará direito ao uso do transporte, que tem uma das estações integradas à estação ferroviária de Bonsucesso.

Após três anos de obras, o teleférico começa a funcionar nesta sexta-feira, em fase de adaptação, com funcionamento apenas quatro horas por dia no primeiro mês. O tempo de operação diária aumenta gradualmente até novembro, quando começa o funcionamento pleno, das 6h às 21h, durante a semana, das 8h às 20h, aos sábados, e das 9h às 15h, aos domingos.

Além das seis estações concluídas, o governo do Estado estuda possibilidade de erguer outras duas na região, na Igreja da Penha e no NorteShopping. O teleférico tem capacidade para transportar três mil passageiros por hora e percorre um trajeto de 3,5 quilômetros. A viagem da primeira à última estação tem duração prevista de 16 minutos.